CAPÍTULO 57
Talvez Maria Marta não fosse tão culpada ou tão amaldiçoada por Deus, como pensava. Eden havia se tornado um nerd menos esquisito e de alguma forma estava querendo agradar a mãe. O garoto falou sobre uma tal Teoria da Matrix, que isso tinha tudo a ver com religião, e que talvez ele pudesse ser um grande físico trabalhando nesta teoria, comprovando-a ou refutando-o. Já os gêmeos brincavam com letras dos alfabetos, números e quebra-cabeças. Pareciam ter uma linguagem própria não-verbal. Conhecer um Eden que queria debater com ela, mesmo com interesses tão distintos, a fez pensar como ela já desejou que Abel e Caim lhe chamassem apenas de mãe, brigassem com ela ou discordassem até de sua religiosidade exacerbada. Talvez isso ainda fosse possível. Eden havia melhorado, não havia como negar. Talvez a vida tivesse lhe dado uma segunda chance e comparar sua situação amorosa e materna com a de Simonetta, por exemplo, lhe fez pensar como tudo na sua vida poderia se tornar bem melhor. E que ela não era tão culpada.
– Arranjei uma explicação plausível para Samantha acreditar que as bonecas dela têm vida: a Teoria da Matrix. – Começou a discursar Eden. – Ele usa aquele clichê que é imagem e semelhança do Deus Cristão e simula a vida das bonecas, assim como "esse Deus" pode simular todos passos de nossa vida. A realidade só se define quando alguém a observa e antes disso pode ser qualquer coisa.
– Estou achando que isso é mais uma teoria filosófica ou existencial do que mesmo Física, Eden. – Comentou Marcelo. – Tem certeza que não mudou seu hiperfoco?
– Bem, se o Eden mudou de hiperfoco eu não sei, mas eu mudei de opinião. – Explanou Maria Marta. – Eu daria tudo para que Abel e Caim falassem sobre Teorias Mirabolantes da Física no meu ouvido. Você pode levá-los para especialistas em Autismo, mas com uma condição.
– Vou ter que pagar alguma promessa, é isso? – Indagou Marcelo sorrindo, surpreso com a atitude da esposa.
– Eu quero que você ajude diretamente uma mãe mais necessitada do que eu. – Pediu Maria Marta. – Te peço que vá depor a favor da Simonetta, na audiência sobre o aborto, falando tudo o que você acha de bom nesse Gareth aí. Eu quero que você prove que o romance foi consentido, por mais nojento e estranho que seja.
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O celular de Helionora tocou repentinamente, anunciando que tinha chegado outra mensagem. Talvez Gina tivesse decidido vir para Salvador e estava avisando à filha antecipadamente. Não era Gina. Era uma mensagem muito mais frequente de alguém que, antes, Helionora jurava odiar: Américo Setembrino.
– Tem notícias do Gareth? Será que ele não teve mais nenhum pensamento suicida? – Digitou Américo.
– Do Gareth não, mas tenho notícias relacionadas a ele. – Digitava Helionora. – Marcelo vai depor a favor da Simoneta na audiência sobre aborto. Depois de chamar nossas tias de Gaeta, Maria Marta tocou-se e convenceu Marcelo a depor. Fim dos tempos, não é mesmo?
– Ufa, espero que meu sobrinho esteja bem. – Enviou Américo. – Você sabe, não é, que seu pai uniu forças comigo para comprar uma casa para o Gareth. Ele não pode morar mais naquela kitnet depois de tudo. Além do mais ele vai ter um filho. Só não conte nada para o seu irmão.
– Ok. Sou especialista em guardar segredos. – Digitou Helionora.
– Como anda as coisas para você aí na UFBA? Continuam te atacando? – Preocupou-se Américo.
– Nada demais. Só me enviaram como "presentes" os quadrinhos pornográficos da Família Sacana, com o nome sacana riscado e substituído por Garuzzo. Falando nisso você tem que ler sobre o Complexo de Édipo e sobre a Atração Sexual Genética. Aí as coisas ficam mais fáceis, pelo menos para a gente.
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Sol em Virgem
Fiction généraleVirgo, uma misteriosa bruxa da capa preta, não se cansava de soltar maus agouros para cima de Gareth. Sua primeira profecia foi um "Cuidado com as semelhanças" lançada no dia em que Gareth chegara a Salvador com seu amigo de cárcere, Leônidas. Depoi...