Capítulo 108

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CAPÍTULO 108

Ruthy tentou decifrar o sentido da frase de Maria Marta. Se, pelo menos, o choro da escorpiana cessasse, ela poderia indagar de qual vingança a beata estaria se referindo. Era dia 12 de setembro de 2019 e, inevitavelmente, pela semelhança de datas, Ruthy lembrara de como a sua primeira transa fora acompanhada de tragédias.

A então melhor amiga de Marta tinha um objetivo bem claro em sua mente: entrar oficialmente para a família Garuzzo. Sim, ela fora bastante egoísta por não está ao lado que tinha rompido o hímen acidentalmente enquanto orava na capela do hospital. "Acidentalmente?", indagara Ruthy para si mesma. Não, não tinha o menor sentido...

"Enquanto eu tirava a minha roupa na piscina para o seu irmão, ela chorava por ter perdido o que considerava mais sagrado. Não, não foi acidentalmente. Alguém tinha feito aquilo com ela e mais alguém tinha feito naquele instante de novo", concluiu a praticante da doutrina espírita. "Ela não pode perder a virgindade nem com o homem que amava", pensou, por fim, Ruthy.

– É impossível não me sentir culpada. Eu amaldiçoei, sem querer, minha família. Desprezei as crianças que saíram do meu ventre, pondo as consequências dos meus pecados neles. – Desabafou a escorpiana.

– Você não tem culpa do que te fizeram. Nunca. Mas a culpa que você fala não é de hoje, né? – Perguntou Ruthy.

– Não. – Respondeu. – Eu preciso te contar o que realmente aconteceu no dia 04 de setembro de 1994.

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Simão não conseguiria dormir naquela noite. Mal ele sabia que teria mais outros dias de insônia por um problema do presente, até então ocultado por Luís Cláudio e Helionora. De qualquer forma, o clima de romance fora temporariamente substituído pela apatia que transbordava do coração do empresário.

– Eu criei um monstro e não percebi. – Desabafou Simão. – Eu devia tê-lo ensinado os meus valores morais, tê-lo criado como meu filho, porém a minha mágoa pela Maytê falou mais alto e... Eu mereço isso, mas minha filha não.

– Simão, nem sempre podemos prever que caráter uma pessoa terá no futuro. Eu, por exemplo, pensei que nosso Gareth iria ter uma índole sofrível, mas ele me surpreende a cada dia provando o contrário. – Confessou Asia.

– Eu sabia, lá no fundo, que Mikhael se tornaria mal. Maytê nunca teve bom caráter e o Lúcio... Você sabe, né? Era difícil encontrar algo que prestasse naquele homem. Eu suspeitava do que o Lúcio seria capaz... A Gina havia me alertado, pouco depois do nosso casamento. Contudo, preferi manter as aparências de empresária gente fina e ignorei a obsessão que a Maytê acumulava por mim. – Relembrou Simão. – Tenho muito segredo para lhe contar, amore mio. Quando eu e Gina nos apaixonamos, correram boatos lá em Gaeta que ela seria filha do meu pai. Ela veio morar abruptamente lá em casa e as más-línguas julgaram isto. Meu pai sempre foi um tarado. Felizmente, antes de morrer, mamãe revelou que Gina era sua sobrinha e quem violentou Augusta foi meu tio Hermes, não Zeus. Mesmo assim ficamos com receio do julgamento dos gaetanos.

– Mas o que isso tem a ver com a Maytê ou com o Lúcio? Pelo que eu saiba eles nasceram aqui em Salvador mesmo, né isso? – Observou Asia.

– Eles estavam como turistas lá em Gaeta... Bem, Lúcio conseguia disfarçar bem a inveja que sentia pela paixão que eu e Gina sentíamos um pelo outro, mas decidiu tirar uma "casquinha" de Gina na véspera de nosso casamento. Ele pediu para se deitar com a Gina para esconder o segredo do nosso parentesco tão próximo. – Revelou o empresário. – Ela estava disposta a aceitar, mesmo a contragosto, mas daí a Maytê descobriu a armação do então namorado. A partir deste dia Maytê ficou obcecada por mim, como se casar comigo lhe rendesse um triunfo sobre seu falecido marido.

Sol em VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora