19. Cordas pt.2

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Música recomendada: Leave Me Alone, Jerry Cantrell

É um pouco contraditório vender energéticos numa farmácia, não? Um tio de Per morrera após ingerir bebidas misturadas com remédios. Sufocado com o próprio vômito. Uma maneira agonizante de morrer.

O rapaz está na fila, atrás de uma senhora idosa que apresenta um papel à atendente e uma mulher desarrumada que segura um bebê no colo. Ela parece frustrada e estressada.

Ele tira de seu bolso as moedas devidamente contadas em rolinhos de papel coloridos.

Um rapaz de sua idade atrás o observa de forma questionadora. Não espera que a atendente vá contar tudo isso, espera? Ele queria dizer.

― Próximo! ‒ a jovem farmacêutica chama. Ela é bem bonita: longos cabelos negros e olhos azuis escuros. Sempre sorria e atendia a todos com calma e simpatia. Sua mão é ágil e delicada.

Se não fosse tão delicada, Per veria Lúthien nela.

Lúthien pode ser graciosa, mas passa longe de ser delicada.

Há semanas os dois não conversam. Uma parte porque Per e o resto da banda viajaram bastante. Passaram por diversas cidades da Noruega e até fizeram alguns shows na Lapônia.

Outra parte porque Lúthien se isolou em sua casa e em seu jardim. Às vezes ele a via voltar da escola em sua bicicleta carnavalesca, e tudo que recebia de cumprimento eram sorrisos contidos.

Ela não ia visitá--lo nem nos dias de pregação.

Ele parou de observá-la cantar no jardim por achar algo pervertido e criminoso. A sua consciência agiu de forma atrasada nesse caso.

Sente saudades de ouvir sua risada e seu canto. Mas, principalmente, sente saudades das guloseimas que ela levava.

Os rapazes não sabiam cozinhar e acabavam comendo qualquer porcaria que estivesse nos armários da cozinha. Além disso, a maior parte do dinheiro ia para o marketing e viagens da banda. Administrados por ‒ é claro ‒ Øystein Aarseth.

Então, na maior parte do tempo, estavam quebrados e à beira de alguma doença provocada por uma dieta irregular.

― Próximo ‒ a jovem chama.

Per caminha na fila e para de frente à moça. Ela sorri compreensiva e levanta as sobrancelhas numa tentativa de fazê-lo falar logo.

― E-eu quero um... remédio para... ‒ eu poderia acabar logo com isso. Ele pensa ― Quero calmantes ‒ diz ele de forma calma e baixa.

A moça franze as sobrancelhas.

― Como? Não entendi.

Peça calmantes!

Peça calmantes!

Peça calmantes!

― A-algum re... remédio para dores no... estômago ‒ diz, por fim.

Seu ego adoraria os calmantes, mas ele realmente não precisa.

A jovem sorri e fala algumas coisas que Per não se interessava. Ela procurou pelas prateleiras algumas caixas de remédios. Pegou uns cinco e os pôs sobre a bancada de vidro.

Apontando para as caixas, ela explicou as vantagens de cada substância e, claro, Ohlin não prestou atenção. Ele apenas observava as mãos sobre o vidro.

Quando ela termina de explicar, o rapaz apenas pega uma caixa aleatória e agradece. Ele sai de perto da bancada e ouve a farmacêutica chamar pelo próximo.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora