34. Deixe-a Sozinha

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Azeitonas.

Ela amava aquela música... Oh oh oh oh and she's buying a stairway to heaven...

A canção se encaixava muito bem na ocasião. A diferença é que ela não comprou a escada, e sim, fora dada como um presente. Ou uma maldição, no olhar da menina.

A verdade é que me sinto culpado às vezes. Sim, por mais que eu seja bom no que faço, por mais que já estou acostumado a fazer isso, ainda é difícil ver as consequências. Até porque eu me enganei na primeira vez e acabei machucando mais pessoas depois.

Mas fazer o quê? Há coisas que não podemos mudar.

A menina está sentada sobre um degrau da escada para o porão, e escuta uma música sobre uma escada para o Céu. Irônico, não?

Mas esqueça isso. O passado não existe, se me permite dizer. Ele é apenas uma ilusão.

O hábito de mexer nas unhas pode ser muito útil naquela situação: estar sentada sobre uma cadeira desconfortável, menor que suas costas, com duas pessoas furiosas ao seu lado e uma autoridade olhando diretamente para você.

Não deve ser nada legal sentir sua testa e seu nariz latejar de dor.

Lúthien aproveitaria para arrancar uma pequena pele no canto da unha enquanto recebe broncas da diretora de sua escola.

A sala em que estão é um pouco claustrofóbica: não por ser pequena, mas por ser... intimidante. A luz que atravessa a janela torna o cômodo amarelado, o cheiro de álcool preenche todo o lugar, há uma imitação de cabeça de alce na parede olhando diretamente para Lúthien e o cheiro forte do perfume da mulher a incomoda.

― Muito bem, quero saber exatamente o que ocorreu naquela cantina antes de eu chegar. ― diz com o olhar rígido. ― Quero que vocês duas falem em inglês, para não o excluímos. ― ela direciona o olhar para Lúthien, que está no meio, e Thora, que está a sua direita.

Por que eu sou obrigada a falar em inglês no meu país? Ele que deveria ser obrigado a falar em norueguês! Pensa Lúthien, mas, felizmente, ela apenas assente.

― Você ainda não sabe falar em norueguês? ― ela pergunta, em um tom de descrença.

Milton, ainda sério, vira a cara para ela e dá de ombros.

― Um pouco. É um idioma complicado. ― diz, em inglês.

― Muito bem ― a diretora diz ― Milton, começando por você.

O rapaz africano está sentado a esquerda de Lúthien. Ele se mostra desconfortável com a cadeira pequena também.

Não há acessibilidade para idosos, para obesos, para anões e nem para pessoas altas nessa escola! Que falta de respeito. Ela resmunga mentalmente.

― Eu apenas caminhava pela cantina, e por acaso, passei perto dela. Ouvi algo do tipo "mãos nojentas", e então ela começou a me espancar.

Lúthien abre a boca para falar, mas o olhar da diretora vai para Thora. O que a deixa confusa, pois, linearmente, ela seria a próxima a falar.

― Thora?

― Eu a vi bater em Milton e apenas me aproximei para afastá-la. Não tive nada a ver com esta confusão.

A diretora assente e seu olhar se direciona à Lúthien. A menina pôde ouvir um suspiro por parte da mulher.

― Lúthien? Por que bateu em Milton?

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora