O Violinista no Jardim

15. Lembrarão de Você Daqui a Alguns Anos?

Música recomendada: Cross My Heart and Hope To Die, Me and That Man 

Ali está a faca sacrificial. Há alguns diamantes falsos em seu punho e runas esculpidas na lâmina. Per a comprou num festival de Heavy Metal. Ela chamou atenção. Tão linda e tradicional. O vendedor afirmou que é uma faca encontrada num sítio arqueológico da Islândia. Vários vikings a usaram.

Bom, ele estava mentindo, é claro. E Per sabia disso, mas quis comprá-la mesmo assim.

Ele se observa no espelho há alguns minutos, desde que chegou em casa depois de quatro dias viajando. Øystein e Jan vão passar alguns dias na casa de um amigo em Oslo, deixando Per sozinho na casa.

Péssima ideia.

Ohlin está sem camisa, apenas com um jeans surrado e o tênis da Adidas. O cabelo louro cobre o seu rosto.

Que imagem miserável ele vê!

Seus braços estão finos e sua barriga quase negativa. Pelos dourados crescem sobre seu tórax e sua barba loura está por fazer.

― Eu sou horrível. ‒ diz ele, com um sorriso maníaco. Respira fundo, sentindo o cheiro podre que preenche o quarto. É aquilo. O cheiro da morte. A sensação da morte.

Criança tola!

Tudo parece tão vazio. Um vazio que o sufoca, que o oprime.

Ele olha para o chão do quarto. Uma perfeita bagunça. Há algumas formigas andando enfileiradas. Será que elas não percebem? Pensa ele. Por que elas continuam a trabalhar se no final, as suas miseráveis e frágeis vidas não importarão? Ninguém sentirá falta delas. Apenas não há sentido em continuar com essa merda.

Se Deus existe, ele é injusto.

Uma força acerta o seu coração. Seu peito dói e ele treme.

Per solta um grito frustrado e vira a cabeça para trás.

Eu o odeio e o amo. Isso que torna tudo mais divertido. Ele é um idiota, um desgraçado. No mais, não sei defini-lo. Ele apenas é.

Sinto raiva dele, ao mesmo tempo que quero lhe fazer carinho.

Ele pega a faca sacrificial ao seu lado na cama. Põe alguns fios de cabelo atrás da orelha e então consegue ver seus olhos azuis iluminados pelo dourado do sol do meio dia que atravessa a janela.

Seu pé direito balança em ansiedade enquanto ele observa atentamente a sua imagem. Magreza, muita magreza.

Ohlin abaixa seu olhar para a faca em sua mão.

A sensação da morte vinha.

Algumas gotas de sangue caem no chão. Per sorri e observa o ferimento. Se levanta e anda alguns passos em direção ao Toca Disco. Segundos depois, Sodom faz a trilha sonora.

Dark deathknell call you to the throat of the

glowing hell lights of exist become extinet

Per deita-se estrelado sobre sua cama, que está suja de poeira, e fecha os olhos. A sensação da morte está ali.

Algumas lágrimas escorrem sobre suas bochechas. E quando percebeu, já estava soluçando. O garoto chora tanto e em certo momento engasga.

Mas logo o soluço se encerra, dando espaço para uma gargalhada alta. Sua boca se abria num sorriso de orelha à orelha. O estômago começa a ficar dolorido com a força da gargalhada.

Mas depois, ele volta a chorar novamente. Dessa vez, seus gemidos e soluços são altos.

E volta a gargalhar.