68. Ambivalente

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Música recomendada: Angelica, Anathema

― E aí, como foi a viagem? ― foi a primeira coisa que Øystein disse ao avistar Per, que caminha sobre a neve em direção à sua casa.

O moreno está com uma pá na mão, pronto para tirar o excesso de neve que quase entra pela porta da casa.

― Foi boa. Sentamos à lareira, mergulhamos no fiorde e... bebemos muita tequila. ― Per não quis citar que esteve numa sauna, trajado apenas com um calção. E também não quis citar que pediu Lúthien em namoro, e no mesmo dia descobriu que ela bebe.

Fatos complicados de dizer.

― Ah, sim. ― Øystein finca a pá na pequena montanha de neve, que está fofa. ― Espero que tenha aproveitado, porque vamos ter ensaios todos os dias. Temos um concerto marcado para a primavera.

Aquilo aliviou o coração de Per, que estava pesado e dolorido desde que viu Lúthien a beber.

Um concerto na primavera... depois daquele inverno que só tende a ser cruel com os noruegueses.

― Beleza.

Per entra e se tranca em seu quarto. Está ansioso para falar com o seu pai e com Jørn sobre tudo o que aconteceu, excetuando a parte que se refere a um provável alcoolismo de Lúthien.

Ele pode prever a reação de Stubberud, provavelmente irá desaprovar a decisão de namoro. Seu pai vai ficar feliz e aliviado, já que vai saber que Per está finalmente tendo uma vida social normal, com uma pessoa ao seu lado. Mas é provável que Mikael Ohlin vá esconder essa felicidade.

O rapaz está cansado da viagem de volta, mas não consegue dormir (o que para mim não é uma novidade) e decide desenhar um pouco, ainda que sua cabeça estivesse cheia de pensamentos desconexos.

No meio de um desenho que parecia ser um cadáver em estado avançado de decomposição se arrastando para uma caverna, ele lembra da conversa que teve com Thora no início de 1990.

Planos para este glorioso ano. Afinal, só faltam 10 anos para a virada de um milênio. 2000 anos depois de Jesus... é uma data realmente importante.

Per Yngve Ohlin nunca foi de se planejar a médio prazo. Não tinha muitas metas e nem objetivos. Muito menos promessas de ano novo. Mas este ano foi diferente, pois Thora o convenceu a pelo menos vislumbrar algo de positivo naquela vida.

Lançar um álbum e ter dinheiro o suficiente para viver num apartamento sozinho. Estes foram os planos para esse ano. Mas agora, que só falta 1 dia para ele completar 21 anos, ele vê além.

Antes ele não queria incluir outra pessoa em seus planos. Mas agora percebe claramente que está se tornando um homem de verdade, um homem que quer algo mais.

Ele quer ter um relacionamento sério com Lúthien, quer se aproximar da sua família. E, quem sabe, morar os dois juntos depois que ela se formar, em 1991. Estes são bons planos para se ter em conjunto.

Esse rapaz é bem estranho.

Per é do tipo que não pode ter muita esperança. Ele não conhece a si mesmo e por isso não vai conseguir atingir objetivos criados a partir de uma produção de dopamina um pouco acima da sua média.

Pobre rapaz.

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O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora