64. Matando ao poucos

132 12 51
                                    

Música recomendada: Powerless, Linkin Park

― Bom, vamos começar. Livia, que tipo de instrumento você toca? ― a coordenadora do Clube da Música inicia com as apresentações dos novos membros. Pra variar, erra o difícil nome de Lúthien.

A garota não está com paciência para apresentações, para planejamentos e nem para se importar com o erro de seu nome. Sua mente está cansada há dois dias, desde sua conversa com Giorgos e a dúvida cruel. Ela ainda não se lembra do que fez na madrugada em que bebeu mais do que o costume.

― Me dou melhor com instrumentos de corda. Pode me entregar uma guitarra ou baixo. ― comenta de forma rápida e desinteressada.

Ela está tão esgotada que sente a necessidade de poupar energia o máximo possível, e isso inclui não perder tempo falando futilidades, comer e beber, raciocinar em matérias de exatas e pensar em coisas que não sejam a chegada de Per hoje.

― Muito bem, depois de conhecermos todos, vamos estudar a melhor forma de dividir os instrumentos. ― diz a coordenadora antes de continuar a apresentação de outros membros.

O esgotamento de Lúthien é puramente mental, mas é possível ver os efeitos na sua aparência. Os olhos fundos e escuros, lábios cinzentos e a nítida perda de peso em apenas 2 dias. Ela ainda sente os efeitos do álcool em seu corpo. Como se ainda estivesse com ressaca.

Depois de receber o calendário do Clube de Música, ela foi liberada para a aula de História, que seria a última antes do almoço. Lúthien não se importa muito com o horário de intervalo, já que não sente fome. Mas a aula de História lhe causa náuseas porque há vários alunos, muita conversa e o professor gosta de interação. E o pior: Sigrid está lá.

Lúthien decide sentar-se ao fundo da sala, na frente de Sigrid, que a observa com cuidado mas se cala ao notar o estado da loira.

Glykos não presta atenção a uma palavra que vem do professor, e aquela aula seria importante para os tempos de exames que se aproximam. Parece que vai ter notas baixas nesse semestre novamente.

Ela adoraria sentir tédio durante os dias em que passou sem Per, mas o tédio é um sentimento calmo e feliz demais para a agonia que aflige seu coração nesse momento. Ela gostaria de tirar aquela angústia e aquela dor no peito toda vez que lembra do vizinho e amante, mas é como se sua mente estivesse programada para a autodestruição.

― Não vai comer? ― Sigrid se aproxima dela na mesa do grande refeitório da escola. Lúthien se contenta em comer morangos congelados em vez das batatas com carne cozida diante dela.

Ela apenas dá de ombros diante da pergunta da morena e aproxima o prato dela.

― Não vou comer do seu prato. Apenas quero saber se vai comer.

Lúthien observa os olhos verdes como jades de Sigrid e sente um pouco de inveja da beleza da moça. Sigrid parece uma índia, com pele avermelhada e brilhante, cabelos lisos e pretos e seus olhos se destacam pela pele escura.

― Só os morangos já me sustentam. ― Lúthien responde secamente.

Sigrid se cala por um instante, assistindo a loira comer os morangos congelados sem muita vontade.

― Então... nós vamos para Bergen nesse fim de semana. Quer ir?

― Não, obrigada.

Mais silêncio constrangedor, mesmo que aquele refeitório estivesse cheio de adolescentes barulhentos.

Thora resolveu não comer com as duas garotas, ela está mais ocupada conversando com seus colegas de Segundo Ano.

― Lúthien, me desculpe se eu estiver me intrometendo, mas você e Pelle... têm alguma coisa? ― Sigrid decide arriscar o questionamento. Ela percebe que há algo entre os dois e isso tem a ver com o comportamento estranho de Lúthien. Na verdade, tem a ver com a viagem de Per.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora