8º interlúdio: Um fragmento de sonho.

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Will estava em um profundo estado meditativo, era tão profundo que a noção de tempo se esfacelava. Na realidade ele estava entendendo o conceito por detrás do tempo, pelo menos a lei do tempo que podia ser compreendida. Enquanto mergulhava de forma tão precoce na lei do tempo quanto foi na lei do espaço, ele vislumbrou um mundo de informações, era um fluxo de tempo, eram vidas, histórias que ele não conhecia, as histórias fugiam rapidamente como filmes que estão acelerados, mas em uma dessas histórias ele se viu preso. Lá ele encontrou um fragmento de tempo que lhe pertencia, mas que ele não sabia existir. Naquela história ele via uma mulher que fugia pelas ruas de uma movimentada Rio de Janeiro, ela segurava um garoto desacordado. Procurou ajuda em bares, restaurantes, com transeuntes, mas parecia que ninguém queria se envolver com dois maltrapilhos, ainda mais vendo o estado em que o menino estava, ele tinha claramente sangue em suas roupas. Depois de muito correr chegaram a uma upa, um pronto atendimento. Lá o menino foi tratado da forma que dava, sua mandíbula que tinha se deslocado por um impacto grande, foi recolocada no lugar. O sangue em suas roupas claramente não pertencia a ele, os médicos queriam manter os dois ali pra mais averiguações, já tinham até mesmo chamado a polícia, sabendo disso aquela mulher rapidamente pegou o menino da maca em que estava e com a garra de uma mulher desesperada rompeu o cerco dos funcionários para chegar até a rua. Na rua em plena fuga encontrou uma van, entrou nela sem olhar para trás, ao mesmo tempo que um baque abafado soou, e ela balançou. O motorista depois de ouvir o barulho não pensou duas vezes e pisou no acelerador. Aquela van tinha pouca gente dentro mas todas olhavam com curiosidade e nojo para a mulher ofegante carregando um menino, que estava jogada no chão do automóvel. Ela parecia sentir dor e respirava de forma difícil. Ela murmurava pedidos de ajuda e socorro mas ninguém mexeu uma palha. O motorista não quis saber, ele não teve tempo de olhar para averiguar o que estava acontecendo dentro do carro, ele apenas ouviu o barulho abafado muito característico e resolveu seguir sua viagem. Durante a viagem os passageiros o alertaram da mulher e da criança. Em uma inspeção mais detalhada os passageiros notaram que ela estava ferida, sangue vazava de suas costas, aquele barulho foi um tiro. O menino estava ainda inconsciente e a mulher o acariciava enquanto cantarolava uma melodia, era a música Silêncio, ela continuou fazendo aquilo até que sua força se foi, ela deitou com seus olhos fechados e um sorriso nos lábios, aquela mulher estava morta.
Todos perceberam aquilo, a maior questão aí era o que fazer agora? Todos estavam preocupados em como lidariam com aquele cadáver mas algo parecia estranho nesse grupo, não existia desespero, na realidade não era algo estranho para aqueles passageiros, muito menos para aquele motorista.

- Senhor, o que fazemos com essa mulher ? E essa criança aí? Até quando não procuramos essas pestes nos encontram.

O motorista que também trabalhava como zelador perguntou aos passageiros que estavam na van. Os passageiros usavam um uniforme escrito "Orfanato Santa Isabel".

- Viemos buscar aquele ali de trás e acabamos com outro fardo. Não tem problema, nosso orfanato só tem uma criança até agora, será bom incluir esses dois. O cadáver dessa mulher basta jogar da serra durante a viagem, ninguém tocou nela, use a luva e descarte ela. Antes verifique com cuidado se tem algum pertence ou algo que a identifique para colocarmos nos registros.

O homem que falava era branco e parecia uma pessoa severa, ele era o dono do orfanato e apontava para o banco traseiro onde outra criança estava dormindo aparentemente em um sono tão profundo que ela só podia estar sedada.
Chegando em uma parte na serra o motorista encontrou a van em meio a um nevoeiro. Entrou na parte de trás do carro e com luvas começou a verificar o corpo da mulher. No corpo dela ele encontrou uma carteira com identidade e algum dinheiro. Marotamente guardou o dinheiro e depois disso jogou o corpo da mulher do alto da serra. Voltando para dentro do carro ele segurava a identidade dela nas mãos, ele sentou no banco do motorista e ligou a van. Depois que o carro começou a se mover ele disse para seus patrões:

- Ela devia ser parente do garoto. O nome dela era Lena.

Depois disso a escuridão tomou a visão de Will e ele continuou a viver histórias e vidas que não eram dele.

Sangue suor e Morte: Livro 1 DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora