CAPÍTULO 110
Às 04h30 da manhã do dia 22 de setembro de 1970, em Vitória, nascia uma estrela super virginiana na Terra. Seria libriana, se tivesse nascido algumas horas depois, mas ainda fortemente protegida pela constelação da donzela justiceira. Do terceiro decanato, era uma romântica incorrigível, tanto que sua história de amor merecia ser retratada em canções e poesias épicas para todo o sempre. Fazia 49 anos, mas parecia ter vivido, em menos de meio século, milhares de vidas diferentes, tantas versões suas...
– Não sairia da cama jamais se não fosse o trabalho chamando... – Anunciara Simão Garuzzo. – O aniversário de il mio amore deveria ser contemplado e até marcado como feriado nacional.
– Querido, você já tirou dez dias folga desde que nos reconciliemos. – Observou a aniversariante. – As questões burocráticas não irão se resolver sozinhas. Sinto que seus filhos que seus filhos têm algo importante para contar.
– O que eu poderia ser mais digno do meu tempo do que nosso amor? – Declarou o empresário. – Se for para ser assim, gostaria que você viesse comigo, como minha futura legítima esposa.
– Não, não devo me meter nos seus negócios. Se nem Gareth, que é economista e seu herdeiro por direito, não pretende ir eu não irei.
– Eu gostaria tanto que Gare voltasse a trabalhar na S.V. Comunicações, desta vez como meu filho... – Revelou o italiano.
– Não podemos dar e nem esperar passos maiores que as pernas. – Aconselhou Asia, antes de despedir-se momentaneamente do namorado.
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Dessa vez Simão desejara que Asia estivesse errada e que a insistência de seu futuro cunhado (sim, Silvana aceitara o pedido de casamento de João Muniz) fosse apenas para anunciar-lhe a proposta de uma sociedade. Mesmo com tais pensamentos otimistas algo incomodara bastante Simão: a presença em peso de sua família quase toda. Além disso: Por que Maria Marta não viera à reunião e entregara suas responsabilidades a Eden? Ruthy estaria ali de porta-voz da segunda filha do italiano?
– Bom dia família. Queria pedir-lhes desculpas pelo meu sumiço nesses dias diante dos últimos acontecimentos. – Iniciou Simão. – Mesmo não sendo muito bom em adivinhações, chuto que Muniz pretende me convencer, com a ajuda de vocês, a ser finalmente sócio da Didática de Munique, visto que entrará oficialmente para nossa família.
– Sim, é um desejo escancarado que façamos uma sociedade mas, meu amigo, infelizmente por enquanto isso não é possível. – Respondeu João Muniz.
– Pai, eu sinto muito que o senhor venha descobrir certos detalhes de sua empresa desse jeito... – Começou Luís Cláudio. – No início planejei para que só eu e Helionora soubéssemos de tudo que estava acontecendo. Mas daí a Stella conseguiu tirar o segredo de mim e a situação foi se espalhando até que todo mundo soubesse da delicadeza desta questão, menos você. – Confessou o historiador. – Eu deveria ter sido mais responsável e ter fiscalizado todas as transações da S.V, mas eu não sou culpado da forma ingênua com que o senhor consegue se ludibriar.
– Luís, você pode ser mais específico? Do que exatamente vocês estão falando? – Indagou o namorado de Asia.
– Pai, Mikhael conseguiu o que queria. O infiltrado dele sabia seu ponto fraco era Asia e lhe ofereceu uma sociedade que te fizesse sentir menos culpado de não estar com ela todo esse tempo. – Observou Helionora. – O senhor se colocou como fiador da Primavera Brasil, empresa essa que não existia. Acontece que a Primavera Brasil fez uma dívida de 27 milhões de reais e o valor de mercado da nossa empresa é de oitenta milhões. O Lully conseguiu tirar cinco milhões da S.V. e o João nos emprestou mais cinco milhões. Devemos pagar esses 27 milhões até dia 31 de dezembro, senão a S.V. será penhorada...
– Ou seja, Simão de Virgem caiu... – Comentou Eden. – Na do farsante, óbvio.
– Mas como... Como eu fui cair em um golpe tão baixo?
– Vô, pai, família ... – Interrompeu Simonetta. – Eu sei que não entendo nada de negócios, mas peço a vocês tempo e paciência. Nós iremos conseguir esse dinheiro, nem que pra isso tenhamos que vender nossas mansões e outros bens, nem que um tenha que morar na casa do outro ou alugar um apartamento de classe baixa. Eu só peço tempo. – Concluiu a virginiana.
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Simonetta já tinha ganhado (ou perdido) tempo o suficiente com as negociações com Pietro Altavilla (e com os enjoos matinais). Agora só lhe restava esperar para que a lábia de Gareth com o primo fosse boa o bastante e que o geminiano conseguisse a transferência para aquele 08 de dezembro mesmo.
– Nossa Simonetta, não sabia que você estava grávida de novo. – Notou Nathalia, que agora fazia de si mesma figurinha carimbada na S.V. Comunicações.
– Não, não. Essa barriga aqui é apenas por causa de uma melancia que eu engoli e ainda não botei para fora. – Arengou a mãe de Gabriel e de Olívia.
– Se a S.V. fosse tão boa em gerar dinheiro como você é de gerar filhos, vocês já estariam livres dessa dívida desde setembro. – Debochou Nathalia.
– Espera aí. Eu preciso defender os meus amigos. – Interveio Leônidas, que estava acompanhando Samantha até a empresa de telecomunicações. – Se Gare e Mona estivessem realmente focados em gerar crianças, esse não seria o terceiro filho deles e sim o sexto.
– Leo, eu só não te aleijo porque eu sei que a idiota da minha irmã é quem iria limpar suas partes íntimas! – Revidou.
– Eu sou o quê, Simonetta? – Doeu-se Samantha.
Antes que a discussão se tornasse mais acalorada, Gareth saíra da sala trazendo boas-novas.
– Mona, meu amor, prepare nosso passaporte. Mudaremos para a Itália ano que vem! – Exclamara. – Ah, também precisamos de um vice-prefeito.
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Os últimos três meses de Luís Cláudio só não foram piores que os quase sete meses que abrangeu a descoberta da gravidez de Simonetta, seu casamento e o nascimento de Gabriel. Pelo menos naquela época ele era o "vilão sem-noção que queria destruir uma linda tragédia de amor" e não o porto seguro da empresa da família que beirava à falência. Ainda eram necessários 17 milhões de reais para quitar a burrada que Simão Garuzzo e Luís Cláudio só conseguiria arranjar no máximo mais oito milhões até o final do ano. Será que valia a pena demitir funcionários para isso? Era realmente necessário vender as gigantescas mansões e patrimônios pela trama arquitetada pelo assassino de Marcelo? Será que a ruína não era a lição que a família Garuzzo de fato precisava?
– Sogrão, eu preciso falar com você! – Gritara o insistente Leônidas.
Aliás, por que aquela multidão de jovens com fogo e sem juízo estavam fazendo plantão na S.V. Comunicações? Aproveitando os últimos dias dentro da decadente empresa de telecomunicações?
– Inferno! A gente nem pode falir em paz? – Respondera o leonino. – Só falta me dizer que você engravidou a Samantha... Aí sim eu arrancaria o resto de cérebro que você tem.
– Não, a única filha sua que não sabe usar anticoncepcionais é a Simonetta. – Lembrou Leônidas. – A gente estava resolve problemas de ordem internacional e... Bem, a Stella mandou vocês transferirem todo o dinheiro da conta conjunta de vocês para o fiador. Simples.
– Stella aprendeu um feitiço de multiplicar dinheiro foi? Ou ela andou usando charme para convencer as pessoas a passarem dinheiro pra nossa conta? – Sugeriu o pai de Ágatha.
– Não, papai. Todos nós estávamos tentando resolver esse problema da forma mais lógica possível. "Três caminhantes de sangue antes do juízo final ..." Esse só pode ser o juízo final dos Garuzzi. – Revelou Simonetta. – "A maldição cessará quando o povo sofrido à sua terra voltar..." Eu e Gareth voltaremos para governar Gaeta, mas antes disso conseguimos vinte milhões, que são de indenização das terras da família que foram usadas por mais de 40 anos sem permissão. Destes 20, 17 estão na sua conta. Acabou, pai. O pesadelo acabou.
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Sol em Virgem
Ficción GeneralVirgo, uma misteriosa bruxa da capa preta, não se cansava de soltar maus agouros para cima de Gareth. Sua primeira profecia foi um "Cuidado com as semelhanças" lançada no dia em que Gareth chegara a Salvador com seu amigo de cárcere, Leônidas. Depoi...