49. E o Caos se Fez

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Música recomendada: When Death Calls, Black Sabbath

Ele poderia dormir ali. Não tenho dúvidas disso. Per consegue dormir até em cima de malas amontoadas no banco de trás de uma caminhonete. O obstáculo é a sua insônia.

Como tudo em sua vida, o obstáculo sempre é interno.

São três horas da tarde e o sol está escondido entre as nuvens escuras. Parece que só faltam alguns minutos para anoitecer.

Ele vira Luka, o Narigudo descer de bicicleta pela rua. Estranhou, pois uma maratona de todos os filmes do Bruce Lee demora quase um dia inteiro.

Enquanto isso, ele se contenta em ficar sentado sobre as gramíneas e as ervas daninhas da frente de sua casa. Não sabe bem o porquê de não ligar para Øystein e pedir a chave. Ele apenas não tem forças para isso.

Mais algumas horas se passam e ele se depara com a completa escuridão. Não há estrelas e nem Lua no céu. O pior de tudo é o frio, que atinge sua pele como pedras pontudas.

O rapaz quer sair daquela situação, mas ao mesmo tempo gosta. É como uma relação de amor e ódio.

Nada saudável.

Seu subconsciente incurável o impede de agir, faz uma perfeita cortina de ilusões, induzindo-o a amar o sofrimento.

Um pequeno ruído o desperta de seu estado meditativo e o faz observar a rua escura.

Øystein vive reclamando da falta de postes naquela parte da vizinhança.

Logo ele consegue ver uma luz prateada a se mexer, e logo ele avista uma menina vestida numa calça preta e um moletom camuflado.

Lúthien sobe o morro que dá diretamente na casa.

Per a observa com ansiedade e excitação. Sua pele clamando por contato. Outro abraço apertado.

― All by myself... Don't wanna be... ― a menina arrisca alguns versos da música quando vê o vizinho completamente só e largado sobre o mato.

Ohlin percebe que até as desafinações da voz doce de Lúthien se tornam adoráveis.

Ela gargalha e corre em direção ao rapaz, sentado-se ao seu lado imediatamente.

― O que faz aqui? Sabia que muitos morcegos passam por aqui nesse horário?

Ele sabe, menina.

― Não contei que chegaria hoje. ― diz como se fosse o suficiente para justificar seu total desleixo.

― Certo... e por que não contou? É uma coisa simples, sabe. É só andar alguns quilômetros, encontrar o telefone público e ligar para alguém.

― Sabe que isso não é da sua conta, não é? ― se Per foi grosseiro? Claro que sim. Mas fora totalmente justo. Ela que deixe ele se afogar sozinho. ― Quer dizer... desculpa, eu só...

― Deve estar cansado e faminto, não é mesmo?

― Isso.

Os dois ficam em silêncio por algum tempo, até que Per resolve se manifestar.

― Me desculpe por... causar um mal estar entre você e seu irmão.

Lúthien ergue o olhar para o rapaz imediatamente, como se tivesse levado o maior susto.

― Vo-você leu a-a carta?

Per apenas balança a cabeça em afirmação.

Glykos fica agradecida pela pouca luz, que impede que seu rubor seja visto por Per. Ela fica constrangida só em pensar que ele realmente sabia da verdade. Ou parte dela.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora