Sol em Virgem

Capítulo 30

CAPÍTULO 30

Os piores pesadelos de Simonetta se materializaram no seu aniversário: se ela fosse uma moça do século XIX, ela seria obrigada, pelo seu pai, a casar com Mikhael. Pior seria se descobrissem o caso dela e de Gareth. Por enquanto, só sua tia Helionora e a víbora da Nathalia sabiam. Mesmo assim, o namorado de Simonetta temia que seu relacionamento com a jovem Garuzzo o levasse de volta para um lugar que ele odiava. E ele tinha razão. Muita razão. Não que sua família fosse tão conservadora e cheia de si para mandar prender imediatamente um ser humano só por se meter com a herdeira deles. Não. O perigo morava ao lado e atendia pelo nome de Mikhael.

Depois dessas reflexões em sua cama, Simonetta esperavam que seus 15 anos e um dia fosse melhor que seus 15 anos. Ledo engano. Stella, a gata, estava morta no tapete de seu quarto. O enteado vigarista de seu avô tinha entrado em ação.

– Ele te deu a gata e ele mesmo te tirou. – Comentou Stella, a bruxa, quando notificada sobre a barbárie. – Maldito Mikhael. Ele só deve estar achando que tem o poder da Deusa

– Eu pensei nisso, mas como ele ia matar a gata dentro do meu quarto? – Continuou Simonetta.

A jovem Garuzzo havia fugido da aula para falar com a amiga e, especialmente naquele caso, seus conselhos desequilibraram a batalha a favor do lado esotérico da força, como Simonetta costumava chamar o quarteto formado por elas, Gareth e Leônidas.

– Eu não disse a você que eu senti a presença da Virgo na sua festa, depois que eu senti que algo errado ia acontecer? Pode ter sido ela. – Adivinhou a filha da bruxa má.

– E o que a gente vai fazer com esses dois monstros, Stella? Me diga! – Implorou a namorada de Gareth.

– Espera! – Pediu a jovem feiticeira. – Eu tenho uma lista de crianças carentes que adorariam ganhar um gatinho ou um cachorrinho. Se prepare, Mona, pois na madrugada de 1o de setembro teremos uma pequena missão de bruxaria.

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Gareth embolava de um lado para outro da cama. Ainda não era madrugada e Gareth precisava dormir naquele horário para apoiar a namorada e a amiga na missão de retaliação a Mikhael. Além disso, com a entrada de setembro se aproximando, o universitário viu-se na obrigação de reconectar-se às suas raízes. De fato, aquela época também lhe trazia lembranças boas: o aviso que sua pena havia sido diminuída, a esperança de conseguir bastante dinheiro com esforço próprio, seu tio Américo lhe esperando do lado de fora da UNIMES.

Asia dizia a Gareth que setembro era um mês mágico por várias razões, especialmente por  trazer a primavera no hemisfério sul e o outono no hemisfério norte. Infelizmente, ela não se fez presente naquele dia 1o de setembro de 2009, o fim do maior inverno que Gareth havia passado até então.

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Eram 18h00 do dia 31 de agosto e Simonetta estava de frente a Stellium conversando com Gareth. O semblante de seu namorado parecia diferente, mais iluminado, esperançoso e sereno. Ali, Simonetta tivera a certeza que tinha escolhido o homem certo para partilhar o resto de sua vida.

– Você precisa ir mesmo para Vitória? Justamente agora que eu preciso tanto de você. – Reclamou Simonetta para o namorado.

– Meu tio e minha mãe fazem aniversário em setembro. E quem sabe ela pode jogar algum feitiço de proteção na gente? Funcionou parcialmente comigo. E amanhã eu sinto que eu preciso estar lá. É uma data muito especial. – Justificou-se o capixaba. – Te amo, não se preocupe.

– Eu também te amo muito. Mas bem que a gente podia transar antes de você partir, não podia? – Sugeriu Simonetta, fogosa.

– O nosso amor não precisa apenas de sexo para ser infinito. – Respondeu Gareth, surpreendendo Simonetta segundos depois com um beijo.

Simonetta mal pode aproveitar o sabor de mel dos lábios daquele anjo. Ambos precisavam partir em missão. Embora a sua fosse em busca de justiça, Simonetta sentia que a missão de Gareth era mais importante.

– Simona, precisamos ir! Missão "salva felinos"! – Gritou Stella.

– Também preciso ir. – Revelou Gareth com os olhos marejados, orgulhoso de ter encontrado o amor de sua vida.

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Stella havia encantado um motorista e roubou-lhe seu ônibus. Não, ela não era filha de  Afrodite, mas sim de Virgo mesmo.  Não, aquilo não era errado. Era por uma causa nobre. Já havia usado magia de sedução outras vezes, principalmente quando fugiu do domínio de Virgo. Lembrou, ali, de tudo o que sua própria mãe lhe fizera passar, desde a insistência para adorar Lilith quanto à privação de liberdade. Tinha 15 anos quando conheceu Simonetta. Não era analfabeta, já que Virgo lhe ensinara a ler para aprender os feitiços, mas não sabia até então o que era uma amizade sem segundas intenções. Depois que Mona fora resgatada pela família, decidiu usar a magia para encontrar um lugar no mundo. Por fim, estava ali, não só com a amizade de Simonetta, mas também com a de Gareth e Leônidas.

– Estais com a lista dos premiados aí? – Perguntou Simonetta. – Acho que são muitos animais para pouca gente.

– Não se preocupe. – Respondeu Stella. – Boa parte deles vão ficar na Stellium. Preciso de uma proteção espiritual adicional. – Justificou-se a bruxa.

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Sim, Mikhael estava sonhando com Simonetta. Ela havia se tornado uma bruxinha e estava ali prestes a lhe entregar sua virgindade com Mikhael, que em suas fantasias já era conhecido como um dos homens mais maléficos e poderosos de Salvador.

– Seja você o meu senhor demônio, Mikhael. – Pediu a sósia de Simona.

Para desgosto de Mikhael, a nova feiticeira rogou-lhe um feitiço que lhe fizera cair o pênis e riu bastante de sua cara. O pesadelo acabou com um dos empregados da Fundação Lúcio Leão telefonando para ele: "Os animais sumiram!"

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Gareth havia voltado a Vitória com uma energia renovada. Depois de conhecer Simonetta Garuzzo, sua vida tinha ganhado brilho, cor e luz. E ele precisava seguir esse caminho da luz, o caminho do seu coração.

Eram 10h00 da manhã quando o nosso protagonista bateu à porta de seu tio Américo, que abriu-a quase que instantaneamente. Em seguida, o irmão de Asia abraçou o sobrinho e deu um largo sorriso de satisfação.

– Quatro anos! – Exclamou Gareth, chorando. – Quatro anos de liberdade!