82. Queimaduras

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Música recomendada: Like Gods of The Sun, My Dying Bride

O sol machuca um pouco a sua visão. Calor é ótimo, mas detesta a parte de ter que lidar com a claridade da estação.

Mas procurar por Lúthien naquela ocasião é ótimo. Durante a noite, jamais a teria encontrado pelos becos de Bergen.

Todos no bar acharam estranho a garota ter saído repentinamente... e logo em seguida, Per largar sua refeição para ir atrás dela.

Depois de alguns minutos, e longas pernas caminhando velozmente, ele não tinha esperanças de encontrá-la. Até que viu de longe um cabelo louro e vestido dourado por aí.

Lúthien está nitidamente desconfortável. Puxando o vestido para baixo como se ele fosse crescer alguns centímetros com os seus puxões.

Per acelera o passo até conseguir se aproximar mais. Só que ele não ensaiou muito bem o que diria.

— Lúthien?

A garota se vira imediatamente. Os olhos arregalados, os punhos fechados de forma tão bruta que é possível ver as veias se estufando.

— Tem que parar de me assustar, Pelle. Um dia eu acabo te esmurrando.

Ele não duvida disso, óbvio. Mas não via outro jeito de se aproximar.

— Desculpe — os dois param no meio da rua, ninguém passa por lá no momento, e Per não tem ideia de onde está — Tudo bem? Saiu de repente do bar.

— Só estava cansada — ela suspira.

— Quer trocar de roupa e tirar toda essa maquiagem, não é?

Ela sorri e assente.

— Sou tão previsível.

Pelle não sabe exatamente onde está, mas sabe o caminho que deve tomar para ir à casa em que está hospedado.

Nessas horas, danem-se os bons modos:

— Vem, eu posso te ajudar. — repentinamente, ele pega na mão sardenta de Lúthien, que se surpreende com sua atitude.

Per Yngve Ohlin não é do tipo que toma iniciativa quando se trata da sua amada/odiada.

Os dois caminham juntos pelas ruas de Bergen. A mão de Per queimando a pele da jovem. Pela primeira vez, ele se sentiu grande (mesmo que sua mão seja menor), sentiu que oferecia proteção a garota encolhida e envergonhada pela própria aparência.

Ele a conhece tão bem.

Sente por todos os poros de seu corpo que ela está desconfortável naquela roupa, naquele sapato, naquela maquiagem...

Sente tão intensamente que poderia sangrar.

— Pelle... — a voz de soprano brinca com seus sentidos.

— Confia em mim.

É difícil confiar em alguém que não confia em si mesmo. Mas mesmo assim, ele tenta.

Chegando a uma parte mais residencial do bairro, ele procura pelo prédio em que está hospedado, não tendo muita certeza para onde está indo. Porém, sua mão cobre a de Lúthien. E isso não o permite fraquejar.

É como se ele tivesse pego a missão para si e sua honra dependesse disso.

O rapaz não tem coragem de olhar na cara de Lúthien agora. Não enquanto estiver como uma barata tonta.

Foi quando finalmente avistou o prédio velho.

Os dois entram no pequeno apartamento, desarrumado e fedorento.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora