Capítulo 4: De um lugar distante em meus sonhos.

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Tudo parecia meio borrado, realmente desfocado. No rádio por algum motivo desconhecido tocava uma musica clássica. As imagens pareciam em câmera lenda ao som da musica.

-Essa musica... Silencio de Beethoven -

Will parecia não ter completo controle sobre seu corpo, mesmo o fato de saber que musica era aquela o deixou menos assustado do que o que veio a seguir: ele percebeu onde estava.

Baixando a cabeça e olhando para suas mãos pequenas, mesmo estando de pé, sua visão parecia estar mais perto do chão do que de costume. O chão era vermelho, feito de pisos de encerar, o antigo e famoso "tijolão", típicos de casas antigas do Rio de Janeiro. A luz do sol passava pela janela lateral, o cheiro de cera deixava claro que não fazia muito tempo que alguém tinha limpado o local.

Essa com certeza era a casa de sua avó. Uma figura quase mítica que jazia esquecida em sua mente, pois a ultima vez que a vira...

Tudo era lento nesse ambiente, era como se a musica ditasse o ritmo, até mesmo os movimentos que seu corpo faziam estavam na velocidade, melódica e constante da musica.

Will movia seu olhar de suas mãos para a frente, era lento mas constante, seu corpo parecia preso, como se todo peso do mundo estivesse sobre ele. Cada metro que sua visão cobria fazia com que seu coração saltasse, ele sabe o que acontece agora, ele já viu essa cena muitas vezes em seus sonhos, mas nenhuma era como agora.

Primeiro foi um braço esticado no chão que se projetava de uma porta lateral, o corpo estava do lado de dentro e não podia ser visto do angulo do garoto, sangue era como água que se misturava a cor do piso. A cor do braço era preta, a pele enrugada, as unhas sempre bem feitas estavam agora lascadas, demonstrando o quando essa pessoa lutou. Will sabe quem esta deitada ali, mas o terror verdadeiro estava por vir.

O movimento de seu rosto continuou, permitindo que a visão cobrisse mais da casa, a alguns metros da posição do garoto ele começou a ver, primeiro um par de pernas deitada no chão, e do seu lado quatro pessoas estavam em pé, essas pessoas usavam barras de metal para bater naquele que era o dono do par de pernas.

Squish... squish...squish...squish...squish...squish...squish...squish...squish...

o sangue espirrava e manchava a roupa dos agressores. Uma gota de sangue viajou através do espaço da casa, pousando no rosto do garoto, era quente, e escorreu rapidamente como uma lagrima até o queixo do menino.

Não existiam sons de grito, apenas o som da batida do metal seguido do esguicho.

squish...squish...squish...squish...squish...squish...squish...squish...squish...

Will queria correr, queria gritar, mas ele era apenas um espectador. Ele seguiu o roteiro, indo em direção a porta mais próxima, o local de onde o braço se projetava, pode ver agora completamente, o corpo de sua avó jogado no chão, um buraco que não deveria existir estava entre as sobrancelhas dela, um material branco estava vazando alem do sangue, mas os passos do menino continuaram.

Dentro do quarto a cena que coroou essa tragedia: Um homem, que poderia ser seu tio visto que também era negro, estava sobre sua mãe, e a estuprava violentamente, o rosto da pessoa que o menino mais amava estava virado para o lado aparentemente sem vida em seus olhos, enquanto aquele homem gemia e gritava, o braço dela estava torto para o lado, em uma posição que não deveria estar, pendia frouxo, da ponta dos dedos sangue pingava.

Neste momento um homem que assistia veio até o menino, que estava travado com a cena, usando um único soco derrubou a criança de 4 anos no chão.

No momento que Will caiu inconsciente no sonho ele abriu os olhos e viu Marcos de frente para ele, eles estavam na despensa.

Will ainda estava assustado, ele nunca lembrou com riqueza de detalhes tudo o que acontecera naquele domingo, e a musica, ele não entendia aquela musica, e como ele sabia o nome dela, aparentemente ele nunca havia escutado essa musica antes, mas ele tinha certeza que ela existia, e que o nome dela era silencio.

Sangue suor e Morte: Livro 1 DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora