12. Karma?

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Música Recomendada: Blackout, Linkin Park

― Lembrou de mim? ‒ questiona seu pai.

― Que drama! ‒ Per não poderia reclamar, desde que o ano de 1989 começara, ele ainda não tinha ligado para a sua família na Suécia. Se não fosse seus irmãos, ele não mandaria nem cartas.

― Saudades de casa? ‒ Mikael sempre pergunta isso quando Per o telefona. Talvez ele ainda tem esperanças de que o filho volte.

― Sim, pai. ‒ há um lado em Per que diz sim, e outro lado que diz não. Sim, Ohlin sente falta de brincar com seus irmãos, das conversas idiotas com John, Jens e Nisse; das refeições que sua mãe faz, etc.

E não, Ohlin não sente falta. De um modo engraçado, mesmo quando ele está em casa, ele não está em casa.

Como um bom filho, ele já sabe que seu pai adora pegadinhas, e aquela pergunta é uma.

― Quando virá, então? ‒ dito e feito.

― Acho que em julho.

― O que há? Só fazem concertos na Noruega?

― Vamos para Dinamarca na semana que vem.

Segundos de silêncio vêm em seguida. Apenas a respiração.

― Pai?

― Só toma cuidado, tudo bem?

― Tudo bem. O senhor ainda anda fumando?

Mikael ri:

― Há um bom tempo que não fumo.

Per não sabe se acredita, mas resolve encerrar o assunto.

― Como estão as coisas aí?

― Nada além do mesmo. ‒ Mikael faz uma pausa, mas logo volta a falar ― Ah, Anders vai participar de um jogo de basquete.

― Sim, ele me escreveu há alguns dias.

― E você? Está comendo direito? ‒ diz Mikael, engrossando a voz.

― Sim. ‒ não.

― É bom mesmo. Pelo o que eu me lembre, você é um péssimo cozinheiro.

― Fui aperfeiçoando com a prática. ‒ É mentira. ― Preciso ir. ‒ não, ele não precisa.

― Ligue mais vezes, filho. Seus irmãos estão com saudade.

― Pode deixar, pai.

― Te amo. Fique com Deus.

Per logo desliga. Ele nunca respondeu àquilo.

Cansado, ao ponto da exaustão, ele se encosta no poste que sustenta o telefone público. Ele fecha seus olhos e respira fundo, preparando-se para caminhada que irá fazer de volta para casa. O telefone mais perto fica a 2 km de sua rua.

Per está com muita merda na cabeça. Sente arrependimento por ter tratado Lúthien com grosseria, sente-se cansado de tantos ensaios, sente-se ansioso pela viagem. Enfim, sente-se esgotado. Mas a questão é: ele sabe o que sente?

Não, ele não se sente esgotado. Ele se sente morto, ele sente que não pertence a este lugar. Cada vez mais ele se atrai pela Morte, cada vez mais ele se atrai pelo o que há do outro lado.

Criança tola.

Lá está ele, de volta ao bosque para enterrar suas roupas. Enquanto cava, pensa em algumas palavras para escrever em seu diário, seu novo hobby. Nele há escrito sonhos, pesadelos, acontecimentos de seu dia, pensamentos desconexos e versos.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora