CAPÍTULO 117
Era noite do dia 12 de abril de 2020. Maytê havia caído como um patinho na armadilha de seu próprio neto. Agora, se dirigia à polícia acompanhada de Asia Adams e sua sobrinha. Só lhe restava confessar e livrar a cabeça da idiota amargurada da Maria Marta. Seu plano fora parcialmente eficiente durante os primeiros 21 anos, mas depois tudo começou a desmoronar em cima da capricorniana: Simão tomara coragem para romper o casamento, mesmo que isso ameaçasse à sua amada filha religiosa; Mikhael descobrira o furo na história da mãe e decidiu-se vingar-se em Marcelo, tendo a refém Marta como triunfo temporário; as sacanagens do caçula foram descobertas e só lhe restava, a pouco tempo atrás, o apoio da irmã bruxa também fugitiva; seu neto mais velho, Eden, lhe arrancara a confissão, dando assim um fim à maldita rede de intrigas e mentiras arquitetadas pela avó paterna.
O que seria de Maytê? Os anos de prisão seriam o de menos. Ela já perdera o amor de sua vida Simão, o afeto e carinho de seus dois filhos, o respeito de seus netos. Agora, ela era uma bandida desmascarada. Uma bandida desmascarada e sem expectativas de viver.
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Gareth se contorcia na cama improvisada para ele e Simonetta. O que seria mais pior do que ter sua intimidade vigiada por câmeras e a perda temporária do contato com os filhos? Um pesadelo. Sim, aquele pesadelo fora extremamente aterrorizante. Ofegante, o geminiano decidira contar a experiência para a esposa, que em breve entraria no oitavo mês de gravidez. Eram 22h30 da noite.
– Mona, Mona. Eu preciso te contar algo! – Exclamou Gareth, tremendo. – Talvez isso tenha a ver com aquele sonho que você teve antes do Natal.
– Se você teve um sonho parecido, então, realmente podem ser lembranças em vez de apenas sonhos. – Constatou Simonetta.
– Eu não estava vivo na maior parte desse "sonho". Já era um senhor mais ou menos com a idade do tio Américo. Tínhamos um neto, um neto com olhos verdes como os que tenho hoje. E eu vi a minha morte e o motivo de eu próprio provocá-la. Vi até a data bem desenhada em meu túmulo, num lugar que parecia ser Gaeta há muitos anos. Era 21 de dezembro de 1950. – Revelou o caçula de Simão. – Muitos anos depois o seu corpo foi enterrado ao lado do meu. Era 21 de dezembro de 1975. Você morreu de desgosto.
– E você, qual foi o motivo da sua encarnação ter se suicidado? – Questionou a gestante.
– Culpa, raiva. Eu tinha mandado matar o homem que estuprou a filha que abandonamos. – Desabafou Gareth, em prantos.
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Maria Marta curtia, serenamente, o sabor da justiça. Sim, ela estava lá, trancafiada, em uma cela solitária, mas o sentimento de alívio lhe dava liberdade. Quantas vezes a filha de Gina não temera a descoberta de seu pecado? Quantas? E o pior: seu segredo caíra na cara de Marcelo; depois disso a separação e a morte do amado. Agora, Marta não temia mais nada. O inferno? Não. Ela também estava preparada para isso. Ela era uma mulher livre e sua liberdade deveria ser apreciada docemente.
Era dia 12 de abril, véspera da Páscoa, quando passavam esses pensamentos pela cabeça da beata. "O propósito renasceu em mim como Jesus renasceu dos mortos ao terceiro dia", pensava a escorpiana. Três dias. Fazia três dias que a gestante havia se entregado e enlouquecido de vez a família Garuzzo.
– Senhora Garuzzo, o delegado Batista precisa ter uma conversa contigo. – Anunciara o carcereiro, portando uma máscara com as estampas da bandeira do Brasil no rosto.
O delegado Joaquim Batista achara Maria Marta maluca. De fato, não era todo mundo que confessava um crime de tanto tempo em plena pandemia. Sim, e ninguém obrigava o delegado a ser presa aos sete meses de gestação.
– Estou para conhecer uma família mais adepta à confusão do que a sua. – Observou Joaquim. – Há pouco tempo entraram três mulheres aqui tentando provar sua inocência.
– Mamãe, Helionora e Ruthy? – Chutou a gestante. – Só consigo ver essas três entrando em confusão por mim.
– Não, acho que não. Duas delas estavam vestidas como camponesas do século retrasado. E o nome de uma delas é Maytê Darcano, não tem como ser exatamente essas três. – Revelou o homem da lei.
– Minha ex-sogra tentando me defender? O mundo está para acabar mesmo. – Debochou a escorpiana.
– As duas outras mulheres estavam com um gravador em mãos. Fizeram questão de mostrar cada detalhe da gravação antes que essa tal de Maytê pudesse falar. Parece que o seu filho estava envolvido em uma armadilha que envolvia a avô dele.
– Eden? As boas companhias estão tornando ele um garoto esperto. – Comentou a mãe do jovem. – O que tudo isso tem a ver com a inocência de um crime que eu mesma mandei cometer? Claro, com exceção do assassinato.
– Parece que sua sogra escutou o seu plano de vingança e pagou mais para que os bandidos também executassem o senhor Lúcio Leão. – Revelou Joaquim Batista. – Além disso, ela e a irmã dela foram responsáveis pela morte dos bandidos na cadeia.
– Aquilo sempre foi uma cobra e das grandes, mas nunca imaginei que ela seria desse nível. – Comentou a ex-nora. – Mas isso não me isenta da minha culpa. Eu mandei aqueles bandidos estuprarem Lúcio de volta.
– Você fez isso em um momento de desespero. Mesmo que sua sogra não tivesse interferido em sua negociação, você não levaria a pena máxima pelo assassinato. Você também era menor de 18. Você não é culpada do que aconteceu, Maria Marta. – Decidiu o delegado. – Você está livre.
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Gareth já estava dormindo quando Simonetta viu o espírito de Augusta de novo. "Gare foi um assassino e suicida na outra vida, por isso ele tá sofrendo tanto nessa", estava pensando a filha de Ruthy. "Não foi bem assim como você imagina", dissera, telepaticamente, a mãe de Ginevra. "Eu preciso te contar alguns detalhes", completou o espírito.
– O espírito de Gareth não sofre pelo assassinato ou suicídio, mas sim pelo abandono, assim como o seu espírito também sofre por isso. – Começara a finada por telepatia. – A possibilidade da perda da convivência com seus filhos é uma dor que vocês próprios estipularam para si após desencarnados.
– Compreendo. Se a gente não tivesse abandonado a menina ela nunca teria sido estuprada... – Confessou Simonetta, por pensamentos.
– A menina que vocês abandonaram fui eu. Vocês foram Paolla e Francesco Mafrendini e eram pessoas muito queridas em Gaeta. – Continuou o perispírito de Augusta. – Vocês aceitaram o desafio de viverem essa encarnação difícil juntos. Vocês escolheram o tempo e a situação que deveriam renascer.
– Então eu e Gareth éramos avós do vovô e da vovó na outra vida? Que coisa mais maluca. – Observou a mãe de Miguel. – Só não diga que a gente aceitou perder o Gabriel, a Olívia e o Miguel, pelo amor de Deus. Eu não seria capaz de conviver com isto nesta vida!
– Não, provavelmente vocês não perderão os seus filhos dessa encarnação. Mas, antes, é preciso a palavrinha da profecia da prima terrena de papai: fidelidade. Daí vocês poderão voltar para Gaeta ainda nessa vida. – Revelou a falecida mãe de Gina. – Ah, e orem pelo rapaz que era Hermes e encarnou entre os seus.
– E como ele se chama nessa vida? – Indagou.
– Mikhael. – Revelou.
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Os cantares das beatas em um Salvador estranhamente vazia chamara a atenção de Maria Marta. Era madrugada do dia 13 de abril, dia de Páscoa. "Cristo renasceu e eu também. Agora posso falar de meus traumas sem culpa", pensava a gestante. A filha do meio de Gina esperara, então, que chegassem às 06h00 da manhã e assim ela pudesse entrar em alguma Igreja. A mulher, com sua farta barriga de gravidez, assim se ajoelhara em frente à Cruz para demonstrar gratidão.
– Senhor, eu não sou digna de entrar na sua morada, mas dizei uma palavra e serei salva. – Disse, enfim.
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Sol em Virgem
Genel KurguVirgo, uma misteriosa bruxa da capa preta, não se cansava de soltar maus agouros para cima de Gareth. Sua primeira profecia foi um "Cuidado com as semelhanças" lançada no dia em que Gareth chegara a Salvador com seu amigo de cárcere, Leônidas. Depoi...