69. Para ser como você

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Música recomendada: hope is a dangerous thing for a woman like me to have - but i have it, Lana del Rey

15 de Março de 1990

Erik discute com Kristoffer logo após terem saído do carro. Através do vidro embaçado pelo frio rigoroso, a cena poderia servir para um bom filme de drama romântico. Para Lúthien, aquilo não passava de um filme irritante para crianças de 5 anos.

Erik está finalmente se envolvendo com alguém, uma pessoa desagradável e desprezível. É o que a intuição de Lúthien diz.

Ela sai da cadeira e anda entre as mesas de madeira escura do pequeno restaurante. Ninguém observava a cena que ocorria lá fora, todos entretidos pela música espanhola e pela boa culinária mediterrânea.

O barulho da porta de vidro sendo aberto não conseguiu desviar a atenção do casal em discussão.

― Boa noite, tudo bem? Vamos entrar, Erik. ― A garota entra no meio dos dois e puxa o amigo pelo braço.

― Mas que diabos? ― Kristoffer grita atrás dos dois ― Sua intrometida, o que pensa que está fazendo?

Lúthien range os dentes e continua a puxar Erik enquanto o mesmo protesta e resiste com sua força inferior a da menina.

― Ei, Kristoffer, sai fora! ― ela grita quando percebe que o metaleiro metido a satanista puxa Erik de volta. ― Ah, dane-se! Erik, se não quiser comer comigo era só me avisar.

O rapaz nipônico fica atônito diante da reação de Kristoffer. Por um momento, achou que ele poderia avançar contra a amiga, e vice-versa. Lúthien sabia parecer ameaçadora quando queria, ignorando todo estereótipo da boa moça, recatada e tranquila.

― Kristoffer, já chega. Eu vou comer, e mais tarde eu te ligo. ― é o que conseguiu dizer, apesar de não ter mais clima para uma boa conversa com a amiga num restaurante espanhol.

Erik está envergonhado, cansado, exausto e sequer consegue olhar para Lúthien, que ainda reclama e se mantém incrédula ao que acabou de ouvir.

― Como assim vocês estão namorando? Perdeu o juízo, rapaz? ― nem mesmo a boa comida mediterrânea, que ela adora, foi capaz de fazê-la esquecer da briga que ocorreu há pouco. ― Olha só, aquele cara é um marginal, é só olhar pra cara dele e já dá pra perceber.

Erik puxa o cabelo negro para trás e coça a bochecha.

― Me chamou aqui para falar mal dele?

― Eu não esperava que você fosse brigar com aquele idiota na frente de um restaurante. Falando nisso, por que estavam discutindo?

Erik se manteve calado diante da pergunta, disfarçando enquanto bebia uma cerveja espanhola.

― Ah, não. O que ele fez? ― é óbvio que Lúthien esperaria o pior de alguém como Kristoffer.

― Dá pra se acalmar? Já tem gente olhando para nós. ― Lúthien olha ao redor e vê alguns rostos conhecidos observando a discussão acalorada. Nem mesmo a música foi capaz de abafar. ― Kristoffer tem um problema quando bebe além da conta. Ele foi pra casa do irmão e quebrou tudo por lá, tiveram que me chamar para acalmá-lo.

― Não preciso mais falar mal dele. Você já disse tudo, Kristoffer é um desequilibrado, bêbado e que quebra objetos. Saia dessa antes que ele tente quebrar a sua cara.

Erik arregala os olhos e perde a sua expressão tranquila e apaziguadora.

― Você é louca? Ele nunca faria isso!

― Ah, é? Ele estava bêbado quando te trouxe de carro pra cá, não é? ― Erik se cala, mas ainda apresenta uma expressão nada amistosa ― Deixa eu adivinhar, se você recusasse vir com ele, provavelmente iria dar um chilique.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora