27. O Único Garoto Vivo Em Estocolmo

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Música recomendada: The Only Living Boy In New York, Simon & Garfunkel

― Vamos acordar, seu... ― Anders grita ao arrombar a porta. Ele iria exclamar "vamos acordar, seu monte de merda", mas a visão do inferno que teve o fez se calar.

Ver o irmão completamente nu está longe de se tornar a coisa mais agradável do mundo.

― Você é demente, cara? ― diz Per apressadamente enquanto se enrola na toalha verde.

― Você é nojento. Esqueceu que está na casa da nossa mãe? ― grita Anders. Sua mão tampa os olhos com força.

― Eu estava banhando, seu doente.

Esta é uma das desvantagens de voltar para casa da família. Passar um tempo com os irmãos e pais pode ser divertido e agradável às vezes, mas a falta de privacidade pode se tornar insuportável.

― O que você quer? ― cospe Per enquanto procura algumas peças de roupas jogadas pelo chão.

― Lars vai levar a gente pra pescar.

Mesmo tendo acabado de acordar, Per aceita ir.

No carro só havia Per, Lars, Anders e Mikael, o pai dos garotos.

A separação de Lisa e Mikael fora complicada para Per. Por meses o garoto recusou-se a ver a mãe; e até há alguns anos ele odiava Lars, seu padrasto. Porém, a família continua unida. Mikael e Lars são bons amigos, assim como Lisa e Anna, atual esposa de Mikael.

Eles chegam ao lago Mälaren e arrumam um pequeno piquenique com frutas, tortas e panquecas.

Tiveram que encontrar um lugar mais calmo e menos movimentado, já que com a chegada do verão várias pessoas vão ao lago para nadar.

Assim que todos pegam suas varas de pesca, Ohlin dá um jeito de sair de fininho e se sentar sob a sombra de um álamo. Ele abre uma edição de bolso de O Médico e O Monstro e lá fica até seu irmão aparecer com uma cara emburrada.

― Não vai pescar com a gente?

Per Yngve teve que ignorar o questionamento do irmão e continuar no mundo de Stevenson.

― Sabe, eu achava que ser o irmão mais novo era uma merda. Sempre era você que tinha a última palavra quando nossos pais não estavam; sempre era você que ficava no comando; dizia o que podíamos ou não fazer. Eu queria fazer isso. Mas agora eu vejo que, na verdade, ser o irmão mais velho que é uma merda.

O mais velho solta uma risada fraca e muda a direção do olhar para o irmão.

― Não está gostando de cuidar dos mais novos?

― Óbvio que não! Daniel está ficando cada vez mais rebelde e ousado, Melissa é uma demônia em forma de criança com rosto inocente. Um dia, ela acabou caindo da escada e a culpa foi de quem? Minha!

A Rússia inteira desce pela garganta de Per.

― Caiu da escada? ― grita ― Como você deixou isso acontecer?

Anders se encolhe um pouco. O cabelo louro caiu sobre seus olhos azuis quando ele abaixa a cabeça.

― Olha aí, está vendo? A responsabilidade é toda enquanto que a menina não queria me obedecer. Acredite, fiz de tudo pra ela parar de correr.

Per respira fundo e fecha o livro sem marcar a página.

Desde que chegara, há uma semana atrás, ainda não vira a casula, pois a mesma está num acampamento de colônia de férias em Uppsala.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora