18. Azeitonas

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... com uma suspensão de 15 dias e mais louças para lavar durante esse tempo...

O recém contratado lia atentamente o histórico escolar da aluna. Este seria o seu segundo "caso" apenas naquela semana.

Seu dedo indicador arruma o óculos que estava quase na ponta do nariz.

Antes de terminar de ler as laudas, dois toques tímidos na porta de madeira o tiram de sua concentração. Ele manda a pessoa entrar.

A menina loira entra lentamente e com timidez. De imediato, Erik se impressiona. A garota parecia ser bem diferente da descrição do histórico ‒ pelo menos em sua imaginação.

A garota é grande de estatura, mas magra e desengonçada, a pele pálida e exageradamente sardenta, seu cabelo cacheado está na altura da cintura.

Conselheiro Erik Heidi? pergunta, com a voz mansa. Ela parece confusa, não sabia o que fazer exatamente.

―Eu mesmo. Lúthien Quisling... an... ?

Glykos. E pronuncia-se Lúfien. ela corrige.

Você é norueguesa mesmo? diz ele impressionado Ora, sente-se.

Ela caminha lentamente à poltrona de couro marrom. Lá senta-se e começa a mexer na unha.

Sou nascida na Suécia, mas meu pai é norueguês e minha mãe é grega. explica.

O rapaz nipônico balança a cabeça positivamente.

E o senhor? ela pergunta.

Ah, sou norueguês, mas venho de família japonesa. E por favor, não me chame de senhor. ele oferece café para a menina, que nega no momento Bom, acho que já deve saber o motivo de estar aqui. Quero saber como se sente com tudo isso.

Lúthien suspira e coça a cabeça.

― Me sinto... mal. Mas ao mesmo tempo me sinto aliviada. E ao mesmo tempo ressentida. ‒ ela tenta explicar.

― Se arrepende do que fez?

― Não sei. ‒ diz e começa a roer a unha.

― Não sabe se está arrependida? ‒ Erik fica confuso.

― Sinto várias coisas e não sei peneirar tudo isso. Então, não, não sei se estou arrependida.

Erik pega sua caneca e bebe um pouco do café amargo que está lá.

― Podemos trabalhar nisso, se quiser.

― Tenho escolha?

― Claro que sim. Não vamos te obrigar a nada.

Lúthien solta uma risada abafada.

― Vocês me obrigam a tirar notas boas em matérias que eu nem gosto. Além disso, a diretora me odeia. ‒ continua a roer as unhas.

― Não diga tolices. Eu li seu histórico e parece que isso não é tão recente.

― E não é mesmo.

Um silêncio constrangedor toma conta da sala por alguns segundos até que Erik resolve continuar.

― Podemos trabalhar nisso. Podemos te ajudar, mas apenas se vocês quiser.

Ela encosta seus cotovelos sobre a mesa de carvalho e passa os dedos pelos cachos, desmanchando-os.

―Você acha o meu cabelo feio? ‒ diz ela.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora