83. Pandora

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Música recomendada: girl of my dreams, Guti

Antes sua pele estava branca, quase amarelada. Agora, parece que ele recebeu uma bolsa de sangue direto na veia.

Os braços marcados em vermelho... Em alguns pontos se tornando roxos, ou verdes. Micro hematomas em sua pele fina.

Ele notou os padrões depois de ocorrer tantas vezes.

Lúthien chora baixo, tremendo, soluçando. Mas quando o pranto se intensifica, ela quer gritar, se contorcer.

Mas é óbvio que a garota suprime até a sua parte mais real.

E quando o soluço é mais forte, ele pôde sentir as mãos grandes da garota apertando seu braço. E após alguns segundos, ela o solta.

E torna a apertá-lo.

Sua respiração pela boca, o nariz ranhoso, os olhos dolorosamente inquietos...

Ah, os olhos!

Aquele azul profundo, infinito, misterioso, imprevisível, perigoso, detentor de tantas histórias que ninguém podia imaginar.

Ele pode ver tudo através daqueles olhos, mas sempre será um mistério. Ele vê, vê... mas nada adianta, porque sempre haverá mais coisas pra ver e entender.

Per sempre estudou sobre a vida pós-morte, mas a definição de alma era um mistério. Porém, ao observar os olhos de Lúthien, pode ver que eles carregam aquela essência, a alma assustadora que revela a infinitude do ser.

Tão intenso, tão verdadeiro, tão doloroso.

Ele não sabe de nada, apenas sente. Ainda bem. Sentir é o mais fundamental das ciências, mas ele ainda não entendeu isso.

― Que droga. Agora vou ter que voltar pra casa com esse rosto inchado de choro. ― ela ri. Um riso que não se reflete em seus olhos.

Uma incógnita ambulante.

― Por que estava chorando? ― não é muito do feitio dele perguntar isso. Geralmente, quando se trata de Lúthien, ele apenas fica calado e observando.

O rosto vermelho, os olhos inchados, o nariz ranhoso... ainda bem que ela limpou a maquiagem antes de chorar daquele jeito.

Sua cabeça se abaixa num constrangimento pensativo.

― Não sei.

Per suspira, já com a certeza de que ela estava mentindo, mas logo volta a falar.

― Quer dizer, são várias coisas. ― ela levanta a cabeça e Per nota os olhos transbordando lágrimas que ainda insistem em molhar o rosto dela ― A maquiagem, a roupa, o choque de ouvir que Thora está grávida de Jørn, meus irmãos que ficaram em recuperação, meu pai que está brigando comigo, minha mãe que vem aí... eu não... não sei. Talvez seja uma bola de neve que despejei tudo agora.

Per já sofreu muita coisa em sua vida, mas Lúthien foi a pior delas. E a melhor também. Poucas pessoas o machucaram tanto como o ser que está diante dele agora. A humilhação, a comparação, a pressão, a vergonha de si mesmo...

Mas ele odeia vê-la sofrer. Per Yngve Ohlin prefere sentir a dor no lugar dela, se isso significar que ela não padecerá mais.

― Pode ser o período menstrual chegando também. ― ela sorri mais uma vez.

― Fica mais sensível?

― Eu não gosto de chorar, mas os hormônios adoram se desestabilizar.

Os dois ficam em silêncio. Cada um esperando, concentrados demais em seus objetivos. No caso, Lúthien aguardava impaciente o seu rosto retornar ao estado normal; Per aguardava a garota ficar bem.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora