Música recomendada: Falling Snow, Agalloch
Frio e dor.
Estas duas palavras são indispensáveis para o vocabulário de Per. Elas o perseguem mas ele não se importa muito, até gosta. Ou acha que gosta, talvez.
Mas uma dor genuína e positiva está tomando o lugar daquela dor escura e maléfica. Para os seres humanos, essa dor é raramente sentida. Apenas alguns gostam profundamente da dor necessária.
― Ai, ai, ai! ― Per a está experimentando agora mesmo. Enquanto Lúthien está deitada sobre seu braço, o rapaz sofre com a dormência e formigamento.
Mais suavemente possível, ele tira seu braço que está sob a cabeça da garota, tentando não acordá-la. Para a sua sorte, Lúthien costuma ter um sono tão pesado que, em sua infância, ela caiu da cama, batendo o corpo com tudo no chão, e continuou adormecida.
Seus primos a chamam de Aurora de quando em quando.
Per se senta e alonga o braço na tentativa de sentí-lo novamente e ainda tenta lembrar o que ocorrera horas antes e o porquê de está deitado no meio do bosque com Lúthien.
A única coisa que protege os dois do tapete gélido de neve é o cobertor grosso que Lúthien emprestara durante a caminhada dos dois na madrugada.
Logo os flash's de memória o atingem, lembrando-o de tudo o que ocorrera no amanhecer. O beijo, a aproximação, as carícias, a conexão. Inevitavelmente, ele observa Lúthien, tranquila e roncando suavemente. Suas bochechas ficam ruborizadas ao lembrar que os dois passaram muito tempo se beijando até adormecerem sob a cobertura de uma bétula.
Ele dá uma olhada no relógio de pulso da menina e vê que já são dez horas da manhã.
― Merda ― ele amaldiçoa e se apressa em acordar Lúthien. Ele está atrasado para o ensaio da banda e provavelmente seus companheiros já perceberam que ele não está na casa.
Com muita pena, ele cutuca o braço de Lúthien, pesaroso de interromper o sono tão lindo da moça.
― Ei, acorde... ― com a voz tão manhosa e baixa, ele pioraria a situação.
Mas logo essa sessão ridícula de dengo é bruscamente interrompida por uma voz assustadora e alta.
― Se eu fosse você, tiraria a mão dela.
Per acha que seu sangue está congelado. Pelo menos quando está em psicose, ele tem certeza disso. Porém, ele jamais sentiu o sangue tão gélido como agora.
Sua cabeça custa a mexer-se, mas quando ele vê a pessoa, preferiu nunca ter acordado nesse dia.
Combinaremos que ele preferia ter morrido de hipotermia ou pneumonia aguda a ter que ver o brutamonte assustador que é o pai de Lúthien.
Alto e imponente, lá está o senhor Quisling Glykos com os olhos mais azuis que os de Lúthien (nem eu pensaria que isso fosse possível) arregalados e com a esclera levemente avermelhada de raiva. O homem está apenas a alguns metros do casal que minutos antes dormiam juntos.
― An... ― Per Yngve Ohlin não encontra a voz nesse momento. Até esquece o jeito certo de respirar.
Como é mesmo? Eu sugo o ar com meus olhos ou com a boca?
Mais branco do que já é, ele trava e se desespera diante da visão de Håvard, que se aproxima a passos lentos o suficiente para torturar Per com a antecipação.
― Levante-se, Lúthien Quisling Γλυκός! ― a voz grossa e alta reverbera por todo o bosque. Talvez por todo o bairro.
A menina se senta de súbito. O rosto inteiro está inchado e oleoso, o mau hálito é tanto que chega a incomodá-la e a garganta está levemente inflamada.
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O Violinista no Jardim
Romance"É preciso ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante." Nietzsche. Per Yngve Ohlin tem alguns fascínios. Desde que foi considerado morto por 5 minutos e voltou à vida, ele é obcecado pela morte e todo aquele cenário gótico. Imerso na...