Capítulo 22

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CAPÍTULO 22

No dia seguinte ao aniversário da filha mais nova, Luís Cláudio Garuzzo dava aulas aos seus alunos do curso de História Bacharelado da UFBA. Em sua aula da penúltima terça de maio de 2013, Cláudio falava sobre as mulheres que foram precursoras de grandes revoluções, sem imaginar que sua primogênita, Simonetta, acabara de começar uma revolução na família Garuzzo. De revoluções históricas Luís Cláudio entendia, tanto é que doutorou-se pesquisando sobre a Guerra dos Cem Anos, mais especificamente sobre a importante figura feminina de Joana d'Arc.

– Vocês já devem ter ouvido falar de Joana d'Arc, principalmente pela minha boca. Claro, a santa guerreira foi tema da minha tese de doutorado. – Gabou-se o primogênito de Simão Garuzzo. – Como estamos no clima da guerra dos 100 anos e falamos tanto da francesa, que tal falarmos de outras grandes mulheres? Elas, como Joana d'Arc, amaram uma causa e venceram por elas. A santa francesa fez da sua curta vida de 18 anos um símbolo de persistência e lutou como poucos. No livro de Gabriel Chalita, Mulheres que mudaram o mundo, vocês verão o exemplo de outras joanas. Boa parte delas vocês já ouviram falar, à exemplo de  Marie Curie, a grande química e física ou Helen Keller e sua mestra, Anne Sullivan... E vocês, meninas da turma, também podem ser mulheres que mudarão o mundo. Basta ter uma causa... e amá-la com toda sua vida.

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Leônidas era oficialmente o padrinho do "E tornaram-se uma só carne" que ocorrera naquela madrugada.  Obviamente fora Leo quem dera a chave de sua kitnet para Simonetta. Ele não podia deixar seu amigo passando necessidades carnais enquanto existia uma garota louquinha para saciá-lo.

– É quase meio-dia e aqui podemos ver o noivo, vindo de cavalo-branco da sua noite de núpcias. – Falou Leônidas, com o discurso ensaiado.

– Boa tarde para você também, Leônidas. Se eu for pego pelo juizado de menores, te denuncio como cúmplice manipulador e maquiavélico. – Ameaçou Gareth.

– A noite foi boa? – Perguntou Leônidas, com um sorriso safado nos lábios.

– Nem tanto: o que era bom saiu na metade da madrugada. Não vou te contar os detalhes, porque, senão, eu deixo de ser homem para me tornar um cafajeste. Eu posso ser um ex-ladrão, mas não sou um cafajeste. – Resumiu o futuro economista. – Ah, estou muito feliz por perder minha aula de cálculo 03, ouviu?

– É, também estou muito feliz que você saiu da seca. – Rebateu o cúmplice de Simonetta.

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Estranhamente, naquela madrugada após a festa de 11 anos de Samantha, Ruthy sonhara com sua primeira vez com Luís Cláudio. Mais estranho que isso era o fato que Simonetta estava presente, em seu sonho, naquela noite, o que obviamente não havia acontecido na vida real.

Ruthy reviveu tudo: desde a sua audácia em despir-se na piscina para seu futuro marido até o anúncio da trágica morte de Lúcio Leão. Será que a relação sexual de Ruthy com Luís Cláudio estava fadada ao fracasso, desde aquela época, por ter sido celebrada na noite daquele terrível assassinato? Ela ainda não tinha respostas, mas sentia que, de algum modo, aquela sua escolha havia marcado o destino de sua primogênita.

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Simonetta podia ser impulsiva e, às vezes, irresponsável, mas sabia que mulheres, inclusive as novatas, precisavam ter os devidos cuidados com sua saúde íntima. Sim, ela deveria passar constantemente pela ginecologista, já que transaria bastante com seu príncipe dos olhos azuis-esverdeados.

– Boa tarde, primo lindo. – Disse Simonetta a Eden, quando chegou à casa de sua tia. – Mandei Tarcísio me trazer até aqui depois da aula. Eu preciso ir para a UFBA falar com a tia Helionora.

– Simona, eu também preciso da tua ajuda. – Recorreu o menino. – Eu queria trocar os meus livros por alguns livros dos estudantes de Psicologia, mas eles só querem vender. Eu preciso de dinheiro. Se você me ajudar, eu também te ajudo. – Negociou o garoto.

– De quando você precisa? – Indagou Simona.

– Oitenta reais. – Decretou Eden.

Após chegar no local desejado, Simonetta teve que lidar com o olhar marcante de sua tia e o medo que o tiro saísse pela culatra. Sim, Helionora era cúmplice de seus sobrinhos, mas talvez tivesse uma conversa séria com o irmão mais velho depois de saber o que Simonetta veio lhe dizer.

– Confesso que fiquei surpresa quando te vi junto com o Eden, me esperando. O que houve? – Perguntou Helionora à sobrinha.

– Tia, você sabe que eu confio muito mais em você do que em qualquer outra mulher da minha família. Só da minha família. Eu confio mais em mulheres de fora, claro. Eu tenho sentido uma dor horrível ao menstruar. Eu queria uma ginecologista de sua confiança. Será que estou  com endometriose? – Fingiu a apaixonada.

– Simonetta, você não me engana. – Rebateu a loira. – Pode falar a verdade.

– Essa é a verdade tia. – Disse Simonetta, dissimulada e amedrontada

– O Eden andou me contando que você anda livro de adolescentes em puberdade, como o livro "Sexo para adolescentes", de Marta Suplicy.

– Maldito Eden. – Respondeu Simonetta. – Eu quero dizer, bendito.

– Então, qual é a verdade? – Exigiu a tia.

– Eu preciso de uma ginecologista por outras razões. Eu não sou mais virgem.

Sol em VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora