Creio que sou o ser mais justo de todo o Universo, então o sentimento de injustiça é quase que abstrato para mim.
Bom, há quem diga que sou injusto, assustador, macabro, terrível, demônio, originado pelo pecado, esperado, amado, última saída e outros. Mas é certo que eu apenas Sou, eu apenas existo e não há como julgar ou definir-me.
Lúthien tenta encarar dessa forma: ela apenas Está ali, aquela situação apenas É. Sem julgamentos, sem lamentações.
Assim, ela faz o melhor para limpar aquele banheiro. A barra de sua saia enorme está manchada de sabão, enquanto que seus oxfords de couro estão molhados.
As mangas do seu suéter de lã rosa estão dobradas até o ombro e seu cabelo, óbvio, está bem preso.
― Sabe ― diz a mulher gorducha atrás dela ― você não precisa lavar a pia com uma escova de dentes,
Lúthien vira o pescoço e observa a mulher mais velha, que está de pé.
A menina ainda anda inconformada com a falta de acessibilidade para pessoas altas naquela escola. Mas, convenhamos, não é nada recomendável uma pessoa de 1,85 de altura escovar a parte de baixo de uma pia.
― Preciso. Se for para limpar, que seja extremamente bem. ― diz, firmemente.
A mulher loira dá de ombros e senta-se sobre o banco de madeira. Sonja é o nome dela. A senhora de 50 anos é uma das zeladoras da escola e fora encarregada de monitorar o trabalho de Lúthien.
― Certo...
As aulas haviam terminado e a escola inteira está silenciosa, o único ruído que se ouve naquele cômodo é o da escovinha passando mármore da pia.
Sonja abre um jornal e fica a ler por alguns minutos, enquanto que Lúthien está bem concentrada no que faz, tentando ignorar toda a mágoa que sente.
― Sonja? ― diz repentinamente.
A mulher ergue as sobrancelhas e desvia seu olhar para a menina.
― Eu trouxe baklava*. ― diz com o seu típico sorriso sapeca.
Lúthien ainda não terminou de limpar o banheiro, mas Sonja achou justo fazer uma pausa para comer um delicioso doce grego.
As duas são amigas desde que Lúthien arrumara a primeira confusão na escola (quando presenteou Thora com um belo olho roxo, no início de 1988). A menina mostrou-se divertida e conformada em colher todo o lixo da escola durante 1 semana. Nesse tempo que soube que Sonja adora doces. Principalmente doces gregos.
― Está ótimo! Muito obrigada. ― diz Sonja enquanto saboreia o doce.
― Foi minha mãe que fez. ― enquanto que eu apenas a atrapalhei, Lúthien complementa mentalmente.
― Por que você não os vende? Todo mundo compraria.
Lúthien sorri forçadamente e solta uma risada fraca.
― Com minha reputação, ninguém compraria.
As duas gargalham um pouco e o banheiro é tomado pelo silêncio novamente.
― Bom, é melhor eu terminar logo. ― ela se levanta do chão e pega a escovinha.
Ela estava tão concentrada na limpeza que levou o maior susto quando Sonja resolveu comentar algo:
― Estão dizendo que você foi racista.
Lúthien dá meia volta e observa a mulher, com olhos arregalados. Sonja apresenta uma expressão compreensiva e quase maternal.
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O Violinista no Jardim
Romansa"É preciso ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante." Nietzsche. Per Yngve Ohlin tem alguns fascínios. Desde que foi considerado morto por 5 minutos e voltou à vida, ele é obcecado pela morte e todo aquele cenário gótico. Imerso na...