28. Sempre Confie em Elfos

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Música recomendada: Imaginations From The Other Side, Blind Guardian

― Não precisa continuar se não quiser. ― disse Kristian pela... quinta vez.

Lúthien queria continuar. Afinal ela tinha apenas batido a testa numa árvore, não amputado as pernas.

― Estou bem.

Apesar da adrenalina esconder um pouco sua dor de cabeça, Lúthien estava levemente tonta e mal conseguia segurar a espada de madeira firmemente. Vários amigos se aproveitaram de sua fraqueza para atacá-la.

Tal atitude passa longe de ser honrada, mas eles não levavam isso tão a sério.

O grupo de amigos aproveitou que estava chovendo e combinaram de jogar "RPG real" numa floresta decídua. O jogo consiste em encenar batalhas e missões que o mestre determinar. Nada de dados, nada de mapas, nada de mesas. Tudo real.

Lúthien estava escondida por lá, sua mãe jamais deixaria a sua tão preciosa princesinha empunhar espadas de madeira, bater em outras pessoas, ou outras pessoas baterem nela.

― Kris, acho que está nascendo um galo. ― disse ao tocar na saliência em sua testa.

― Você bateu a cabeça, é totalmente normal.

O lugar estava escuro e frio. Assustador até.

Os jogadores mal podiam enxergar o oponente com clareza, e a chuva só aumentava a névoa.

― Estão chegando! ― grita um amigo atrás dela.

A menina não consegue vê-los, mas pôde ouvir os passos apressados se distanciando. Logo percebera que todos corriam e a deixavam para trás.

― Ei, esperem por mim! Esperem por mim! ― grita ela quase desesperada.

O som dos passos se distanciam cada vez mais. E como ela ainda está tonta, corre desengonçadamente pela floresta. Seu vestido na altura das canelas também não ajuda muito.

― Me esperem! ― grita novamente. A criança sente a lama sob seus pés e os galhos caídos arranhando suas pernas e enganchando em seu vestido verde.

Ela escuta algumas vozes, mas nada compreende além de algumas palavrinhas. Deuses, magos, torta de ameixa, meleca.

Mesmo correndo com o maior cuidado possível, ela acaba tropeçando em algo. No quê ela tropeçou? Bom, não deu tempo de pensar direito nisso, pois percebeu no momento que começara a cair.

Apenas o ar sob e sobre ela.

Seria sua morte?

Tudo durou alguns segundos, mas em sua mente, a queda ocorreu por horas.

Na verdade, não deu muito tempo para calcular o tempo de queda, pois quando sentiu o solo sob suas costas, a pancada violenta, as pedras e raízes incomodando sua coluna, tudo transformou-se num breu cruel.

Ela tinha consciência de que não existia mais. Naquele momento, ela virara pó. Talvez menos que isso.

Tudo era escuridão, frio e vazio.

Mesmo não existindo mais, ela podia sentir as gordas gotas de chuva caindo sobre seu rosto. O balanço das árvores, o sol cegante...

Sol cegante?

Estava noite.

Logo ela abriu os olhos. Ou melhor, arregalou os olhos.

Seu cabelo voava diante dela, a visão que tinha estava totalmente embaçada e confusa. E ondulante.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora