39. O Dia de Sangue

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― Todos nós passamos por problemas. Uns mais que os outros, é claro. Mas sempre devemos interromper nossos pré julgamentos. É essencial ser gentil.

Estão fazendo uma palestra em homenagem a Lúthien.

Patético.

Desde o episódio no começo da semana, os dirigentes da escola resolveram promover atividades que estimulam a paz e compaixão entre os jovens.

Sabe? Para aquilo não repetir-se.

Lúthien ainda está lavando os banheiros e terá de frequentar o cir... o clube de leitura por algum tempo.

Nada de pré julgamentos!

Erik, um dos conselheiros daquele lugar, escreveu um parágrafo no jornal da escola para deixar claro que Lúthien não fora racista e que tudo não passou de um lamentável mal entendido. Não resolveu nada, pois os alunos continuam a evitando e a xingando.

Não que isso não acontecesse antes.

Seja gentil.

Lúthien está sentada na última fileira de cadeiras do auditório, mas ainda assim dá para ouvir a voz fânia da palestrante.

Ela estaria envergonhada e frustrasda com os olhares dos professores e colegas, mas está muito ansiosa por conta da dor forte que sente.

Cólicas menstruais. Fazer o quê?

Ela terá aula de Literatura, mas não se sente nem um pouco animada.

― Você tá bem? ― Erik senta-se ao seu lado.

É preciso compreensão!

― Meu útero está me matando. ― diz ela com sua voz mais manhosa e a careta mais dramática possível.

Erik franze o cenho, deixando seus olhos mais fechados do que já são.

― Está menstruada?

― Isso, pergunte alto. Afinal, estamos sozinhos aqui. ― sua voz sai sussurrada.

― Desculpe.

― Quando essa palestra vai acabar? Estamos aqui há horas!

Erik ajeita os óculos e levanta o pulso para checar o horário.

― Só passaram quarenta minutos.

― Ora, quarenta minutos se tornam vinte e quatro horas para uma menina com dores menstruais.

Ainda bem que ela não tem TPM.

― Por que veio, então? Como vai estudar com tanta dor?

― Porque eu tenho compromisso. Esqueceu que eu preciso lavar os banheiros todos os dias?

Erik sorri e balança a cabeça negativamente.

A palestra finalmente se encerra, mas a palestrante de voz irritante se propõe a responder cinco perguntas. Todas elas desinteressantes para esta história.

Ao sair do auditório, todos que lá estavam sentiram o choque que a luz do sol trouxe. Lúthien fica parcialmente cega por um momento e Erik... bom, ele já é parcialmente cego.

Ele observa a menina de 1,85 ao se lado e se espanta ao notar os lábios, antes rosados e delicados, com uma cor quase roxa e totalmente murchos. E a pele está mais pálida que o normal.

― Você comeu nesta manhã, Luffie?

A menina o olha com a testa franzida e assente.

― Você está pálida. E suas olheiras estão escuras.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora