Capítulo 86

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CAPÍTULO 86

Mesmo com tanto tempo de convivência, Luís Cláudio não conseguia entender como uma descendente de Virgo poderia ser tão boa. Lá estava ela, sua heroína incansável, dormindo como uma anjo e prestes a lhe entregar sua terceira filha. O historiador não entendia como podia amar tanto depois do 40, mas já se conformara com a ideia que nem tudo tinha uma explicação. De fato, qualquer explicação sobre qualquer aspecto de sua vida parecia vir com um explosivo e Luís Cláudio não esperava ser ferido tão cedo. Pensando nisso e em como era grato pela saúde de suas filhas, Luís decidiu esclarecer algumas coisas com seu próprio pai.

– Espero que você não tenha encontrado nada de errado na S.V. Comunicações. – Comentou Simão. – Você me chamou para isso, né, para falar da empresa? Ultimamente nossas conversas só se reduzem a isso.

– Não, papai. Eu quero falar sobre mim, sobre como fui gerado. Como você e a mamãe se conheceram, como se apaixonaram. – Confessou Luís Cláudio. – Sabe? Eu poderia ter o destino que eu quis para o Gabriel.

– Filho, o único destino que eu e sua mãe quisemos para você foi uma vida saudável longe das tragédias de Gaeta. Acho que conseguimos lhe dar isso por muito tempo ainda.

– Vocês não tiveram medo que eu tivesse nascido defeituoso, com alguma deficiência grave? Vocês não se sentiriam culpados em trazer ao mundo uma criança que poderia sofrer tanto?

– Filho, eu e sua mãe nos amávamos. Naquela época não importava se tinha ou não alguma maldição à nossa espera. Foi um encontro de almas, uma paixão avassaladora. Eu não podia abandonar sua mãe depois de descobrir como ela foi gerada, Luís. Eu estaria fazendo ela sofrer em dobro. – Relembrou Simão. – Inicialmente o meu plano era vir para o Brasil e criar um alicerce, mas meu coração falou mais alto. Ficamos juntos uma noite e diante de uma menstruação ligeiramente atrasada nos casamos às pressas.

– Foi por isso que você apoiou o casamento do pequeno príncipe, não foi? Você já se sentiu como ele, né? – Indagou o historiador.

– A maior motivação, na realidade não foi essa, mas isso contribuiu significativamente sim. – Confessou o empresário. – Eu não queria perder Gareth de vista novamente. Mas, de fato, é engraçado. Parece que eles resgataram o amor que eu e Gina sentimos e que se perdeu por causa de tantas mentiras. Por isso, filho, não abra mão da boa convivência com sua filha. Ela é mais importante do que ideologia ou opinião distinta que tenha. Pense nisso! – Aconselhou Simão, pensando como seria bom se ele ouvisse seus próprios conselhos.

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Apesar da loucura que sua tia Maria Marta cometeria se casando com Mikhael, o resto das coisas pareciam ter voltado ao normal para Samantha. Diante a paz de espírito que se instalara a alguns dias na sua família, Samantha decidiu que buscaria um outro tipo de paz, a paz de sua libido de adolescente. Ela já tinha uma parceira ideal para ajudar-lhes com suas manobras e uma cobaia excitante para ser usada em cada masturbação em que ela se faria. Sim, apesar de ainda ser boca virgem, Samantha já sabia o que era isso.

Lá estava Alasca, mais conhecida como a bruxa que invadiu o paraíso, no sofá da casa de Simonetta. Donatello também se instalara na casa de sua irmã, mas não era diretamente por Alasca. A cobaia de Alasca tinha nome, sobrenome, dois meses a menos que Samantha e beijava de olhos abertos.

– Olá, Alasca. Curioso como você preferiu ficar em Salvador mesmo em um período de provas. – Provocou Samantha. – Tem algum compromisso ou feitiço em ação?

