57. A Verdade Destrutiva

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Música recomendada: The Unforgiven, Metallica

Mesmo a ponto da exaustão por conta da longa viagem, Lúthien precisou de apenas 5 horas de sono e já estava desperta e preparada na manhã seguinte bem cedo. Decidida a fazer trilhas naquele dia, ela ficou decepcionada ao ver a forte névoa cobrindo tudo ao seu redor, escondendo os montes, as florestas e até a vista para o mar. 

— Tio, eu estou querendo… — Ela é interrompida pelas risadas do irmão de sua mãe. 

— Posso adivinhar: está querendo fazer caminhadas por aí, não é mesmo? 

Na mosca.

Todos estão reunidos na cozinha, onde é servido o café da manhã. Giorgos prepara algo no fogão industrial do tio e Melina e Håvard tomam café e comem doces. 

Apesar de estar cedo e frio, o ar fresco que a localização da casa proporciona mantém a todos bem dispostos. 

— Lúthien, nem invente! Está um gelo lá fora. Sem contar com a baixa visibilidade. Você viu como está o nevoeiro? — seu pai alerta. 

— Mas eu quero fazer trilhas pelo Monte Ainos e visitar a caverna Melissani. — Lúthien soa como uma criança mimada enquanto pega os ovos mexidos que Giorgos fizera. — E também quero tomar banho de mar. 

— Banho de mar? Nesse frio? — Giorgos ri. 

— As águas do Mar Jônico podem ser bem quentinhas. — ela se defende. — E eu quero nadar. Que saudade das praias gregas! Qualquer coisa é melhor que o mar da Noruega. 

— Lúthien, uma fruta verde amadurece lentamente! Está muito frio e a previsão é de chuva forte. Além disso, as águas não estarão tão azuis como no Verão. — Nikos explica à sobrinha, que suspira e desiste da discussão. 

O resto do dia passou-se rapidamente, Lúthien se contentou em ler um dos infinitos livros da coleção de seu tio, que dá inveja em qualquer um. A biblioteca pessoal tem vários nomes da Literatura mundial, livros raríssimos sobre História e Filosofia, além de itens adquiridos em leilões importantes.

Nikos é um homem respeitado no meio acadêmico da Grécia, sendo chamado frequentemente para palestras em Universidades nacionais e internacionais. 

No mais, Lúthien tem uma mina de ouro na própria família. 

— Quer brincar de boneca comigo? — Lúthien dá um salto, assustada. O exemplar de Kama Sutra cai aberto no chão. Apressada, ela pega de volta e evita que a prima mais nova veja qualquer coisa. 

— An, chame Alex e Andreas. — ela diz antes de sentar-se novamente na poltrona de frente para a lareira, que está acesa. — Oh, pergunte quando o almoço ficará pronto. Estou com fome. 

— Alex e Andreas não querem brincar comigo. — Eleni segura suas bonecas de plástico e pano, apreensiva pela resposta de Lúthien. 

A garotinha é uma cópia de sua tia, Melina. O que Lúthien acha injusto, já que não puxou nenhuma característica da mãe. 

Eleni sempre estava sozinha naquele casarão. Não há vizinhos e nem irmãos para brincar e por seu diagnóstico em TDAH*, ela é solitária em sua escola. 

— Muito bem, vamos brincar — ela fecha o livro e o guarda na prateleira, no lugar exato de onde pegou. Não correria o risco de descobrirem que ela estava lendo tal livro. — Vamos brincar do lado de fora, que tal? 

Eleni concorda e as duas caminham para o quintal da casa, onde ainda há muita neblina cobrindo as árvores e o lago. 

As duas se sentam sobre a terra úmida e pedras, abaixo de um cedro. O frio é abafado pelos casacos que pegaram antes de sair. 

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora