CAPÍTULO 18
Gareth não sabia como explicar o vazio existencial no qual estava. Em frente à vitrine de um shopping, olhou para um pequeno par de brincos e pensou, imediatamente, em Simonetta: "Ficaria lindo nela".
Fazia mais de dois meses que o casal havia brigado e Gareth não sabia se teria volta. Ela fora bisbilhoteira, mas ele fora rude. Ela fora invasiva, mas ele tinha sido um bandido-mirim (e não gostava nada de se lembrar daquilo). Seu sonho de ter uma família estruturada estava prestes a morrer. Ele nunca teve uma família de verdade, já que sua mãe vivia em crises existenciais constantes e ele não conhecia seu pai. Casar e formar uma família com a neta do patrão era sua última esperança (não porque ela era rica, mas porque sentia por ela algo incapaz de mensurar em palavras). Apesar de sua desilusão, o infeliz sonhador teria que enfrentar a família Garuzzo na festa de aniversário de Samantha, irmã de Simonetta. "Vou ter que guardar esse amor só para mim, principalmente quando te ver", pensou o universitário enquanto se vestia de garçom.
****
Gareth tinha seus motivos para ser um rapaz desconfiado. De fato, ele confiara em seus colegas de reformatório e acabara estuprado por eles. Agora, sem explicação alguma, Marcelo parecia ser um santo intercessor de Gareth e Leônidas. Algo ali não estava certo.
– Leônidas, eu não confio totalmente nos Garuzzi. Eles nos dão uma semana de folga, para analisarmos documentos da empresa sob a ótica dos nossos cursos. E, do nada, nos chamam para o aniversário da netinha. Muito estranho. Será que não vão aparecer uns policiais me levando para um abrigo dos desencaminhados e você para a cadeia, por atentado ao pudor?
– A única pessoa que atentou contra o pudor foi a Simonetta. Essa, sim, vai para um abrigo dos desencaminhados. Talvez te levem junto para... você sabe, não sabe?
– Eu sou o empregado e ela a patroinha. Não temos nada mais e nada a ver. Menina chata aquela. – Disse Gareth, fingido.
– Eu não curo corações feridos e, te garanto, que escutar forró romântico também não. Então relaxa e vamos maratonar Game of Thrones mais tarde na tua kitnet.
– Leo, você acha que o Simão Garuzzo quer nos promover? – Indagou o capixaba, curioso.
– Talvez. Depois que você apareceu, com seus belos olhos, o número de funcionários triplicou. – Debochou Leônidas.
– E depois que você deu uma entrevista elogiando a empresa também. Algo não está fazendo sentido, sabe? Por que eles vão nos dar folga amanhã? E por que você está falando tão bem da S.V.? Eles são bons empregadores, mas... Leônidas, me fala a verdade, tem alguém lhe dando dinheiro a mais na empresa?
– Eu não tenho histórico de ladrão e muito menos a tendência de roubar livros. Já certos Gaetanios que estão ao meu lado...
– O Gaetanio nunca traficou drogas ou se prostituiu com mulheres de 60 ou mais. – Rebateu o filho de Asia.
– Chega, Gareth. Você passou dos limites. Precisamos pegar o ônibus e ir trabalhar. – Finalizou o aquariano.
****
Os Garuzzi do norte e os do sul estavam reunidos e Leônidas rezava para que tudo desse certo naquela noite. Em seguida, Leo avistara uma garota parecida com Simonetta (e com um potencial incrível de superar a beleza da neta mais velha de Simão Garuzzo). Estava trajando rosa e tinha os cabelos curtos, uma tendência que se repetia também na mãe da menina, Ruthy Garuzzo. Leônidas acrescentou às orações para aquele ser o aniversário de 15 anos da menina.
****
Leônidas, por pouco, não entrava em uma enrascada por causa de seu olho grande até demais. Ele tinha culpa se aquela formosura tinha bem menos de 14 anos? Disso não, mas tinha de desejá-la: ele era um homem de 18 anos.
– Onze anos? – Perguntou Leônidas, espantado.
– Sim, a irmã da Simonetta está fazendo 11 anos. – Respondeu. – Parece que minhas informações sobre a família são bem mais incompletas que as suas.
– Não é por mal não, mas beleza é algo hereditário nas mulheres daquela família. A vovó e até aquela muçulmana lá são bonitas. – Comentou Leônidas. – Agora os homens, cruzes, são a personificação do demo.
– Eu espero que você não tenha conhecido o demo pessoalmente. Você sabe o que eles fazem com os pedófilos na cadeia, não sabe? – Alertou Gareth. – E, além disso, eu soube que a tia da Simona usa lenços por fetiche, não por ser muçulmana. Ela é a parte mais terrivelmente católica da família.
– Sei, Gareth, mas você sabe que amo muito a Helionora e eu nem estava querendo beijar a sobrinha miudinha dela. Mas, só pela minha cultura geral, quero te fazer uma pergunta: dói muito?
– Se você quiser manter a sua cabeça exatamente em cima do seu pescoço, eu aconselho não me fazer esse tipo de pergunta até dia 10 de junho.
– O que é que isso, meu amigo, o que é que isso? – Respondeu Leônidas, fingindo medo do melhor amigo, logo após sendo interrompido por uma voz feminina.
Sim, isso mesmo, caro leitor. Leônidas não tinha chamado Gareth até ali só para perguntar sobre Samantha, mas também para reuni-lo com sua amada. Sim, o plano da virginiana tinha dado muito certo.
– Obrigada, Leônidas, por trazer o Gareth até o jardim! – Exclamou Simonetta.
– Você e Simonetta estão de conluio? – Perguntou Gareth, indignado.
– Não culpe ele, meu amor. O plano é meu. A ideia é minha. E o amor da minha vida é você, por isso não posso perdê-lo. – Concluiu a virginiana.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sol em Virgem
Genel KurguVirgo, uma misteriosa bruxa da capa preta, não se cansava de soltar maus agouros para cima de Gareth. Sua primeira profecia foi um "Cuidado com as semelhanças" lançada no dia em que Gareth chegara a Salvador com seu amigo de cárcere, Leônidas. Depoi...