Capítulo 78

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Algumas manhãs depois, nada havia mudado e o coração de Luísa estava cada vez mais angustiado. A cada bipe que o celular dava, Otto se transformava, ficava sério, assumia uma aparência de quem estava furioso, quando o celular tocava ele sumia pela casa para que ninguém escutasse sua conversa.
Por sorte Poliana mal tinha tempo para perceber algo, estava em semana de prova, então só se dedicava a isso. A Liv acabara de entrar na fase mais complicada, a fase dos dois aninhos. Tudo era motivo para birras e choros. Seu temperamento forte e autoritário não deixava dúvidas de quem ela era filha. E Luísa já estava ficando maluca com isso. Tentava corrigir, negar quando ela queria algo, porém o pai sempre ia lá e fazia o que a menina queria, apenas para evitar seus choros.

—Assim fica impossível controlar ela, Otto. -diz já perdendo a paciência
—Ela é só uma criança Luísa. -rebate ele

Já sabendo o desfecho que aquela conversa tomaria, Luísa chama por Sara e pede para que ela leve Olívia para o quarto. Com a ajuda de um brinquedo a robô consegue levá-la sem qualquer tipo de recusa por parte da menina.

—Uma criança mimada, que está se tornando extremamente chata. -retrucou assim que a filha sai
—É da nossa filha que você está falando.
—Exatamente, "Nossa", e eu não consigo impor limites por que você simplesmente não me dá espaço para isso.
—Quer saber Luísa, faça o que você achar melhor, mas se ela chorar eu vou intervir.
—A questão é essa Otto. Ela vai sempre chorar por que sabe que você vai fazer o que ela quer. -passa as mãos no cabelo, claramente impaciente
—Quer saber, vou trabalhar na empresa. Aqui está impossível eu me concentrar. -ele desliga o tablete
—Vai, vai lá. Aproveita e pede para a Tânia te ajudar. Ela não é uma excelente funcionária ? Caso contrário você já teria demitido, não ?

A simples menção do nome da Tânia fez os olhos azuis de Otto oscilar de raiva. Ele se levantou do sofá e encarou Luísa com fúria, embora a causa de sua raiva não seja a mulher a sua frente, tudo o que ele queria era esquecer a Tânia e lá estava ela sendo citada por sua mulher. Diante daquele olhar, Luísa recuou dois passos. Quando Otto finalmente volta a falar, sua voz carregava um rancor fora do normal.

—Você tem razão Luísa, ela é exemplar em seu trabalho. Porém foi o maior erro que cometi em toda minha vida. E sim, já teria demitido se pudesse fazer isso.
—O que você quer dizer com isso Otto ? -pergunta intrigada
—Nada. Me dê licença, vou para o quarto.

A passos firmes Otto caminha para o quarto, deixando Luísa completamente perdida, sem saber o que acabou de acontecer naquela sala.
Sem saber o porque daquela reação dele.

No hora do almoço apenas Luísa e as filhas estavam à mesa, Otto havia enviado uma mensagem de texto avisando que não almoçaria em casa por causa de uma reunião importante. Desconfiada, Luísa liga para a ex cunhada Fernanda, que confirma a reunião.

—Mas por que a pergunta ? -indagou Fernanda, curiosa
—Por nada ! Obrigada Fernanda. -Luísa estava prestes a desligar quando escuta o grito de Fernanda
—ESPERA !
—O que foi ?
—Antes de qualquer julgamento, tenha plena certeza Luísa. Cuidado que cobras matam abraçando. E que um corpo bonito muitas vezes pode esconder a pior arma de destruição. -diz Fernanda, evasiva
—O que você quer dizer com isso Fernanda ? -pergunta Luísa, confusa
—Você descobrirá. -diz apenas e desliga

Depois das palavras de Fernanda, Luísa perdeu completamente a fome. Após o almoço as crianças brincavam em cima do tapete na sala, enquanto Luísa lia no sofá. De repente a campainha toca e Sara anuncia que Claudia e Joana estavam na porta, com a autorização de Luísa, Sara as deixa entrar.

—Que surpresa ver vocês ! -exclama Luísa se levantando

Bastou ver a tia entrar na sala que Olívia deu uma carreira e se jogou nos braços dela, Claudia a pegou no colo e encheu a menininha de beijos.

—Viemos ver o que está acontecendo, já que você se esqueceu que hoje teríamos o almoço das garotas, lá na minha casa. -constata Joana
—Me desculpa meninas. Esqueci de verdade.
—Luísa, o que está acontecendo minha amiga ? Ultimamente você anda distraída, distante. -diz Claudia pondo Olívia de volta no tapete

Luísa estava pronta para responder quando percebeu o olhar interrogativo da sobrinha. Ela queria desabafar, mas não podia fazer isso na frente de Poliana.

—Poli meu amor, você pode ir brincar com a Liv lá em cima ?
—Claro tia. Vem Liv, vamos buscar um lanche e assistir desenho. -a menininha deu a mão para a irmã e a seguiu

Luísa encarou as costas das meninas até elas sumirem no corredor, então caiu pesada no sofá, suspirando alto e escondendo o rosto atrás das mãos. Ao tirar as mãos do rosto as amigas puderam ver uma Luísa abatida e cansada. Logo se apressaram e sentaram uma de cada lado dela a envolvendo em seus braços.

—Claramente você não está bem. Conta o que está acontecendo. -pede Claudia
—Acho que o Otto tem uma amante. -Luísa praticamente jogou as palavras que estavam entaladas a muito tempo em sua garganta

Perplexa, Joana arregala os olhos encarando a amiga e a Claudia começa a rir, sem acreditar no que a amiga acabou de dizer.

—O Otto, uma amante ? -era uma pergunta retórica, então ninguém respondeu. —O Otto é o homem mais apaixonado que eu já vi. Te da presentes caríssimos e de excelente bom gosto, te comprou até a mansão D'Avilla novamente. Faz tudo o que você quer, não acredito que ele esteja fazendo isso. -observou Claudia —Afinal o que aconteceu com a mansão ?  -pergunta por fim
—Está fechada . Uma equipe de limpeza vai lá a cada quinze dias fazer uma faxina geral para manter a casa sempre limpa e organizada. -explica Luísa e Claudia maneia a cabeça aprovando
—Oh Lú, pra falar a verdade eu também não acredito que o Otto seja capaz disso. -admite Joana. —Ele sempre tratou todas as funcionárias com total respeito, de onde você tirou isso ? -questiona
—A funcionária nova. -diz somente, e pareceu justificar tudo
—Ah, agora eu entendi ! Escuta aqui Luísa, a Tânia é uma interesseira que só quer da o golpe do baú. -afirma Claudia irritada
—Para falar a verdade, eu já vi sim muitas vezes ela se atirando para cima do Otto. Mas ele sempre se manteve firme e profissional, pelo menos em nossa frente. -diz Joana e Luísa a encara surpresa
—O que a Joana quis dizer é que não tem motivos concretos para essa desconfiança. -apazigua Claudia, direcionando um olhar de repreensão para Joana
—Exatamente isso que eu quis dizer Lú. Desculpa, me expressei mal.  -admite Joana, arrependida
—Vamos fazer o seguinte. Eu vou levar as meninas para a minha casa e vocês dois podem ter uma noite romântica. O que me diz ? -sugere Claudia
—Não sei amiga. Não quero te dar trabalho. Se bem que estamos mesmo precisando disso. -admite Luísa sorrindo tímida
—Então está decidido ! -exclama Claudia

As amigas ainda passaram alguns minutos conversando sobre coisas aleatórias, até histórias do passado vieram à tona arrancando gargalhada de todas. Poliana e Olívia foram com Claudia para a casa dela, iriam passar o restante do dia e a noite com a tia.
Assim que saíram Luísa se apressou para organizar tudo, preparou um jantar especial e ordenou a Sara que não avisasse ao Otto que ela estaria em casa, queria fazer uma surpresa para ele. Mas pediu para ser avisada assim que ele chegasse em casa.
E assim Sara fez. Quando avisou a Luísa sobre a chegada do patrão Luísa estava entrando no banho. Ela se apressou, queria chegar na sala antes que ele pudesse ver a surpresa na cozinha. Luísa estava se arrumando quando escuta o bipe sonoro da campainha ecoando pela casa. Se tinha alguém na casa certamente ele iria se ocupar, com isso ela teria mais tempo para se arrumar. Luísa só pediu mentalmente que a visita não demorasse. Passados uns trinta minutos, Luísa estava maquiada e totalmente pronta, a essa altura a tal visita já teria ido embora.
Luísa desceu as escadas a passos ansiosos, tudo o que ansiava era se jogar nos braços de seu amor.
Porém ao chegar na sala, a sensação que sentiu foi a perda total do chão em que antes estava pisando com tanta firmeza. Luísa precisou juntar todo seu alto controle para não permitir que seus joelhos cedessem e ela desabasse no chão.

Continua ...

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