2. É O Quê Você Esperava?

1.4K 105 195
                                    

Música recomendada: Born To Be Wild, Steppenwolf

A labilidade emocional é um problema deveras estranho e perturbador. Claro, vê uma pessoa rir descontroladamente por nenhum motivo aparente e ainda carregar uma careta maníaca não deve ser confortável para ninguém.

O problema está ligado a uma sequela por conta de algum acidente que afetou severamente o cérebro.

Ou você chora descontroladamente, ou você ri descontroladamente.

Shying away I'll be coming for your love, okay?‒ a voz de Øystein se assemelha bastante a risada patológica.

Neve, neve e mais neve. É apenas aquilo que a paisagem de Oslo oferece naquele momento. Além de toda escuridão do inverno. As noites duram mais tempo e dias claros são raros.

Jørn custou levantar-se naquela manhã tão escura e fria. Nem o cheiro do café o fez se animar.

Sua mãe também não o ajudava, o modo que tentava despertar o filho era manso e carinhoso demais.

Ele passara o dia arrumando a casa e renovando o estoque de comida. Preparava tudo para a chegada do sueco, que pousaria às 19 horas da noite.

Dead... Era assim que ele se apresentou na segunda vez em que ligou. Um pseudônimo para entrar na banda. Todos os integrantes tinham um.

Øystein se apelidara de Euronymous, ou Euro, para os íntimos.

Jørn, de Necrobutcher, ou simplesmente Necro.

Os antigos integrantes tinham também. Maniac, Messiah, Dracul, Jormungand... Todos apelidos referentes à algum significado repugnante e perturbador aos olhos dos "tradicionais" costumes cristãos.

― Dead? disse ao telefone.

― Sim, é o meu pseudônimo. a voz suave de Per não aparentava ser de uma pessoa que havia matado um hamster.

― Legal. Esse nome tem alguma história?

― Sim ele silenciou-se por alguns segundos ― certa vez eu fui assassinado ele interrompe a fala para tossir e após isso, começou outro assunto.

Jørn lembrava-se das palavras que trocou com o sueco pelo telefone. Quase havia esquecido deste trecho da conversa — que durou horas.

Ele foi assassinado?

― Take On Me... Take On Me – a voz de Øystein o tira de suas lembranças e o faz voltar a atenção para estrada, que permanece tranquila.

É sábado, e a nevasca do dia anterior fez com que toda a população ficasse mais preguiçosa do que já era.

A noite bem iluminada pelos postes. Algumas luzes de Natal ainda permaneciam, apesar da passagem da data.

Nunca te falaram que canta como uma gralha? – a provocação de Jørn foi o suficiente para o amigo intensificar a voz e continuar cantando.

Øystein abre a janela e seu cabelo liso voa para todos os lugares, enquanto o frio entra no automóvel.

Fecha a merda da janela e cala essa boca. – de nada adiantou suas ordens, o amigo continua a cantar e a vislumbrar a paisagem que passa rapidamente. Fazia aquilo para irritá-lo, então Jørn deixa pra lá, mesmo com raiva.

Ele pára sob o sinal vermelho do semáforo e observa que o moreno ao seu lado pegou uma caneta e uma folha de papel no banco de trás. Os dedos pequenos escreviam "Pelle".

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora