81. Não é você

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Música recomendada: Amid the stars, Kekht Arakh

É engraçado ver Øystein daquele jeito. Encostado na parede, com o telefone em sua orelha. Só de cueca, cabelo arrepiado e um lenço fino e branco enfiado na narina direita, que sangra.

― Ele está?

Depois que todos conversaram, comeram e se acalmaram, Øystein decidiu ir em busca de um baixista substituto. Numa cidade de mais ou menos 100 mil habitantes... deve ter opções de algum baixista doido o bastante para aceitar aprender as músicas do Mayhem em dois dias para tocar ao vivo.

A primeira opção foi Kristian Vikernes, o rapaz multi instrumentista que ajudou o Mayhem a ir pra Bergen e região com 3 concertos marcados.

Ele deve saber tocar baixo.

Com essa premissa, Aarseth decidiu ligar para casa do garoto.

― E aí? ― Per questiona. Ele está segurando uma bolsa de gelo sobre o queixo.

Øystein aponta o dedo, pedindo calma.

― Ah, e aí, Kristian. Bom dia! Tudo bem?

Ele quase ri da dissimulação do amigo.

Há poucos minutos estavam brigando e agora Aarseth tem que disfarçar a voz com um nariz entupido com lenço e sangue.

Per compreende a saída repentina de Jørn, mas ainda não deixa de ficar nervoso com a situação. Sem um baixista não dá pra tocar... na verdade, sem O baixista, tudo fica mais difícil.

Jørn inspira confiança em Per. Lhe dá a segurança de um bom amigo.

Mas agora, só espera que tudo fique bem. Nem imagina como está a cabeça do amigo e se preocupa com ele. Dirigindo sozinho pela estrada até Oslo... sabendo que vai ser pai.

Ou não.

Sua garganta seca ao pensar que Jørn possa pedir pra Thora abortar.

Ele não faria isso, faria?

Per engole em seco e balança a cabeça. Tem muitos problemas ocorrendo em sua mente. Problemas suficientes para se preocupar com a alucinação que é o futuro.

― Sim, você pode? ― Aarseth arrisca a pergunta.

Alguns segundos se passam e ele sorri.

― Ele aceitou? ― Per é o único dentro de casa. Jan e os outros estão fumando lá fora.

― Certo, te encontramos lá. Valeu, cara.

Øystein desliga o telefone e suspira, aliviado. Tira o lenço do nariz, observa a quantidade de sangue e Per se surpreende quando tal lenço é jogado na sua cara.

― Filho da puta! ― ele se afasta, mas o sangue mancha sua camisa limpa ― E aí, ele aceitou?

― Sim. Mas vai ter que ensaiar com a gente e talvez tenha que improvisar. ― ele diz, enquanto veste sua calça jeans, com dificuldade. Ela está ficando cada vez mais apertada. ― Ah, ele convidou a gente pra ir a um bar.

Øystein sai da sala e vai de encontro a Jan para falar as novidades, mas Per prefere ficar sentado no sofá desgastado.

Agora que a adrenalina da briga e das novidades passou, um sono que não teve durante a noite lhe atinge bem mais forte que o soco que sofreu no queixo.

Per não gosta muito de dormir. Isso explica seu peso e as olheiras escuras.

E a queda de cabelo.

E a pele amarelada.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora