44. Irmão

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Como isso foi acontecer? Por que logo comigo? Por que logo quando não estava aqui?

Estas foram as perguntas que mais se passaram por sua cabeça nos 60 minutos que está naquele corredor de hospital.

O cheiro de produtos de limpeza, a cor branca por todos os lugares que olha, os ruídos de choro de seus irmãos mais novos... tudo contribui para deixá-lo a ponto de um surto.

— Eu não quero que Anders morra, papai. — Melissa choraminga para Lars.

— Não diga tolice! Ele vai estar novinho em folha num piscar de olhos.

Nem mesmo Daniel manteve a postura orgulhosa por muito tempo: está jogado no colo da mãe enquanto soluça.

Per acha tudo muito injusto. Vê Lars e seu pai andando de um lado para outro em busca de informações, em busca de algo para comer e beber, e procurando a melhor forma de consolar, enquanto que as mulheres e os filhos mais novos estão sentados e lidando com a dor do jeito tradicional.

Per queria ser abraçado, queria choramingar no colo da mãe, queria ser tratado, não como alguém que consola, mas como alguém que precisa ser consolado.

Sua mãe o abraçou e falou algumas palavras de boas vindas, mas ela está quebrada, fraca. Seus olhos mais parecem dois buracos negros. Anna está do mesmo jeito.

Ele observa a todos ali. A indiferença dos médicos, a tristeza nos olhos de toda a sua família e a tristeza disfarçada de força nos olhos de Mikael e Lars.

Seus olhos começam a marejar e logo ele se levanta e quase corre em direção à parte externa do hospital.

Algumas pessoas de sua família o chamam, mas não o seguem. Talvez por cansaço. Talvez por medo.

Na verdade, já estão acostumados com o jeito de Per.

Pelo menos o ar fresco o consola e tira aquela sensação de sufocamento que tinha dentro daquele espaço.

Tudo é tão pacífico entre os grandes álamos por perto. Nem mesmo a ventania forte quebra tamanha calma no ambiente.

Suas madeixas loiras voam e brilham com o sol daquela manhã; aquela maravilhosa luz dourada não permite que seus olhos azuis se escureçam em sua melancolia tímida, mas faz questão de expôr as lágrimas que descem lentamente por sua pele.

Ele caminha um pouco e resolve sentar-se num banco de madeira, entre duas bétulas, e deixa-se desmoronar.

Os braços cruzados apertam contra a barriga, numa tentativa de amenizar o frio. Seu corpo se contorce em espasmos violentos causados por seu esforço em cessar o choro. Em esconder o choro.

Logo a dor o vence e sua respiração torna-se mais rápida e superficial.

No meio de toda aquela tranquilidade, um rapaz com uma séria crise de choro, que clama por ar, é apenas um pequeno detalhe. Um dispensável detalhe.

― Pelle? ― o Universo quer brincar com ele hoje.

Sim, tenho raiva de Per. Ódio, na verdade. Mas, acima de tudo, eu o amo. Eu o conheço tão bem.

O rapaz queria ser consolado e mimado, porém, assim que vê a figura ruiva diante dele, arrependeu-se de todos os seus desejos.

O antigo amigo o observa com cuidado e empatia, os olhos frenéticos acompanham suas lágrimas.

― O-oi... ― é tudo o que Per consegue dizer diante de toda aquela humilhação.

Jens coça a nuca, por baixo de todo aquele cabelo avermelhado, e se senta ao lado do amigo. Ambos não sabem o que dizer ou o que fazer. Per se sente grato pelo amigo não abrir a boca pra falar nada enquanto que ele tenta se acalmar.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora