Capítulo 23

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CAPÍTULO 23

Helionora não era nenhuma santa. Inclusive, perdera a virgindade com 15 anos, uma idade próxima da idade de Simonetta, com um coroinha da catedral Nossa Senhora de Fátima, em Teixeira de Freitas. Depois de três encontros nunca mais ela viu aquele cafajeste. Depois disso, digamos, Helionora saíra com diversos rapazes: jogadores amadores de futebol, colegas do curso de Psicologia, pastores. Sim, Helionora era o que suas tias freiras ultraconservadoras chamariam de rapariga, mas para a capricorniana ela era apenas uma mulher que sabia separar o que conhecia de amor com a vontade de transar.

– Simonetta, eu não acredito que você caiu na lábia do Mikhael. – Disse Helionora. – E sabia que isso é um crime? Ele é dez anos mais velho que você.

A caçula de Simão Garuzzo tinha acompanhado, um pouco de longe, a obsessão que Mikhael, que era 10 anos mais velho que a primogênita de Luís Cláudio, sempre teve por Simonetta, desde que a menina nasceu. Na humilde análise da psicóloga, aquilo se devia por um misto de inveja de Marcelo, que podia gabar-se de ter gerado três Garuzzi natos, e o fato que Mikhael era apenas o filho mais novo da esposa que Simão visivelmente odiava.

– Tia, se acalme. Não foi com o Mikhael. Eu tenho horror daquele cara. Eu fiquei com outro cara. – Respondeu Simonetta para alívio de sua tia.

– Eu conheço esse rapaz? – Perguntou a tia da moça.

– Acredito que não. – Respondeu a sobrinha. – Quando for o momento certo eu vou dizer quem é, como ele é, onde eu o conheci. Só peço que guarde esse segredo.

– Você usou camisinha? Me diga, Simona. – Implorou a irmã de Luís Cláudio.

– Não. Eu menstruei dia 15, então está tudo certo. – Gabou-se a adolescente.

– E se esse rapaz que você transou tiver alguma IST? Você pensou nisso, Simoninha? – Alertou a solteirona.

– Eu creio que ele não tenha, ele é um anjo, deve ser imune a alguns tipos de doença por proteção divina. – Exagerou a apaixonada. – Porém, como o passado sexual dele é meio traumatizante eu quero que ele vá a um urologista antes da gente transar de novo.

– Simonetta, tem certeza que esse rapaz é uma boa pessoa? Ele é mesmo esse anjo que você descreve? – Perguntou Helionora.

– Juro, tia, ele é. A senhora só não pode saber quem é ele, por enquanto. – Segredou a moça.

"Ufa!", pensou Helionora ao fim do diálogo com a sobrinha. Felizmente Simonetta demonstrava coragem e determinação para não cair nas lábias de Mikhael. Mas, quem seria o tal namorado secreto de Simonetta e por que a adolescente não lhe disse nem sequer seu nome?

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João Muniz e Simão Garuzzo foram parceiros de um negócio durante um bom tempo. Infelizmente ambos se meteram em negócios e situações que, atualmente, não pareciam nada corretas para João. Felizmente parecia que a era de sorte havia chegado novamente para João, visto que seu primogênito, Jonathan, tinha aceitado morar novamente com o pai, ao lado de sua família. Assim, otimista, João Muniz decidira tentar fazer negócios com o dono da S.V. Comunicações.

– Fico feliz, Simão, que tenha aceitado almoçar comigo. – Confessou João Muniz. – Talvez nossas relações de amizade e comércio estejam recomeçando.

– Melhor com você do que com Maytê. – Respondeu um deprimido Simão Garuzzo.

– É, não sei como você se casou com uma pessoa que não suporta nem almoçar. Mesmo depois de 18 anos ainda não entendo por que você trocou a Gina pela Maytê. – Comentou João Muniz. – Querer o monopólio da S.V. falou mais alto não foi?

– Se eu soubesse que você ia tocar de novo nesse assunto, eu nem viria para o almoço. Almoçaria com os cães da rua, talvez. – Respondeu Simão. – O que eu fiz da minha vida é um pecado meu e só Deus pode me julgar, João.

– Não quero brigar contigo. Eu só quero uma parceria. – Sintetizou o avô de Nathalia. – Você sabia que a Didática de Munique pensa em disponibilizar livros e textos em italiano para o povo baiano? Como estou diante um italiano eu quero a ajuda dele

– A minha empresa tem outros objetivos. Em que uma empresa de telecomunicações ajudaria uma empresa de livros didáticos? – Perguntou Simão.

– De fato, sua empresa talvez não ajude tanto. – Concordou. – Porém, o dono pode ajudar mais. Faça-me um favor já nasceste e cresceste na Itália. Além disso, ouvi dizer que sua empresa não está indo muito bem...

– Apesar de eu amar minhas raízes italianas, lembrar da Itália me faz sofrer. Ensino o idioma para filhos e netos por uma questão de identidade cultural mesmo. – Desabafou. – E minha empresa não está tão mal assim. Estou pensando em promover alguns atendentes a consultores.

– Jura que não acha nada nostálgico na Itália? Nada? – Perguntou João Muniz. – Por acaso, tem notícias de Zeus? E de Cecilia e Silvana? Eu queria revê-las, elas são uma graça. – Completou o avô de Nathalia.

– Perguntou João Muniz. – Graças ao meu bom Deus estou há 40 anos sem ver esse homem que carrega o nome do rei dos deuses grego. E minhas irmãs estão bem, fazendo missões pelo mundo. – Desabafou Simão, lembrando de uma parte desconhecida da família Garuzzo.

– Deixamos de enrolações. – Acudiu João. – Aceita minha proposta?

– Ainda não, pela indelicadeza de lembrar do meu passado e da minha família. Lembre-se que a sua não é perfeita. – Observou o pai de Luís Cláudio. – O Nicholas precisa muito mais de você do que eu do Zeus.

– Eu não queria ter um filho bandido. – Queixou-se João Muniz.

– E eu um pai. Estamos quites, então.

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O mais novo livro que Eden obteria seria guardado a sete chaves por conter informações tão preciosas para o futuro da ciência e, especialmente, para Eden.

– Messias, aqui estão seus oitenta reais. – Anunciou Eden ao estudante de Psicologia. Uma nova obra-prima residiria, em breve, debaixo de seu travesseiro.

– E aqui seu livro, pirralho. – Respondeu o estudante.

Eden sorriu ao receber o livro de Messias. Disfarçadamente o primogênito de Maria Marta guardou o livro O Cérebro Autista de Temple Grandin. Finalmente, o garoto ia entender a cabeça de Newton e Einstein e, quem sabe, a sua própria.

Sol em VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora