76. Ele está no escuro

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Música recomendada: Comfortably Numb, Pink Floyd

Per sempre diz que não é humano, mas pensando bem, agora Lúthien que não parece humana.

Seu corpo se move automaticamente, e sua cabeça está em outros mundos. Como numa paralisia do sono. Como um zumbi.

Como um zumbi, ela anda por aí. Com uma quantidade questionável de remédios químicos fazendo efeito em seu organismo, ela está dopada, drogada. Nada tira a dor no corpo e estabiliza sua febre por muito tempo.

Seus músculos doem, seus olhos, sua cabeça, seu pescoço... o corpo está quente.

E onde ela está?

Na sede da empreiteira de seu pai. Trabalhando como uma assistente de contabilidade, ela ainda consegue ser boa em Matemática, mesmo que estivesse com fortes dores de cabeça e um sono arrebatador por conta dos remédios.

Assim que saiu do colégio, sua mãe a buscou e a levou à empresa de Håvard, como combinado.

— Lúthien, precisa ir ao setor de Marketing entregar esses papéis. Passe no Harald, do jurídico e peça o relatório de pagamento dos seguros. — o homem passa a mão pelo bigode ralo, tirando o suor dos pelos — Ah, e chame aquele nerd dos computadores, preciso que essa máquina funcione ainda hoje — Joakim, o contador responsável por Lúthien, passa as ordens de uma vez.

Exclusivamente hoje está sendo um dia bem atarefado, o que deixa a sua cabeça latejando há muito tempo.

— Sim, senhor — como um zumbi sem coração e sentimentos, ela obedece ao homem e sai da sala para cumprir os pedidos.

O prédio é enorme, com 9 andares e amplas salas. No centro badalado de Oslo, no bairro Grünerløkka, há uma bela vista para o rio Akerselva e ainda é possível ver as luzes noturnas vibrantes dos restaurantes e bares.

Lúthien lembra mais ou menos quando o seu pai estava reformando cada sala do prédio. As incontáveis horas de planejamento e decoração daquele lugar. As festas de inauguração e reuniões.

Sim, a família Quisling Glykos tem seu espaço na alta sociedade de Oslo. Sempre aparecendo em revistas e jornais regionais em diversas reuniões e festas beneficentes.

Håvard não gosta muito de expor tanto a família e ainda cuidou para que seus filhos não se tornassem mimados ou esnobes, preferindo a vida tranquila e simples numa boa casa de campo, bem longe da confusão da grande capital.

Ele fez um bom trabalho ao afastar seus filhos daquele luxo: Lúthien odeia Oslo.

Sente vontade de vomitar ao sair pelas ruas de Grünerløkka e sentir o odor vindo de lanchonetes fast-food. Ver tantos prédios a deixa tonta e o barulho de carros e ônibus a incomoda bastante (apesar de adorar carros). A vida em cidade grande não é pra ela.

Sem contar que não pode ter uma boa conversa com "colegas de trabalho", que têm poucos assuntos em comum com a garota. Planejamentos das próximas festas, encontros em bares, o novo drink do restaurante, a nova loja inaugurada, etc.

Estar ali só fazia a sua saúde piorar. O ambiente hostil e a forte cobrança física e mental.

O bom condicionamento de Lúthien mal consegue suportar as idas e voltas da febre, a fraqueza e as dores musculares. O pior de tudo é a sua garganta inflamada, impedindo-a de falar muito ou comer e beber bem, já que tudo o que passava por sua goela doía.

Caminhando e caminhando pelas longas salas e descendo pelo elevador, sua visão se embaça e tudo gira ao seu redor.

Mas ela continua a caminhar como se tudo o que importasse fosse seu trabalho.

O Violinista no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora