O Violinista no Jardim

3. Ter Medo de Tudo?

Música recomendada: Radio Gaga, Queen

Dizem que para se ter uma overdose de maconha são necessários 680kg em até 15 minutos. Ou seja, é necessário fumar mais de 20 mil cigarros. Então a overdose dessa substância é algo quase impossível (se você considerar apenas o fumo).

Per não considera este fato enquanto passa dez minutos, aproximadamente, tentando forçar um vômito sobre a privada, mas não conseguia. É como se seu corpo estivesse vazio.

Talvez a expressão não está tão errada assim. Ora!, desde que chegara àquela casa, que ele batizara carinhosamente de Inferno, não havia comido nada, e se não fosse por Øystein, nem água havia bebido.

Jørn e seus amigos ficaram mais interessados em beber e se drogarem naquela noite.

Eles não pareciam gostar muito dele, mas Ohlin achou justo e recíproco. Chegara ali como um verdadeiro invasor e não tinha coragem de puxar uma conversa grande. É um filho da puta tímido e dependente. Palavras dele, não minhas.

Ele lembra dos primeiros segundos em solo norueguês. Caminhou pelo aeroporto completamente distraído por seus pensamentos covardes. Sentia medo, sentia isolamento, sentia ansiedade. O coração apertando a cada passo para longe dos portões de desembarque.

Quando chegou à escada rolante, vira dois rapazes baixos, de longos cabelos escuros e roupas pretas de couro. Ele teve a certeza de que eram os seus futuros companheiros de banda. Isso antes de ser agredido pela velhinha.

Oh, maldita velhinha.

Aquela sensação ainda permanecia: o coração batendo rapidamente, as mãos suando e as pernas bambas. Nunca se sentiu tão nervoso. Mas tudo piorou quando conheceu os amigos deles. Bêbados e com olhares tão julgadores e arrogantes. Quem pensavam que eram?

Per pensou várias vezes em se impor, em fazê-los respeitá-lo apenas com postura, como faz o seu pai. Porém, ele não se sentia pronto para isso. Mal podia formar uma frase inteira sem gaguejar.

Seu pai alertou, mas ele não sabia que seus anfitriões o incentivariam a usar substâncias ilícitas tão cedo.

Pelo menos, ele terminou de ler a coleção completa de Tomb of Dracula, e Øystein Aarseth o tratou bem.

Eu realmente não sei como se sente agora, mas relaxe. Fui para Alemanha uma vez, sozinho. É apavorante nos primeiros dias, mas depois você se acostuma, eu garanto, disse ele enquanto lhe entregava um copo d'água.

― Merda, merda, merda – sussurra para si ― essa coisa vai me matar?

Ele passa as mãos pelo rosto, arrastando-as para o cabelo e puxando-o fortemente. Suspira alto.

Se sente sujo, impuro. Sente nojo de si mesmo. Usara uma substância que ele sempre rejeitou e odiou. O que seus pais diriam? O que seus irmãos diriam?

Ele levanta-se do chão gélido, e se olha no espelho do banheiro.

― Eu quero ir pra casa.

― Não, você não quer. É apenas uma primeira impressão que nada tem a ver com a realidade. Espere e verá. – conversa com sua imagem no espelho.

Um barulho forte fora do banheiro interrompe a breve conversa. Podia jurar que seu coração havia parado de bater num segundo. Após o baque, ele ouve Simon gritando e os outros imitando.

― O que dizia sobre primeira impressão? Eles me odeiam! Preciso voltar para casa – solta o ar pela boca e põe as mãos na bancada da pia. Com as mão em concha, molha o rosto e observa-se diante do espelho.