Capítulo 122

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CAPÍTULO 122

Virgo fora uma má mãe, mas não fora a pior. Ela era apenas uma marionete descontrolada de Lilith. Não fosse isso e o cativeiro mantido até a adolescência de Johana, ela teria sido uma mãe razoável: ela lhe ensinara sobre a vida e os estudos acadêmicos, de uma forma parcial, mas igualmente apaixonante; orgulhava-se da filha que tinha, tanto para amigas quanto para inimigas; também, se não lhe falhava a memória, apresentava Stella como um trunfo nas reuniões organizadas pela tia Maytê. Virgo fora uma má mãe, mas, mesmo assim, Stella estava preocupada com ela. Fora a ideia maluca dela que, aliás, permitiu que Stella existisse.

– Stella, a Yves quer falar contigo. – Anunciou Luís Cláudio. – Ela tem notícias sobre o paradeiro da Virgo.

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Simonetta torceu muito para que 23 de agosto de 2020 nunca chegasse. Não, não a entenda mal. Ela não queria morrer; queria, apenas que seu filho caçula não lhe fosse tirado dos braços. Tudo bem que ela reveria os filhos mais velhos depois de cinco meses, mas... A virginiana não sossegaria até que sua inocência fosse provada e ela pudesse, enfim, ter sua família de volta.

– Muito obrigado, mamãe, por cuidar das crianças. – Dizia Gareth enquanto Simonetta abraçava os filhos. – Espero que, se a gente for condenado, eles aceitem que a senhora e o Simão continuem com eles. – Desabafou.

– Fiz o que pude, meu filho. – Respondeu Asia. – E vocês vão sair dessa. Matem a saudade com a certeza que esse não é o fim. – Encorajou a irmã de Américo.

Antes que pudesse aproveitar daquele momento inédito em seu cárcere, Simonetta perguntou como todos estavam. A primogênita soubera que o casamento de sua tia Helionora com Américo fora foco de um início de tragédia, devidamente abortada, graças aos anjos.

– Todos nós passamos bem. – Respondeu sua sogra. – Só não temos notícias de Virgo ainda.

Feito isso, Gabriel e Olívia se entusiasmaram ao conhecer Miguel. "São dois novos ouvidos para escutar Pequeno Príncipe", brincou Gareth.

– Vocês já estão melhor do 'Conovid', não é? – Supôs Gabriel.

– Quando vocês saem desse isolamento demoradíssimo? – Completou Olívia.

– Em breve. – Disse Simonetta, com uma ponta de esperança.

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"Ela se redimiu no último instante de sua vida", dizia Yves, tentando acalmar uma Stella perplexa. Virgo fora encontrada morta naquela manhã de 23 de agosto, dia de seu aniversário de 66 anos, por Yves, que conseguira fugir do cativeiro imposto por Mirella. A rebelde virginiana estava mais pálida que o comum dentro de um círculo recoberto de folhas secas; já o lado exterior ao círculo estava carbonizado.

– Bruxas não queimam! – Exclamou a órfã, sendo imediatamente abraçada por seu marido.

– Uma bruxa do porte da Virgo teria condições de escapar, mas ela estava fazendo algum feitiço poderoso na hora de sua morte. Eu não sei bem o que é, ainda tenho pouco tempo de experiência na magia, mas eu sinto que foi para proteger você. – Observou a portuguesa, enquanto Stella chorava como se fosse um neném com dentes saindo.

– Amor, a gente precisa organizar o sepultamento. Talvez devamos colocar ela do lado do túmulo do Marcelo. – Interferiu Luís Cláudio. – Existe algo que ela iria querer em seu túmulo?

– Um pentáculo no lugar de uma cruz, certamente. – Respondeu Stella, que pediu para ficar a sós com o corpo da mãe logo em seguida. – Eu deveria ter impedido todas suas loucuras, mamãe. É, impedi que Asia e Gareth morressem, mas não foi o suficiente. Me perdoa por eu não ter coragem de lutar por você.

Sol em VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora