Capítulo 13

176 79 127
                                    

CAPÍTULO 13

Simonetta era representada por Shaka,  o caveleiro de ouro mais incrível. O cavaleiro de Virgem era "o homem mais próximo de Deus", a reencarnação de Buda e um personagem fantástico (bem diferente de Máscara da Morte,  da constelação de Câncer, que não era um personagem tão legal assim).  Infelizmente, Simonetta já não queria conversar com o primo sobre esse assunto, o que deixava Eden bastante decepcionado. Até Maria Marta, que não gostava de nada ligado ao mundo pagão, prestava atenção ao que Eden dizia em relação ao tema. Por exemplo, toda vez que o garoto falava sobre seu cavaleiro favorito – e isso era feito quase sempre e sem parar – , sua mãe perguntava se o tal Shaka era uma mulher. "A pessoa mais próxima de Deus só pode ser a  Virgem Maria", dizia. Enquanto isso, Simonetta se distanciava cada vez mais de Eden, como se vivesse em outra dimensão e estivesse apenas de corpo presente entre seus familiares.

Bem, era Simonetta quem perdia ao deixar de ouvir as lições de Eden e o garoto, então, decidiu voltar a estudar o Teorema de Pitágoras e, por fim, Albert Einstein. "A morte não é o fim de tudo", tinha dito Buda à Shaka. Com certeza a morte não era o fim de tudo e Einstein estava cada dia mais vivo depois de sua morte.

– Nem todo triângulo tem a soma dos ângulos internos igual a 180 graus, Eden.  – Dizia Eden a si mesmo. – Considere um triângulo numa esfera e... não, isso não vai dar certo daquela forma Preciso estudar Carl Friederich Gauss, o cara que construiu uma nova geometria e permitiu Albert Einstein a desenvolver suas teorias da relatividade e derrubar Newton.

Eden estava maravilhado com fórmulas e teorias que sua cabecinha ainda não era capaz de entender. Por enquanto, ele estudaria o intelecto de dois dos maiores gênios da humanidade: Einstein e Newton. Como dizia sua tia Helionora, às vezes era preciso entender a mente de um homem para entender seus feitos e Eden estava disposto a ter esse trabalho primeiramente. Sua curiosidade fora instigada ainda mais por algo em comum entre os dois físicos: ambos possuíam traços autistas.

****

Luís Cláudio decidira aparecer na S.V. Comunicações e contemplar aquilo que era uma das poucas coisas bem-sucedidas em sua família: o sucesso financeiro. O historiador usava blusas e gravata lilás e esta cor realçava sua pele queimada de sol. Mirella, famosa por ser oferecida, ficara encantada com a visão e seguira o filho mais velho do dono, futuro administrador da fortuna toda.

– Senhor Luís, aceita um café? Um pão de queijo? – Disse Mirella, tentando ser gentil.

– Não, senhorita Mirella, obrigado. Tomei café em casa.  – Respondeu o herdeiro da S.V. Comunicações.

Enquanto isto, Gareth e Leônidas fofocavam sobre o movimento na S.V. Comunicações e claro que o assunto principal deles era Simonetta.

– O teu sogro chegou, Gaetanio.  – Alertou Leônidas baixinho para Gareth, enquanto trabalhavam.

– Sim. E eu não tenho nada sério com a Mona. Foram só seis beijos.  – Respondeu.

– Cuidado com a cabeça, amigo.  – Avisou o estudante de Administração.

– Será que Mona se inspirou na forma que Mirella se veste?  – Dizia Gareth sobre o vestido vermelho curto da colega, tentando mudar de assunto.  – Só muda a cor.

Neste instante, os amigos foram interrompidos por uma esperada visita. Leônidas viu-a primeiro que Gareth e desejava vê-la mais vezes, mas, infelizmente, sabia que ela não fora até ali por ele.

– Ih, Gareth, agora você está realmente encrencado.  – Alertou Leônidas.  – A deusa grega dos foras, Helionora, chegou e acho que foi para conversar com você.

Leônidas não sabia se era sensitivo, mas não custa reforçar que sua previsão estava totalmente correta.

– Já que Maomé não vai a montanha, a montanha vem ao Maomé. Quero falar com você, Gareth.  – Ordenou a filha mais jovem de Simão Garuzzo.

****

Helionora precisava confessar com Gareth. Já tinha visto casos semelhantes com o dele e a maioria convergia para um ponto em comum: o suicídio. Além disso, Gareth era jovem demais para ter vivido tudo aquilo e Helionora sentia um afeto por ele difícil de explicar.

– Então, Gareth, pode me explicar por que hoje você está mais estranho que o comum?  – Perguntou Helionora, recolhida numa sala vazia da empresa do pai com seu paciente.

– Os mesmos de sempre, Liô. Minha mãe nunca me contou sobre o passado dela, sobre a juventude dela. Fica difícil falar da minha juventude com ela, ela é uma pedra.

– Às vezes algumas coisas são difíceis de falar até pros nossos melhores amigos. Bem, não vamos falar sobre sua mãe, vamos falar sobre você agora. Tenho impressão que seu problema não se reduz só aos problemas com sua mãe. Você ainda sente algum afeto por aquela pessoa?

– Não, meus problemas não se resumem apenas à dona Asia Adams. Sim, eu sinto que ainda sinto algum afeto por ele, mas talvez seja porque eu veja ele com as minhas lentes, veja ele como eu. Acho que esse sentimento se aproxima mais de pena do qualquer outra coisa.

– Você devia aceitar que mesmo depois de três anos você ainda sente afeição por esse rapaz, Gareth, e isso não é tão normal assim. A Síndrome de Estocolmo é uma coisa muito difícil. Uma pessoa da minha família foi sequestrada por 17 dias e, mesmo depois de todo terror que passou, disse-nos que chegou a gostar de sua sequestradora.  – Confessou Helionora.

– Eu não vou mentir, Helionora: eu me sinto culpado por praticamente tudo que aconteceu comigo. E enquanto à sua família eu pensei que eles fossem mais unidos. Tipo, seus pais são separados?

– Pelo visto você não gosta muito de fofoca, embora seja geminiano.  – Ironizou Helionora.  – Deixando os signos de lado, sim. A atual esposa do meu pai é Maytê ex-Leão, mãe do Marcelo, aqui da administração. Você devia ter visto como foi o jantar de sábado. Terrível.

– Realmente, eu não sei o que eu estou fazendo nessa empresa para nem e nem Leônidas saber desse babado.

– Saiba que eu gosto muito de você e que você se tornou mais do que um paciente, você se tornou meu amigo.  – Destacou a psicóloga.

– Também te considero muito, Liô. – Confessou o capixaba.

****

Leônidas tinha que confessar a si mesmo que queria estar no lugar de Gareth na curta reunião com Helionora. Não, ele não queria fazer terapia com Helionora e sim outras interações que povoavam sua mente perversa.

– Gareth Gaetano, você é uma pessoa muito concorrida, visse. Mal Helionora te largou e você já recebeu uma carta "secreta". – Sussurrou Leônidas para o melhor amigo.

– É dela, não é?  – Cochichou Gareth. – Vou ao banheiro, estou com diarreia! – Gritou o jovem, para que todos funcionários de Simão Garuzzo escutassem.

– Leia, leia. – Pediu Leônidas, chegando ao banheiro com o amigo.

– "Eu sei que vou morrer de saudades, mas o melhor é cada um tentar pôr a cabeça no lugar. Te encontro no dia 21 de janeiro às 20h00 na Stellium, para comemorar o aniversário de um mês do nosso primeiro beijo. Abraços. Eu te amo. Simonetta." 

– Está disposto a ir para a forca por essa menina?  – Perguntou Leo.

– Sim. Eu preciso ser feliz. – Percebeu Gareth.


Sol em VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora