... com uma suspensão de 15 dias e mais louças para lavar durante esse tempo...
O recém contratado lia atentamente o histórico escolar da aluna. Este seria o seu segundo "caso" apenas naquela semana.
Seu dedo indicador arruma o óculos que estava quase na ponta do nariz.
Antes de terminar de ler as laudas, dois toques tímidos na porta de madeira o tiram de sua concentração. Ele manda a pessoa entrar.
A menina loira entra lentamente e com timidez. De imediato, Erik se impressiona. A garota parecia ser bem diferente da descrição do histórico ‒ pelo menos em sua imaginação.
A garota é grande de estatura, mas magra e desengonçada, a pele pálida e exageradamente sardenta, seu cabelo cacheado está na altura da cintura.
― Conselheiro Erik Heidi? ‒ pergunta, com a voz mansa. Ela parece confusa, não sabia o que fazer exatamente.
―Eu mesmo. Lúthien Quisling... an... ?
― Glykos. E pronuncia-se Lúfien. ‒ ela corrige.
― Você é norueguesa mesmo? ‒ diz ele impressionado ― Ora, sente-se.
Ela caminha lentamente à poltrona de couro marrom. Lá senta-se e começa a mexer na unha.
― Sou nascida na Suécia, mas meu pai é norueguês e minha mãe é grega. ‒ explica.
O rapaz nipônico balança a cabeça positivamente.
― E o senhor? ‒ ela pergunta.
― Ah, sou norueguês, mas venho de família japonesa. E por favor, não me chame de senhor. ‒ ele oferece café para a menina, que nega no momento ― Bom, acho que já deve saber o motivo de estar aqui. Quero saber como se sente com tudo isso.
Lúthien suspira e coça a cabeça.
― Me sinto... mal. Mas ao mesmo tempo me sinto aliviada. E ao mesmo tempo ressentida. ‒ ela tenta explicar.
― Se arrepende do que fez?
― Não sei. ‒ diz e começa a roer a unha.
― Não sabe se está arrependida? ‒ Erik fica confuso.
― Sinto várias coisas e não sei peneirar tudo isso. Então, não, não sei se estou arrependida.
Erik pega sua caneca e bebe um pouco do café amargo que está lá.
― Podemos trabalhar nisso, se quiser.
― Tenho escolha?
― Claro que sim. Não vamos te obrigar a nada.
Lúthien solta uma risada abafada.
― Vocês me obrigam a tirar notas boas em matérias que eu nem gosto. Além disso, a diretora me odeia. ‒ continua a roer as unhas.
― Não diga tolices. Eu li seu histórico e parece que isso não é tão recente.
― E não é mesmo.
Um silêncio constrangedor toma conta da sala por alguns segundos até que Erik resolve continuar.
― Podemos trabalhar nisso. Podemos te ajudar, mas apenas se vocês quiser.
Ela encosta seus cotovelos sobre a mesa de carvalho e passa os dedos pelos cachos, desmanchando-os.
―Você acha o meu cabelo feio? ‒ diz ela.
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O Violinista no Jardim
Romance"É preciso ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante." Nietzsche. Per Yngve Ohlin tem alguns fascínios. Desde que foi considerado morto por 5 minutos e voltou à vida, ele é obcecado pela morte e todo aquele cenário gótico. Imerso na...