74. Eu sou real, e você não

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Música Recomendada: Mary, Alex G

— Pelle! — ele chama novamente — Que merda! Pelle, abre a porta.

Øystein está há alguns minutos batendo à porta, mas sem respostas. Assim como disse, ele passou todo o final de semana fora de casa e só volta agora, na Segunda-Feira.

Jan ainda está fora da cidade e sem previsão de volta. Jørn está convalescente e não quer nem pensar em sair de sua cama cheia de cobertores quentinhos para ir ensaiar numa casa mal aquecida.

E Øystein cogita dormir em outro lugar, já que não foi atendido por Per.

— Pelle!

Os ruídos na porta de madeira são sua resposta. A madeira range ao abrir e expõe a figura que define a miséria.

Cabelo desgrenhado que cobre o rosto, cheio de caspa e uma aparência oleosa. As roupas tão amassadas que parecia ter acabado de sair de uma luta. A pele amarelada e expondo a preocupante magreza.

Ainda bem que os fios loiros cobrem seu rosto, que se encontra inchado. Os olhos fundos e cobertos por uma cor escura e roxa. A barba dourada está mais evidente agora.

Per sempre duvidou muito sobre ser humano.

Carne, ossos, sangue, caga e peida... totalmente mortal.

Mas humano?

Não, ele não parece um humano naquele momento.

Per não se sente um homem. As emoções, os sentimentos, as dores, os desejos... ele não percebe isso.

Que babaca.

Nesse momento existe uma mistura perigosa de ódio, amor e depressão em seu íntimo. Mas o pobre rapaz não sabe interpretar aquilo. É um verdadeiro mistério para si mesmo.

— Não se pode mais esconder um corpo em paz?

— Sai da minha frente, babaca! Custava abrir a porta mais rápido? Estou aqui há 20 minutos — Øystein passa por Per enquanto reclama.

O sueco permanece calado, mas caminhava de volta ao seu quarto quando Aarseth o interrompe:

— Tenho boas notícias. Vou montar nosso próprio selo.

— E de onde tirou essa ideia? — Per estava acostumado com os informes sensacionalistas do guitarrista, mas fundar a própria gravadora é um pouco demais.

Øystein abre sua mochila que está mais rasgada que a de Per. As mãos pequenas procuram algo lá dentro.

Ele pega um papel específico e mostra para o rapaz.

— Masacre?

— É — Øystein se joga no sofá e abre a garrafa de coca-cola que estava na sua mochila — Eles querem gravar um álbum e lançá-lo aqui, na Noruega. É a nossa chance, vou fundar minha gravadora e vamos lançar bandas com a nossa ideologia.

Per nota a bíblia satânica caída no chão. O livro caiu da mochila enquanto Øystein procurava pela carta.

— Temos material suficiente para lançar um álbum nosso desde o ano passado, e você quer lançar o álbum dos outros?

Desde a época inspiradíssima que teve pouco depois de entrar para a banda, o rapaz havia feito 7 músicas e já estava fazendo a oitava.

— Você não pensa no futuro, Pelle — Øystein revira os olhos e se estende para pegar o controle da TV — Isso é um investimento. Se lançarmos uma série de bandas, mais vão nos procurar, e logo ficaremos populares.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora