50. E Agora São Um

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Música recomendada: Day, Katatonia

Faz muito tempo desde que eu a abracei

Esqueci para que serve o amor

Eu deveria correr

O dobro

Acho que estou em apuros

Øystein tirou o dia para zombar do pobre Per. Claro, sem querer.

O sueco sai de sua cama e pega um bloco de papel, onde escreve "Trouble". Ele o põe no pote de azeitonas, dedicado a músicas que o fazem lembrar de Lúthien. Ele ri e balança a cabeça freneticamente. Sua mente o lembra de que aquele hábito é extremamente brega e idiota.

Dias após a queda do Muro de Berlim, ele não via a menina e nem mesmo ouvia sua voz através do escuro. Mas ficara combinado isto acontecer. Claro, ele não é louco (não o suficiente) para enfrentar Giorgos. O brutamonte irmão da garota por quem ele está perdidamente encantado.

Sim, Per está perdido no furacão de sentimentos e pensamentos. Não perdido no sentido físico, mas perdido no sentido de não saber absolutamente nada.

Mais tarde naquele dia, a banda resolve ensaiar durante a madrugada. De acordo com o sueco, o horário é inspirador e sombrio. Perfeito para pôr todos os demônios para fora, de acordo com as letras das músicas. Todos aceitaram a sugestão e agora estão tentando ensaiar todo o repertório enquanto a temperatura está em um grau negativo.

E o aquecedor está quebrado.

Øystein e Per disputam bravamente para saberem quem é o mais perfeccionista, além de discutirem bastante acerca do tão esperado álbum que nunca conseguiram lançar.

― Ora, vamos!, estamos com material pronto há 1 ano e nada de gravarmos! ― Per grita.

― Hum, deve ser porque estamos criando o maior público possível para esse lançamento. Precisamos ter um imagem bem estabelecida. ― Aarseth rebate.

Jørn e Jan ficam no meio da discussão dos dois. Não estão muito preocupados com o lançamento do álbum de estúdio por enquanto. Eles preferem se preocupar com seus dedos travados pelo frio e pelas juntas doloridas.

Coisa pouca.

― Nós poderíamos abrir nossa própria gravadora em Moscou. A gente ganharia uma boa grana contrabandeando computadores por lá. ― Øystein divaga.

O problema é que Per se deslumbra com essas ideias, enquanto que Jan e Jørn apenas reviram os olhos e mantêm-se indiferentes aos planos mirabolantes do guitarrista.

Lá ficam ensaiando por várias horas. A aurora desponta no céu e os rapazes estão ensaiando, pela quinta vez, a mesma música.

Mais horas se passam e eles resolvem fazer uma pausa. Ainda é uma manhã gélida, mas eles ficam satisfeitos ao ver o brilho forte do sol, que não se apresentava tão evidente há vários dias.

Eles comem bolinhos e café preto enquanto assistem à um telejornal qualquer da manhã. Jan ganhou a televisão novinha da mãe, enquanto Per estava fora.

Passa uma reportagem sobre os preparativos do Natal de 1989.

― Já entrei em contato com quatro bandas. Temos que fazer uma coisa especial para o concerto de Natal. ― Aarseth comenta.

Jørn se mexe no sofá, evidentemente desconfortável com o que viria a seguir. Per e Øystein discutiriam sobre diferentes performances e decorações macabras para o palco. Mas o pior ainda está por vir: a ideia de Per autoflagelar-se.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora