CAPÍTULO 82
Gareth não gostava nada de cativeiros e ele tinha os seus motivos. Agora, como se tivesse entrado numa máquina do tempo, Gareth fora obrigado a reviver os piores momentos de sua vida. A última lembrança que tinha era que estava no funeral de Marcelo, tendo que lidar visualmente com todos os seus desafetos (com destaque para Mikhael, que nem parecia está sofrendo com a morte do irmão). Em seguida teve que entrar literalmente numa máquina, não do tempo, mas de terror.
– Mona, meu amor, acorde. – Gritava Gareth, dentro do misterioso automóvel. O economista não sabia o que fazer. Até Gabriel, que não chorava com facilidade, caiu em prantos.
– Manda esse teu garoto calar a boca ou eu vou ser obrigada a usar mais um dos meus feitiços. – Disse uma voz familiar a Gareth. Não precisava nem pensar direito: ele sabia muito bem quem usava feitiços para o mal.
– Você que devia calar essa sua boca nojenta, sua vadia! – Respondeu, irritado, o filho de Asia. – Já não basta todo o mal que fez a minha mãe, o mal que fez à sua própria filha e ainda por cima quer ter razão enquanto sequestra eu e minha família?
– Só não faço algo verdadeiramente ruim contigo, rapazinho, porque sua mulher não irá aceitar nada se você estiver morto. – Respondeu Virgo. – Espero que se converta à verdadeira sabedoria mágica. Se conseguirmos isso teremos uma família perfeita ao nosso lado, perfeita no sentido pecaminoso que minha deusa Lilith que gosta! – Debochou a vilã.
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Simonetta já sonhara em fazer sadomasoquismo com Gareth, mesmo com a relutância do marido devido sua traumática vida sexual inicial. Mas aquilo não era sadomasoquismo, apenas um filme de terror. Simonetta estava com mãos e pés amarrados numa cama, vestida de uma camisola florida que não conhecia. Gareth, seu grande amor, estava em um sofá de couro com as mãos e pés amarrados, chorando copiosamente. Por sorte, Gabriel estava dormindo ao lado do pai, em uma cadeirinha de bebê improvisada.
O local em que a família fora mantida refém era conhecido de Simonetta. Na verdade, ela já fora mantida refém ali. Fora ali também que ela conhecera Stella. Ela se lembrara bem daquilo. Na verdade tudo lhe voltou como se fosse uma visão.
A pequena Stella, que mais tarde se tornaria a melhor amiga de Simonetta, só sobrevivera ao cativeiro porque irradiava luz própria. Virgo parecia ter a garota mais como um troféu do que como uma filha: apresentava-lhe às bruxas amigas com ambição. Virgo queria que Stella se tornasse tudo o que ela não podia ou achava não poder ser: a bruxa mais poderosa do mundo, a que traria o conhecimento de Lilith para todos! Simonetta não sabia o porquê a feiticeira má não podia fazer isto por conta própria. Anos depois descobrira que Asia lançara uma maldição sobre Virgo, para que ela e Gareth estivessem protegidos. Virgo não poderia andar livremente debaixo do sol e, quando conseguia isso, recrutava potenciais bruxas para sua missão insensata.
– Gareth, a gente vai sair dessa. Tenha fé! – Surpreendeu a primogênita de Luís Cláudio.
– Mona amada, ainda bem que você está viva. – Respondeu o capixaba. – Ela quer a nossa menina, Mona, você estava certa. Tínhamos que proteger a Olívia mas eu falhei. Eu escutei tua voz, eu pensava que era você, mas ela me enfeitiçou e me jogou no carro.
– A culpa também foi minha, Gare. – Confessou Simonetta. – Eu devia estar do lado do Eden, eu fui pra fora para tirar ele de cima daquela estátua. Mas, como a Alasca chegou e Eden gosta dela, preferi deixar os dois sozinhos. A Alasca teria sentido algo, pois ela também é uma bruxa. Quando deixei-os a sós, a fralda do Gabriel voou e fui atrás. Depois disso não me lembro mais de nada, só quando acordei aqui.
– Foi para aqui que ela te trouxe quando te sequestrou durante aqueles 17 dias? – Indagou Gareth. – Talvez você consiga escapar de novo, como da outra vez.
– Não sei se posso. – Abriu-se a jovem mãe. – Da outra vez eu convenci Stella a fugir do cativeiro comigo. Essa propriedade daqui tem névoas e feitiços para que ninguém possa encontrar e... – Dizia Simonetta quando foi interrompida.
– Ela já acordou, minha mestra! Pode vir para cá. – Exclamou, Mirella, a insaciável delinquente, com olhos brancos brilhantes ao invés dos rotineiros olhos castanhos.
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Virgo estava prestes a realizar o seu maior sonho e Simonetta e a corja pecaminosa de sua família a ajudariam por bem ou por mal. De fato, se alguém fizesse a proposta que Virgo faria à Simonetta, ela aceitaria sem nem piscar os olhos. Finalmente o mundo conheceria a verdade e conhecimento de Lilith! E nada melhor do que usar o filho de Asia, a traidora que lhe impedira a realizar-se por mais de 20 anos, para cumprir os teus desejos!
– Boa noite, meus queridos Garuzzi ao quadrado, não é assim que vocês se chamam? – Cumprimentou Virgo com sarcasmo. – Eu deveria ter-lhes deixado ir ao enterro do meu sobrinho, mas a tentação foi mais forte. Ver a futura bruxa quase saindo da barriga da mamãe foi o ápice, sabe?
– Futura bruxa? – Indagou Gareth. – Você não vai roubar nossa Olívia, Edwirgens!
– Calma, vocês podem ver a filha de vocês crescendo, se aceitarem minha proposta, é claro. – Debochou a bruxa má. – Ah, sim! Ela é uma futura bruxa, porque tem uma aura mediúnica bem mais poderosa do que a da mamãe. Mas não se sinta mal, Simonetta. Se você aceitar minha proposta será mais importante do que qualquer bruxa que pisou nessa Terra, inclusive aquela que se gaba de ser poderosa o suficiente para parir Sananda! Mas, de qualquer modo, o despertar Lilith é o mais importante.
– Eu não vou aceitar nada vindo de você, sua cobra miserável! – Respondeu a mãe de Gabriel.
– Bem, se vocês fossem mansos, estava pensando em tornar toda família bruxa e infiltrá-los na Igreja Católica, mas já que não querem, receio que terei que usá-la para dar carne à Lilith. Isso sim é ser muito mais importante do que aquela outra maldita! Ah! E a neném Olívia servirá de sacrifício. Ou seria melhor o Gabriel? Ou os dois? É uma pena escolherem o caminho mais difícil. – Debochou Virgo, enquanto saia do cativeiro com sua fiel mosqueteira. – Mais difícil pra vocês, porque pra mim será o mais fácil.
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Simonetta sabia que era uma loucura, mas ela ouvira Virgo falar muito bem da bruxa mais importante que pisara na Terra. Será que a Virgem também era a deusa? Simonetta lembrara das pesquisas de Stella. "Nossa Senhora tem os mesmos atributos que a deusa que cultuo", confessou a madrasta de Simonetta. De fato, a estudante de Ciências Sociais, sempre estranha os diversos nomes que a mãe de Deus recebera.
– O que vamos fazer, meu amor? Eu não posso deixá-la te matar e nem os nossos filhos!
– Não se preocupe, meu Gare. – Consolou Simona. – Eu preciso que você me faça lembrar dos feitiços da sua prima, Alasca, daqueles que ele chama pela South's Virgo. Nós vamos invocar à Virgem Maria.
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Sol em Virgem
General FictionVirgo, uma misteriosa bruxa da capa preta, não se cansava de soltar maus agouros para cima de Gareth. Sua primeira profecia foi um "Cuidado com as semelhanças" lançada no dia em que Gareth chegara a Salvador com seu amigo de cárcere, Leônidas. Depoi...