20. Exageros

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ATENÇÃO: EU REVISEI ESSE LIVRO, ENTÃO NÃO SE PREOCUPEM. O CAPÍTULO ESTÁ CERTO! 


Desde que chegara ali, Lúthien não se desgrudou de seu livro e um pequeno caderno de anotações.

Introduction to Quantum Mechanics dizia a capa azul do livro. Erik não entende muito o inglês, mas consegue identificar do que se trata.

O pequeno ruído do lápis sobre o papel é o único barulho em meio a todas aquelas prateleiras da biblioteca.

Logo alguém os tiraria de lá: é proibido estar no fundo da biblioteca. Principalmente se você carrega uma mochila.

― Por que não lê esse livro sobre uma mesa? O chão daqui é gelado! ‒ ele tenta soar o mais zangado possível com a voz sussurrada.

Lúthien ignora a sugestão do amigo e apenas estica mais as longas pernas. Uma parte de sua pele é exposta quando a saia xadrez sobe. Erik pode ver os pelos dourados nela. Como pode uma menina tão peluda?

― Não entendendo porquê fica lendo esses livros. Você nem ao menos estuda isso em sala de aula ‒ comenta.

― E daí? É legal. Escola, não ‒ vocifera, mas no segundo seguinte se recompõe.

― Uh, está bem.

A menina se apoia mais na parede branca e respira fundo. A cabeça se inclina para o alto. Ela observa o teto branco, algumas rachadura e manchas de infiltração. Os olhos azuis iluminado pelas lâmpadas brancas. Tudo girando e girando. Suas mãos suam e a cabeça dói.

Há muito tempo ela não conversa com Per. Nem mesmo o cumprimenta com um sorriso. Está certo, não?

― Está tudo bem? ‒ Erik é ignorado novamente por ela.

Per Yngve Ohlin. O garoto de cabelos longos, com tanta testosterona quanto um coreano.

Ela não está zangada com ele. Ela está zangada consigo mesma. Confusa, talvez. Há algo... como cordas.

Essas cordas estão amarradas fortemente em seu corpo; elas a puxam sem dó, torturando-a, prendendo-a.

― Lúthien? ‒ finalmente, o estudante de psicologia consegue chamar a atenção dela. ― O que há?

A menina respira fundo e coça o nariz brevemente.

― Nada, apenas... sonhando.

Erik levanta as sobrancelhas, não acreditando muito na resposta. Mas ele decide deixar pra lá.

― E seu plano?

― Que plano?

Erik solta uma risada abafada e encolhe seus joelhos.

― O de fazer mais amigos neste ano.

Lúthien decide fechar o livro e seu caderno, mas o faz com uma lentidão irritante.

― Está indo bem...

― Fez amizade com aquele seu vizinho? ‒ ele levanta a sobrancelha esquerda sob o óculos gigantesco.

― Aí você tocou na ferida ‒ ela ri fracamente ― Ele é um idiota.

― Sério? Você parecia tão animada no dia em que me contou sobre ele.

― Enganos acontecem ‒ ela dá de ombros.

Ele começa a mexer nas unhas e se cala por um momento.

― Por que não tenta fazer amizade com as pessoas da sua congregação?Tem alguns que estudam com você, não? ‒ sugere.

Lúthien o observa com o cenho franzido, como se ele acabasse de sugerir que ela explodisse a escola.

― Com aqueles idiotas? Nem pensar ‒ balança a cabeça negativamente.

― Ora, têm as mesmas crenças que você, não? Seria bom fazer amizades que se parecem com você ‒ Erik tenta convencê-la.

A frase a pega de surpresa.

Per tem muito em comum com Lúthien. Até no humor oscilante eles são semelhantes. Erik é seu amigo, mas não tem muito em comum com ele.

― Claro. Faria amizade com eles se pelo menos tentassem seguir a religião, mas não é caso ‒ ela dá uma pausa e prossegue ― Algumas trocam de namorado todos os dias. Tipo, beijam pessoas que nem ao menos têm um vínculo. Temos muito em comum.

― Ah, Lúthien, por favor! Na sua igreja é proibido beijar? Além disso, ninguém é perfeito. ‒ sua voz se eleva um pouco.

― Não é... proibido beijar ‒ ela diz com uma voz caricata ― O fato é que Jeová odeia separações. Odeia relações íntimas sem algum vínculo forte entre os participantes.

― Tudo bem, mas Jeová entende que todos erram, não?

― Ele entende que o comunismo fora implantado muitas vezes, mas nenhuma tentativa dera certo. Os adolescentes da minha congregação nem mesmo tentam resistir a essa vontade idiota de sair beijando qualquer um. ‒ ela suspira e balança a cabeça negativamente ― Beijar pessoas que nem se importam com você... é algo sem sentido; algo vazio. Superficial.

Erik sorri torto.

― Ah, eu já imagino o que pensam sobre a fornicação.

Lúthien arregala os olhos e abaixa a cabeça de forma rápida para o amigo não perceber o rubor em suas bochechas.

― É...

― Você nunca pensou em sexo? ‒ ele insiste.

― Claro! Principalmente quando as provas de Biologia ficam próximas ‒ há ironia em sua voz, mas ela ainda assim continua de cabeça abaixada.

Erik revira os olhos nipônicos e dá uma leve risada.

― Sabe o que eu quis dizer.

― Bom, terei tempo de pensar até me casar. ‒ ela continua desconfortável com o assunto, mas Erik ainda quer conversar sobre aquilo com ela. Ele quer que o assunto não seja um tabu para a menina.

― Vai ter que se casar com alguém da sua religião para cumprir esse plano ‒ comenta.

Lúthien finalmente levanta a cabeça e olha diretamente ao amigo. Ele também acha aqueles olhos azuis fortemente pressionadores.

― Sim, eu sei. Esta é a minha vontade ‒ afirma.

― Certo... e se se apaixonar por uma pessoa de outra religião?

Quisling olha para frente. Seus olhos passam pela parede, pelas prateleiras e livros. Parecia refletir.

― Minha mãe diz que paixão é como fogo de palha ‒ afirma para si mesma ― Se um dia isso acontecer, é só me afastar e logo esquecerei. Não quero ter a dor de cabeça de sempre tentar negociar com uma pessoa que tem crenças diferentes.

― Você fala como se esquecer uma paixão é fácil e nada dolorido ‒ repentinamente, a voz de Erik fica embargada. ― Nunca se apaixonou, não é?

― Tudo o que sei sobre isso é que no fim, sempre acaba em alguma tragédia ‒ ela ri.

― Não. Essa é a paixão retratada nos livros que você lê e nos filmes que assiste.

Ela encolhe os joelhos e apoia um cotovelo neles. Seu olhar volta para cima e lá fica por alguns minutos.

― Sou leiga nesse assunto, mas não me culpe: sou nova demais para isso ‒ ela fecha os olhos por mais alguns segundos ― Você já se apaixonou, Erik?

O olhar do rapaz volta para suas unhas.

― Claro que já... ‒ a voz ainda embargada ― na verdade, estou apaixonado agora.

Lúthien arregala os olhos e volta a olhar para o amigo.

― Sério? Por quem? Eu conheço? ‒ diz animada.

― Sim... é... ‒ sua voz é grosseiramente interrompida pela senhora gorducha na frente deles.

― Senhores, é proibido sentar-se nessa parte da biblioteca ‒ sua voz é simpática e educada, mas ainda assim os dois amigos sentiram-se constrangidos. 

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora