Capítulo 15

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CAPÍTULO 15

No dia 04 de março de 2013, Gareth pediu licença à professora Letícia, de Cálculo 2, para se consultar com Helionora no bloco de Psicologia. A Terra estava quase na mesma posição que estava uns anos atrás, quando um certo evento trágico lhe acontecera. Por essa e outras, Gareth não gostava de aniversários, a ponto de não gostar nem sequer do seu aniversário de nascimento: sim, ele estava cada vez mais próximo dos 18 anos e qualquer deslize poderia ter uma consequência muito mais trágica.

- Desculpe por te incomodar... é que esse tipo de assunto não dá para ser tratado na empresa de seu pai... - Justificou-se o universitário. - Como eu estou aqui na UFBA, decidi pôr meu orgulho de lado e falar contigo. É realmente urgente.

- Sim. Pode me contar tudo que te faz mal, Gareth. - Respondeu a psicóloga.

- Hoje faz cinco anos...

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Simonetta mandou um dos motoristas de seu pai, Tarcísio, parar na S.V. Comunicações em vez de levá-la para escola. Indagada por Mirella sobre o que fazia naquela manhã na empresa de seu avô, afirmou que precisava coletar dados para um trabalho sobre telecomunicações. Mirella era muito intrometida e não poderia saber nada do seu primeiro relacionamento amoroso. Motivo: Salvador inteira também saberia.

Havia um mês e meio que a moça namorava escondido com Gareth e ele ainda não tinha revelado seu segredo para ela. Isso fez Simonetta levantar duas hipóteses: ou Gareth não era flor que se cheirasse (ele tinha um cheiro muito bom, inclusive) ou seu passado era realmente traumático. Simonetta sabendo que seu avô, como todo bom virginiano, guardava informações profissionais e escolares de seus funcionários decidiu agir. O jeito foi acumular R$ 500,00 das mesadas de seus pais para comprar o segurança que vigiava os arquivos pessoais dos empregados da empresa. Demorou cerca de meia hora para encontrar o nome dele.

- Nome: Gareth Gaetano de Jesus. Nascimento: 11 de junho de 1995. - Lia Simonetta. - Tudo bem até agora. Mãe: Asia Setembrino de Jesus.

Simona divagava sobre os documentos do amado até que viu algo comprometedor. Sim, ela esperava que Gareth tivesse feito muito menos do que aquilo.

- Estudou na UNIMES entre setembro de 2007 e setembro de 2009. Motivo da internação: tentativa de latrocínio. Foi um aluno exemplar... - Lia Simonetta, chocada. - Gareth, você me escondeu isso?

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Relembrar tudo aquilo doía até demais, mas Gareth decidiu dividir aquilo com alguém. Quem melhor do que Helionora, uma completa desconhecida que lhe estendeu a mão só por lhe ver chorar?

- Leônidas me encontrou quase morto na cama na manhã do dia 05. Eu estava ensanguentado e cheio de fezes. Leo avisou ao diretor da UNIMES e ele chamou meu tio e minha mãe. Era a primeira vez que eu saía de lá desde setembro de 2007. Pensei que ia morrer. O diretor me algemava enquanto os socorristas me colocavam na maca. Os médicos invadiram aquele buraco para tirar o consolo, mas talvez menos que o Cássio e o Nicholas. Minha mãe apareceu para me ver de longe e, quando ela se aproximou de mim, eu disse o seguinte: "Está feliz agora? Não era isso o que a senhora queria?" Eu afastei-a de mim, mas entenda minha situação, Liô. Depois que passei cinco dias naquele hospital me trancaram numa cela especial e, quando eu saí, aceitei ser usado pelo Cássio e Nicholas de novo, para proteger meus amigos e para que eles não me entregassem para o diretor. Eu furtava o livro de Economia que estava em cima da mesa dele. Infelizmente, me humilhei em vão. O Kelvys foi morto.

- Gareth, eu agradeço por dividir sua dor comigo. Confesso que eu tenho que ser muito forte para segurar o choro e te peço para não se sentir culpado por toda a situação que você passou na vida. Você escolheu um caminho errado. O Cássio e o Nicholas também escolheram, mas decidiram continuar nele. Você aceitou ser subornado por um livro de Economia e hoje você faz Economia. Além disso, ganhou uma valiosa amizade nesse processo. Me diga, com toda a sinceridade: você consegue se imaginar sem a amizade do Leônidas?

- Nunca. Leo é como se fosse meu irmão, o irmão que eu nunca tive. - Confessou Gareth, mesmo infestado pelas más lembranças.

- Pois saiba que eu e Stella também somos suas amigas e vamos te apoiar sempre que você estiver decidido a seguir o caminho que o seu coração mandar, o caminho da paz, do trabalho suado... Vamos combinar que o trabalho lá na empresa do papai é bastante suado. Você ganha seu dinheiro, você estuda a graduação dos seus sonhos, com 17 anos mora longe de toda sua família e é um bom menino. Você passou por tudo isso e ainda é um dos moleques mais fortes que eu conheço. Tem garotos que reclamam da vida por muito menos. Você é um guerreiro, sabe disso, não sabe? Você vai realizar todos os seus sonhos, confie em você.

- Liô, você não precisa me elogiar tanto assim. Você pode me julgar e me xingar sim, dizer que eu fui irracional, mimado, egocêntrico... porque eu fui isso. Talvez eu ainda seja. Quem foge de casa só porque sua mãe não lhe contou que seu pai é dono de uma loja de cachorros e gatos? Ou, pelo menos, é isso que acho...

- Gareth, você podia se abrir nesse ponto aí. Você sabe quem pode ter sido esse seu possível pai? Lembre-se que nem tudo é o que parece. - Alertou a loira.

- Liô, eu não me lembro e eu não posso te dizer tudo, porque eu não sou esse cara tão correto que você acha que me tornei. Vou confessar que te escondo muitos podres e só digo essas coisas porque é isso o que mais me machuca, por enquanto.

- Espero que um dia me conte tudo e que eu lhe ajude a solucionar alguns dos seus problemas.

- Obrigado, Liô. - Disse Gareth saindo do consultório, sem saber que uma bomba maior lhe esperava mais tarde.

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Simonetta sabia que Gareth saia da S.V. por volta das 22 horas. Assim, disse para os pais que precisava fazer um trabalho sobre telecomunicações na casa da Nathalia. A Nathalia dessa vez era um rapaz de mais de 1,80m, olhos azuis-esverdeados e era um traidor. Esperou Leônidas entrar no seu apartamento e barrou o amado (ou ex-amado) na porta do apartamento dele.

- Mona, o que você veio fazer aqui uma hora dessas? - Perguntou Gareth, beijando a namorada no rosto.

- Eu preciso saber por qual motivo você tentou matar um homem quando tinha 12 anos.

Sol em VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora