9. Quando está frio e quando está escuro, a Lua Congelante pode te obcecar

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Música recomendada: Crazy, Aerosmith

Um vento forte batia contra o seu corpo. O amontoado de cabelo atrapalhando a sua visão e machucando seus olhos, ele pôs as mexas atrás das orelhas para situar-se.

Parecia estar numa savana, gramas altas e amareladas, o sol iluminando todos os lugares e a temperatura quente. Seria como estar num forno se não fosse pelo vento refrescante.

Observando tudo com mais calma, pôde ver uma silhueta deitada perto de um lago. Per andou em passos lentos até o corpo. Era uma garota. Seus olhos fechados o deixavam em dúvida se estava dormindo, ou se estava morta.

Chegando cada vez mais perto, ele nota o vestido impecavelmente branco, os fios dourados de seu cabelo cacheado. A garota parecia um anjo, mas ao mesmo tempo, ela aparecia apagada. Per não conseguia ver com clareza o seu rosto.

Com receio, ele se abaixa e estende a mão na direção do rosto da menina. Quando seu dedo está a apenas poucos centímetros de tocar sua pele, ela abre os olhos de súbito, mas ele não consegue vê-los.

De repente, seu corpo se movimenta. Uma corda estava puxando-a pelos pés. Uma corda grossa e vermelha. Ela não se mexe em protesto.

Por instinto, Per corre atrás da garota.

Nota o rastro de sangue deixado por ela. Como se tivesse um ferimento muito grave nas costas.

Logo, os dois param quando a corda deixa de puxá-la. A garota se mantém quieta, agora com os olhos arregalados. Olhos esses que Per não conseguiu identificar a cor e nem a forma. Ele apenas sabia que estavam arregalados.

Novamente, ele se agacha e estende sua mão em direção a garota. Mas dessa vez, nota que suas mãos e braços estão roxos e sua pele estava cortada.

Observa o corte em seu braço direito e consegue ver apenas o vermelho, mas de lá não saía sangue.

O garoto, curioso, abre lentamente o corte. Sente algo duro e então vê seu sangue, mas não no estado líquido. Ele estava congelado.

Assim que vê suas veias congeladas, sente todas as partes de seu corpo doer. Dor. Dor. Dor. Ele levanta um pouco a sua calça e vê a pele do tornozelo roxa, assim como seus braços.

Repentinamente, a savana clara e calorenta sume, dando lugar a um pântano escuro e fedorento.

Logo, ele olha em direção a garota. Mas dessa vez, ele assustou-se em vê-la.

Ela parecia um anjo antes, mas naquele momento, parecia um demônio: seu vestido estava coberto com manchas de sangue e em algumas partes estava rasgado, revelando a pele podre da menina, seu rosto estava cadavérico e o cabelo sujo de terra.

Ele sentiu algo molhar seus pés, e quando olha para baixo, percebe o sangue da garota encharcando a terra do lugar.

Per fecha os olhos em pavor, e quando os abre, vê a garota sendo puxada novamente pela corda. Mas ele não pôde seguí-la desta vez, pois suas pernas latejavam de dor.

Sem saber o que fazer, é surpreendido por uma corda em seu pé, fazendo-o cair com força no chão vermelho. A corda o puxa numa direção contrária da menina.

Dor. Dor. Dor.

Medo invade seu coração, desesperança, angústia, culpa, e outros sentimentos atingiam-lhe sem dó. Como se ele estivesse preso, esfaqueado.

Olhando para onde ele estava sendo levado, não sentiu grande coisa. Mas pela sua situação, indiferença era bem melhor do que sentir medo, e isso o fazia feliz.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora