Capítulo 40

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CAPÍTULO 40

Doía sempre para Simão lembrar daquele belo rosto e saber que nunca mais poderia vê-lo. Simão ficaria muito satisfeito se aquele rosto pudesse ser visto por outro homem em suas noites de amor ou simplesmente proferindo suas visões místicas sobre a criação do universo. Mas, nenhum outro ser humano na Terra, poderia revê-lo em carne e osso. Seu Amor Continente se fora e ele nem pudera reencontrá-la em uma sessão espírita. Contra sua fé e seu juízo, Simão se contatou com Ruthy, então namorada de Luís Cláudio, sem revelar-lhe todos os detalhes. Nada. Seu Amor Continente não aparecera. Com o coração em chamas e o espírito padecido, Simão proferiu as seguintes palavras para si mesmo ouvir:

– Te amarei para sempre, meu Continente!

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Não existia remédio para o autismo, mas existiam remédios para as comorbidades do autismo e esses remédios, de uma certa forma, estavam fazendo muito bem a Eden. Uma comorbidade frequente para autistas que precisavam de menos suporte (que disfarçam, geralmente,  muito bem suas atipicidades) era ouvir "Você não tem como ser autista". Assim, aquele papel com o diagnóstico dado pelo Dr. Wanderson aliviava, em partes, essa comorbidade. Outra comorbidade a ser tratada era o visível desconforto de Maria Marta, principalmente quando Helionora reafirmava que Abel e Caim provavelmente eram autistas severos (ou seja, necessitavam de suporte para praticamente todas atividades diárias).

– Estou lendo uma tragédia grega, de Sófocles. É para fazer o livro que prometi à Marina. Será que a nossa família também pode ser considerada uma tragédia? – Disse Eden à Ruthy e Simonetta.

– Para algumas pessoas algo só pode ser considerado tragédia se for definitivo. – Respondeu Ruthy. –  Se você achar que os Garuzzi ainda têm chance de viver em paz, então nossa família não é uma tragédia definitiva. Por exemplo, os cristãos acreditam em vida após a morte, mas de uma maneira diferente dos espíritas, que acreditam na reencarnação. Eles  consideram a morte uma tragédia, mesmo confiando na ressurreição e  que, todos que merecerem, terão a vida eterna. Para os espíritas, a vida e a morte são passagens de uma evolução e a morte não pode ser considerada uma tragédia, mas só uma fase.

– Qual tragédia você está lendo? – Perguntou Simonetta.

Édipo Rei. – Respondeu Eden. – Sou incapaz de me imaginar sendo feliz depois de matar meu pai e casar com a minha mãe. Tia Ruthy, o que a senhora tem a dizer sobre isso? Será que foi realmente foi destino, um carma deles? Ah! Deixa eu tomar notas.

– Ainda não entendi no que uma tragédia grega como essa pode ajudar num livro sobre Autismo, mas vamos lá. – Os espíritas acreditam que se o Criador reencarnou Édipo e Jocasta como mãe filho era para que pudessem viver um amor sem interesses sexuais, já que algumas regras no nosso mundo foram necessárias para acontecer a atual civilização humana.

– Mas se, como o oráculo disse, esse realmente era o destino de Édipo, Jocasta e Laio, fugir dele fez com que as coisas ficassem piores. – Comentou Simonetta.

– Bem gente, eu acho melhor a gente parar de falar sobre Espiritismo. – Continuou Ruthy, temendo a retaliação de Luís Cláudio.

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Eram 15 de fevereiro de 2015 e Mikhael sabia que em breve Simonetta estaria disponível para ser sua mulher. Era uma ofensa a seu ego saber que não romperia o hímen da jovem, mas esta era uma vergonha com que ele poderia conviver.

– Bom dia, Tarcísio. – Disse Mikhael ao informante. – Espero que me traga boas novas.

–  Talvez eu desista da vida de motorista e me afirme de vez como detetive, pois tenho um talento nato para tal. – Afirmou Tarcísio. – Você, meu querido Leão, teve estratégias burras de procurar saber sobre esse garoto e seu amigo.

Sol em VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora