Ter chorado por vários minutos deixou-os ao ponto da exaustão. Os dois deitaram-se juntos e, sem que percebesse, Per caiu no sono e agora está roncando baixinho.
Lúthien está deitada ao seu lado, seu queixo apoiado no ombro do rapaz. Seus dedos machucados tocam no rosto de Per, sentindo a barba rala e dourada.
Ela não percebe o tempo passar, mas depois de observá-lo atentamente, ela decide deixar Per e voltar para casa.
Entrando em seu quarto, vê o relógio marcando 3:55. Daqui a pouco amanhecerá. Ela se deita e observa o teto. Está sem sono, sem cansaço algum. Um grande sorriso se abre e logo cai na gargalhada. Nunca sentira-se tão leve assim. Talvez o piano que estava em suas costas por anos fora reduzido à pó.
― Obrigada, Jeová. ― sussurra.
O dia raiara rapidamente, Lúthien observara tudo e está mais acordada do que nunca. Pela primeira vez em anos, não levanta para um dia de escola com sono e indisposição.
Ela limpa seus ferimentos e põe uma nova faixa e, por sorte, ninguém está acordado na casa. Então, depois de se arrumar e pegar alguns bolinhos no armário, ela escreve um pequeno bilhete e o põe sobre a bancada da cozinha, explicando que já está indo para a escola.
Lúthien gostaria de ir à casa de seus vizinhos, mas decide não o fazer pois está tão cedo que eles provavelmente nem acordaram ainda.
Para um dia de fim de verão, está bem claro e a temperatura amena. O vento é agradável em seu rosto enquanto ela pedala. Parece que está tão leve, que desliza pelo espaço-tempo.
Ela entra na escola e caminha calmamente pelos corredores brilhantes, mas a silhueta de um certo judeu e japonês a chama a atenção.
― Que saudade! ― ela quase grita ao se encontrar com Erik e correr para dar um abraço forte.
O rapaz surpreende-se ao encontrá-la tão cedo, mas retribui o gesto.
― Menina, o que faz aqui tão cedo? ― ele ri ao perceber que Lúthien subia em seu colo. ― Que diabos?
― Hoje eu levantei e pensei, por que ficar deitada num dia tão lindo como este? Resolvi chegar aqui antes de todos. ― ela põe os pés no chão e sorri, ainda observando Erik.
Na verdade, ela não chegara antes de todos: os funcionários da escola já estão por lá.
O rapaz observa as mãos enfaixadas da menina e franze o cenho.
― Aconteceu alguma coisa? ― o rapaz semicerra os olhos já pequenos.
A menina molha os lábios e prende as mãos nas costas ― Bom, eu apenas senti sua falta. Deveria ter ido comigo para Bergen! Foi divertido. ― ela fala rapidamente e oscila para frente e para trás nas pontas dos pés.
― Me refiro às suas mãos. ― Erik caminha até sua sala, acompanhado de Lúthien.
― Ah, não é nada... eu apenas... me machuquei.
― Entendo... ― Erik destranca a porta e decide deixar aquele assunto para depois. ― E Per, como está?
― Ora, imagina que ele e Jørn comeram uma pizza estragada e passaram o domingo inteiro acamados?
― Não só imagino isso como também imagino que você que cuidou deles. ― ele levanta as sobrancelhas e expõe um sorriso sarcástico.
Na mosca.
― Bom, sim. Eu tinha remédios e legumes, então, por que eu não os ajudaria?
Os dois entram na sala e a gargalhada de Erik ecoa pelo espaço.
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O Violinista no Jardim
Romance"É preciso ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante." Nietzsche. Per Yngve Ohlin tem alguns fascínios. Desde que foi considerado morto por 5 minutos e voltou à vida, ele é obcecado pela morte e todo aquele cenário gótico. Imerso na...