Música recomendada: Leaves of Yggdrasil, Myrkur.
Lúthien caminha rapidamente, estando bem à frente de seu pai. Talvez essa distância a deixe mais confortável e com a ilusória sensação de estar segura e livre do que viria depois. Bom, ela não sabe ao certo o que virá, mas com certeza não quer saber.
Enquanto seu desespero a impede de raciocinar bem, seu pai caminha calmamente e com expressão serena logo atrás. O homem deixara a raiva e todas as suas consequências físicas para trás.
Lúthien chega à casa primeiro, mas seu pai a alcança ― embora não correu.
A única alternativa que a garota encontrou foi correr para se trancar no quarto, mas a voz autoritária de seu pai a pega de surpresa:
― Tome um banho bem quente. Tem Kniepertie na mesa de Café.
Glykos para e olha para o pai de soslaio. O homem se senta sobre o sofá e pega o seu livro, que está marcado na página 147.
A sua boca entreabre e ela respira fundo antes de continuar o caminho, agora calmamente, para o seu quarto.
A água quente que escorre pelo seu corpo é o suficiente para limpar a pele suja de terra e esquecer o frio que lhe atingia como agulha.
Mas nenhuma água quente é capaz de tirar aquele frio no peito, aquele aperto só de imaginar o que seu pai vai falar ou até mesmo lembrar da vergonha e constrangimento que passou ao ser pega no flagra.
Ela demora no banho e ao pôr roupas propositalmente, postergando o inevitável.
Para sua sorte, sua mãe e os irmãos mais novos estão cumprindo deveres da Congregação e seu irmão mais velho só chegará mais tarde. Conversar só com uma pessoa é bem mais fácil nessa situação.
O problema de passar muito tempo procrastinando algo é que seus pensamentos começam a ficar embaralhados e agitados. Pelo menos no caso de Lúthien. Pensar demais pode fazer procrastinar mais.
Se odiar mais.
Seus pensamentos servem como gatilho para ela começar a ter raiva de si mesma. Por ter saído de casa e encontrado Per, por ter adormecido no meio do bosque e ter sido pega, por ter bebido nos últimos dias, por dever satisfações ao seu pai.
― Ora, o que ele tem a ver com isso? A boca é minha, afinal.
Mesmo que em seu íntimo ela sente que deve informar tudo ao pai, seu ego rebelde ferve em raiva ao ter que expor tudo.
Desistindo de sentir raiva e pensar demais, ela finalmente sai de seu quarto e caminha em direção à cozinha, onde todas aquelas guloseimas a esperam.
Mesmo com o coração saindo pela boca, ela consegue em algum momento ficar ansiosa para comer, já que sua noite fora bem agitada. E a madrugada também.
Håvard permanece na sala, lendo e bebericando o café de vez em quando. Lúthien se sente grata e aliviada por poder comer em paz, sem o olhar de seu pai.
Ela mal percebeu que estava com tanta fome, sentimento que foi aflorado assim que ela pôs o primeiro pedaço de lefse na boca.
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O Violinista no Jardim
Romance"É preciso ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante." Nietzsche. Per Yngve Ohlin tem alguns fascínios. Desde que foi considerado morto por 5 minutos e voltou à vida, ele é obcecado pela morte e todo aquele cenário gótico. Imerso na...