54. Você Sempre Esteve Tão Longe

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Música recomendada: In The End, Linkin Park

Foi a merda de um sonho.

Per levanta como na maioria de seus dias: com dores por todo o corpo. Felizmente, o aquecedor funciona perfeitamente, impedindo o frio de tensionar mais os músculos.

Hoje terá uma festa na casa de alguns amigos, e Per está muito animado para conhecer os integrantes de uma banda colombiana. Depois de dois anos comunicando-se através de cartas, finalmente poderá conhecê-los pessoalmente. Ao menos isto o deixa distraído de todas as desgraças que passam por sua mente.

O fim de 1989 chega e todos da cena Metal da Escandinávia criam altas expectativas para os concertos que ocorrerão exatamente durante o Natal e o Reveillon.

Ninguém é cristão.

Per olha pela janela de seu quarto e nota que quase não há neve lá fora, mesmo estando frio e escuro. O grande gramado na frente da cabana, lotado de ervas daninhas e mato alto, está molhado, formando poças de lama por vários pontos.

Em seguida, o loiro observa seu quarto. Há insetos mortos por todos os lados, suas roupas sujas e limpas estão espalhadas pelo chão, misturando-se aos restos de comida estragados, o cheiro de putrefação do pombo sob sua cama está mais intenso hoje.

Ele resolve levantar-se cedo, mesmo que não tenha ensaio hoje. Todos conseguiram convencer Øystein de não passar horas ensaiando, concentrando-se em descansar.

Mesmo que Per não use técnicas avançadas de vocal e seja extremamente desafinado, ele precisa de descanso se não quiser perder de vez a sua voz.

Mas parece que sua mente quer lembrá-lo de alguma coisa. O que será? Ele tem certeza de que tem a ver com algum sonho que teve durante a noite.

Não tem café pronto, e ele não gosta do próprio café. Geralmente prefere a bebida do jeito que Lúthien faz.

Lúthien!

Ele recorda do que Håvard disse no dia anterior. E a voz de seu pai ressoa em sua mente avisando-o para ser maduro o suficiente e lidar com as consequências de seus atos.

Beijar Lúthien fora mágica, quase um sonho que ele acha que teve. Porém, se envolver com uma garota de família tradicional e cristã tem seus defeitos, como conversar com o pai dela.

Ele novamente observa através da janela da cozinha. Está clareando cada vez mais, mas parece que o dia será nublado, diferente dos anteriores, que foram escuros como num crepúsculo.

Seu reflexo no vidro da janela é deplorável, como sempre. Mas há mais terror em seu olhar. Sua imagem desaparece aos poucos. Assustado, ele se afasta da janela e se concentra em seu pão e leite.

Não há como decidir outra coisa: ele não vai conversar com Håvard. Ele não queria se envolver com ninguém, nem mesmo com Lúthien. O rapaz não sabe nada sobre o que realmente sente por ela, ele nem mesmo sabe o que é sentir algo por uma pessoa.

Aos poucos, sua fúria se acende e este foi o estopim para manter-se mal humorado durante o resto do dia.

Jan e Jørn ficam no meio de todos os conflitos, quando não é Øystein o implicante e babaca, Per cumpre o papel com maestria.

Não é surpresa que esse garoto tenha sérios problemas quando se trata de mulheres. Ele ficou meses sem ver a mãe quando a mesma decidiu se separar do pai. De acordo com o próprio, ela traiu seu pai e os próprios filhos.

Meses depois tudo fora resolvido e ele passou a ter amizade com o padrasto e amou sua irmã mais nova.

Percebe que sempre me lembro dele no passado? Acredito que esteja intrínseco a Per Yngve Ohlin. Ele vive no passado, em outro mundo, outra dimensão. Como um fantasma que vaga perdido em 1989, numa vida diferente.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora