1. Impotência

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Música recomendada: Dust in The Wind, Kansas

Janeiro, 1988

Por diversos motivos um avião pode cair: falta de gasolina, uma tempestade horrível, negligência dos técnicos que fazem manutenção, bombas e o preferido de Per: um corvo ser sugado para dentro de uma das turbinas. Por que não?

― É tão alto ‒ a senhora ao seu lado comenta. Ela segura um terço enrolado em sua mão com força, como se quisesse que ele fizesse parte de sua pele.

Per não sente medo da altura, nem dos balanços. Talvez a consciência de que aquele amontoado de metal poderia cair pudesse ajudá-lo a dormir.

Para ele é algo cansativo. Tipo, "senhores, o avião vai cair e não tem nada o que possam fazer além de rezar". Sabe? Apenas foda-se tudo e morra.

A imagem das pessoas levantando-se, chorando, gritando, se apavorando e outras coisas o fazem relaxar. O caos o relaxa.

Além disso, o que mais poderia fazer?

Enquanto o sono não chega, ele se satisfaz observando os campos nórdicos de cima. Há pouco verde e mais cinza da névoa. É, o inverno está chegando.

― Preciso do meu remédio... ‒ diz a senhora antes de pegar uma sacola e pôr tudo para fora.

O outro rapaz que está sentado junto deles faz uma careta de nojo, enquanto que Per continua em outros mundos.

Como é a Noruega? Ele se pergunta. Claro, um rapaz acostumado com a grande capital que é Estocolmo nem imagina como deve ser viver numa pequena comuna no interior da Noruega. Mas ele acha que consegue.

Per suspira e senta-se ereto sobre a poltrona, até que aqueles pensamentos voltam.

Deixar a família e tudo o que conhece para trás em troca de ser um vocalista numa banda de outro país é algo que beira a burrice. Ainda mais considerando que a banda não é lá tão famosa e nem recebe muito dinheiro.

Como seria nessa nova banda? Eles o aprovariam? Gostariam de sua voz? E se tudo der errado e ele ter de voltar para Suécia?

Não, não, não. Ele silencia todos os pensamentos precipitados e pessimistas. Respira fundo e fecha os olhos.

Não há nada que ele possa fazer agora.

Um barulho agudo soa pelo avião. A quentura sobe e logo após, gritos.

Não há nada que ele possa fazer agora.

Os movimentos bruscos fazem todos ali sentirem enjôo. A sensação de estar caindo é peculiar. Como se você estivesse numa montanha russa, mas sem cinto.

Ele sente sua pele arder com o aperto da senhora ao seu lado. Sente o fogo se aproximar. Eles estão caindo no inferno?

De repente, uma fumaça preta cobre toda a sua visão; o frio atingia a sua pele como agulhas, os gritos distantes lhe desorientam. Sangue desce por seus ouvidos e seu nariz. Mas ele continua de olhos fechados, deixando toda aquela confusão ocorrer sem um espectador calmo.

Pessoas correndo de um lado para o outro, vomitando, cuspindo, gritando, desmaiadas, chorando.

Seus olhos azuis se abrem rapidamente. Era apenas um sonho.

Ele acorda com o ruído de vômito da senhora ao seu lado e observa a aeromoça trazer algumas cápsulas.

Os minutos se passam e finalmente ele sente o avião descer.

Bom, é agora ou nunca. Ele chegou ao solo norueguês. 





Per:

Sim, a história está bem confusa

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Sim, a história está bem confusa. Mas logo tudo irá se encaixar. Eu prometo. 

Quanto a história ser bizarra: acho que vou fazer um capítulo específico explicando tudinho. Esse livro terá várias situações doentias, então acho que preciso avisar as pessoas mais sensíveis.

É só isso mermo.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora