CAPÍTULO 14
Já passava das 02h00 da manhã do dia 21 de janeiro de 2013 quando Simão teve mais um flashback. Ela estava linda e radiante e com aquele olhar de quem lia as pessoas. Aquela noite de amor seria perfeita, não fosse o velho conhecido no mesmo motel em que frequentavam. O estúpido homem parecia seguir Simão e o amor da sua vida não por propósitos morais, mas sim por puro prazer de encurralar e ameaçar as pessoas.
O sexo havia sido quente e imprudente e, seria apenas mais uma noite louca de aventuras, se não fosse o detalhe mais importante: o velho conhecido estava morto no quarto de motel ao lado. Simão jamais esqueceria daquela noite por inúmeras razões e muito menos da pessoa que teve que partir cerca de um mês depois. Aquela fora a última vez que Simão transou com o grande amor de sua vida...
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Leônidas ficou feliz em receber o luxo de ganhar uma festa de aniversário, mesmo que pequena. Não era todo ano que ele poderia se gabar de comemorar mais um ano. Por exemplo, podemos destacar os quase dois anos seguidos que ele ficara no abrigo dos desencaminhados. Fora lá que ele e Gareth se conheceram e trocaram confissões, ora no quarto ora nas cabines dos banheiros.
– Gaetanio, você não acha que é uma péssima ideia comemorar meu aniversário no dia em que sua Mona vem te dar uns cheiros? – Perguntou Leônidas a Gareth.
– Eu achei uma ideia brilhante de minha parte pois assim terei duas testemunhas oculares da teimosia da Mona: você e Stella. – Disse Gareth baixinho ao amigo, para que mais ninguém da S.V. Comunicações.
– Eu não queria ser preso, assim, faltando quatro dias pros meus 18 anos, sabe? Por ser cúmplice da Mona escondendo seu corpo nu na mochila dela. – Continuou Leônidas.
– E você não vai... Eu não vou transar com ela. Você sabe de quem ela é neta, não sabe? – Falou Gareth, com um som quase inaudível.
– Duvido de ti, meu amigo. Duvido muito.
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Eram oito horas da noite quando Simonetta chegou a Stellium com uma saia rodada, uma camisa vermelha e uma tiara da mesma cor, enfeitando seus curtos cabelos castanhos. Outras adolescentes, de nariz empinado, como Nathalia Muniz, poderiam acusá-la de se vestir como uma criança ainda, mas isso era mentira. Simonetta era uma mulher em ascensão, uma mulher prestes a experimentar o que era o amor.
– Cadê o Gareth? E por que você está vestida assim, Johana? Vai fazer algum ritual para a Deusa com esse vestido amarelo berrante? – Perguntou a jovem Garuzzo.
– Vamos para o aniversário do Leônidas, que será na kitnet do seu amado.
– E o meu encontro? – Perguntou Simona. – Agora você e Leônidas farão o papel de pais ciumentos e vigiarão o meu namoro?
– Pedido do próprio Gareth. Aliás, falando de seus pais, que desculpa você inventou para eles?
– Para todas as informações fui ao cinema com Nathalia e Izabel e vou dormir na casa da Nathy.
– Não, você não vai dormir na casa da "Nathygareth". – Ordenou Stella.
– Stella, por favor... – Implorou Mona.
– Ou você dorme em minha casa ou volta para a casa dos seus pais. – Intimou a feiticeira. – Não tem uma terceira opção.
– Droga! – Exclamou a adolescente.
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A festa estava quente e Leônidas, já entendido da regra da cadeia, foi tomar um refrigerante com Stella. Enquanto isso, Gareth e Simonetta estavam se beijando continuamente há exatos trinta e dois minutos. Uma pequena nota: quando Leônidas pensava em regra da cadeia, não era em referência à fórmula ensinada nos cursos de Cálculo, e sim a ensinada nos cursos da vida. Sim, ele também estava com medo de ser acusado de aliciar menores.
– Vamos nos beijar, Stellinha? – Ofereceu-se Leônidas.
– Não. – Respondeu, decidida, Stella.
– Quantos beijos eu já te dei, Monetta? – Perguntava Gareth à amada.
– Perdi as contas. – Confessou a garota.
Não pensem mal de Gareth. Ele queria ser, oficialmente, o namorado de Simonetta Garuzzo. Mas, para isso ele deveria deixar a empresa do avô da menina e ascender academicamente, para que seu passado não parecesse tão tenebroso.
– Simona, eu quero que você saiba que eu vou te pedir em namoro para o seu pai pessoalmente. Mas antes eu tenho que sair da empresa do seu avô e arranjar um novo emprego.
– Não adianta nada você sair da empresa de mio nonno e enfrentar mio padre enquanto esconde um segredo grande de mim. Papai pode te matar.
– Simonetta, as coisas não são tão simples como resolver uma equação de segundo grau. – Comparou o filho de Asia.
– Somos namorados, você tem que confiar em mim.
– Somos ficantes, Mona, ficantes. Eu serei teu namorado quando toda sua família saber que estamos juntos.
– Já ouviu falar de namoro escondido? E se você e o Leônidas realmente foram presos, por que não me contaram? – Indagou a neta mais velha de Simão. – Fica mais fácil.
– Simona, o que você sabe é superficial e, mesmo se a gente te contar algo a mais, ainda vai continuar sendo superficial. A verdade inteira é muito dura para uma garota de 14 anos criada numa mansão de luxo com tudo que sempre quis, inclusive o Gaetanio. – Leônidas defendeu o amigo.
– Stella, você pode me contar? – Implorou a menina.
– O que eu sei é tão pouco o quanto você sabe. – Comentou Stella.
– Amor, um dia toda minha vida será um livro aberto para você, eu só preciso de um tempo. – Prometeu Gareth.
– Está bem. Eu espero. – Respondeu a menina, mesmo inconformada. – Mas por que não tem nenhuma foto de seus pais no seu apartamento? – Perguntou Simonetta.
– Eu não tenho pai. Sou filho único de minha mãe. Tenho um tio e uma prima. Ela tem a sua idade e se chama Alasca.
– Eu quero conhecer tua família. – Confessou Simonetta, sorrindo para o namorado.
– Isso só será possível quando eu não for apenas um empregado para a sua família e eu minha mãe nos darmos bem.
– Por que vocês se dão mal? – Indagou a irmã da Samantha.
– Não nos damos muito bem, apenas. – Reforçou o geminiano. – De mal a gente não está, só não somos os melhores amigos.
– Simoninha, tem um detalhe complicado que sua família hipercatólica não ia gostar na mãe do Gareth. Ela é uma bruxa! – Interferiu Stella.
Simonetta abrira a boca, surpresa, finalmente entendendo por que Gareth lhe enfeitiçara apenas com os belos olhos azuis-esverdeados.
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Sol em Virgem
General FictionVirgo, uma misteriosa bruxa da capa preta, não se cansava de soltar maus agouros para cima de Gareth. Sua primeira profecia foi um "Cuidado com as semelhanças" lançada no dia em que Gareth chegara a Salvador com seu amigo de cárcere, Leônidas. Depoi...