– O único feitiço que tenho em ação é ficar calma diante de perguntas desagradáveis. – Respondeu a bruxa. – O que você quer de mim, Sam?

– Eu posso te responder isso com outra pergunta: o que você quer do Eden? – Indagou a prima do rapaz. – Você sabe muito bem que minha tia Marta mandaria ele para um seminário na Itália se visse com os próprios olhos o que vi.

– Você não seria capaz de contar nada pra ela, né? Já basta ele ter tido a infame ideia de casar com aquele idiota do Mikhael. Não confio nos julgamentos dela desde que o senhor Marcelo morreu. Será que eu posso confiar em você? Você tá sendo controlada por Lilith, Samantha?

– Se for olhar o que Lilith representa boa parte das vezes eu diria que sim, mas minhas vontades adolescentes se manterão controlados e o seu namorico escondido se você cumprir a minha ordem. Eu quero as senhas das redes da tia Helionora, eu preciso me passar por ela. – Exigiu a caçula de Ruthy, com segundas intenções.

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Donatello sabia que boa parte dos sacerdotes e sacerdotisas da Igreja Católica escondiam segredos macabros no armário. De fato, quantos padres gays, moças desonradas e bruxas disfarçadas já não tinham passado pela instituição milenar? Mesmo assim ele não esperava que o segredo de Silvana e Cecilia fosse tão desolador. Elas eram suas guardiãs, amigas para todas as horas e responsáveis pela sua decisão final de se tornar padre.

– Como se sente, padre? – Indagou o anfitrião. – Pronto para sair do seu casulo?

– Estou disposto ajudar sua prima em suas pesquisas proféticas. Mas para isso devo está saudável mentalmente, não é mesmo? – Respondeu o sacerdote. – Sempre soube que a igreja escondia algo, mas não imaginava que escondiam tantas bruxas e seus manuscritos.

– Eu sou suspeito em dizer que no fundo eu já sabia e sentia isso. – Afirmou Gareth. – Mas, por enquanto, não quero nem imaginar qualquer coisa relacionada ao mundo sobrenatural. Que tal irmos à praia? Nunca é tarde para reconectar-se à natureza.

Donatello não gostava de exibições e achava especialmente às exibições na praia um convite para a tentação ao pecado carnal. Mas mesmo relutante, aceitara a sugestão de Gareth. Não era de todo mal curtir um pouco dos prazeres mundanos.

– Não quero exibir-me e gostaria que também evitasse isso. – Propôs o católico.

O que o padre não contava é que ele próprio não se exibiria carnalmente, mas fisicamente. Como ele poderia dizer não ao futebol de praia do País do Evangelho?

– Gareth, eu te imploro. Preciso de suas calças para propor uma revanche àqueles rapazes. – Implorou Donatello. – Por favor. As minhas se encheram de areia!

– Se fosse o folgado do Leônidas eu não daria. – Respondeu o economista. – Mas como é você, Doni, eu te empresto.

– Obrigado, Gareth. Não é nem como expressar minha gratidão por me permitir essa aventura mágica... – Dizia o italiano sem notar o espanto do amigo.

– Ei, Doni... Desde de quando você tem essa marca na bunda? – Indagou o caçula de Simão ao reparar no sacerdote quase despido.

– Desde que botei a cabeça nesse mundo. – Revelou. – Interessante, não é, uma marca de espadas?

– Donatello, eu também tenho esse sinal na bunda. Ele é a minha grande semelhança visível com a Simonetta. Tem certeza que suas guardiãs disseram a verdade sobre a sua origem?

– Você acha que sou seu parente? Se Zeus fosse meu pai justificaria o cuidado de Silvana e Cecilia pelo fato de serem minhas irmãs...

Até que o padre ouviu de Gareth o que nunca sequer tinha passado por sua cabeça.

– Ou uma das duas é sua mãe. – Concluiu o pai de Olívia.

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Sol em VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora