Elisa Warner

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Eu devia estar me sentindo feliz, devia me sentir realizada, porque depois de quase seis anos sem lançar nada, eu estava criando uma nova coleção! Mas eu me sentia tão vazia ao perceber que as pessoas superestimavam o meu lado criativo, em detrimento de todo o resto.

Desde a época da escola, eu era ótima com cálculos e interpretação, e ao mesmo tempo uma excelente desenhista e as vezes parecia que pra me enturmar, pra me tornar popular, eu devia ser menos do que realmente era.

Eu tinha tanta sanha de me enquadrar, de ser aceita, que aos poucos fui me adequando ao que queriam de mim, e optei por parecer "mais burra" pra me tornar mais sociável.

Mas em momentos como esse, em que eu encarava a minha imagem no espelho, eu me perguntava se tinha tomado a melhor decisão.

Eu sabia o que a maioria pensava de mim, que eu era uma artista brilhante, mas uma pessoa vazia. Eu sabia que me achavam frívola, mimada e até promiscua, mesmo que eu não tivesse um caso ou namorado há muito tempo. Ainda assim eu reiterava o que pensavam de mim. Eu tinha vestido aquele personagem há tanto tempo que nem sabia mais como sair dele

- Está pronta? - Perguntou Matheus entrando no meu escritório tirando-me dos meus devaneios diante do espelho. - O navio já saiu com o container. Agora é a nossa vez de pegar o voo para Milão.

Pensar que minha coleção estava num container indo para Milão me deva arrepios, medo de perde-los num tombamento de carga.

Observei aquele mala-sem-alça às minhas costas, sempre arredio! Era uma das pessoas que me tolerava porque não tinha outra alternativa.

Suspirei e apanhei minha mala no chão.

- O dia está lindo para um voo, não é, Mathews?

Percebi o esforço dele em se conter pra não me dar uma resposta atravessada.

- Você devia sorrir mais, está sempre com essa carranca no rosto! - ele me olhou atravessado e eu passei direto por ele, arrastando mala.

- Meu trabalho não inclui sorrir. - Ele apertou o botão do elevador. - Coloquei crédito no seu cartão de crédito. Tem 2 mil dólares para gastar na viagem. Depois disso estará livre de mim.

- Ah que malcriado! Confesse que vai morrer de saudades de mim

- Não mesmo. Você é a pessoa mais difícil de se controlar. - Ele me deu passagem para sair do elevador e seguimos para o saguão.

- Olha eles aí. - Disse Joshua ao nós ver, Evellyn sorriu para nós. - Eduard vai levá-los ao aeroporto. Eu e Evellyn embarcamos amanhã a noite.

- Tudo bem. Me avisem a hora que vão chegar que busco vocês.

- Obrigada por tudo, Eve! - afirmei sorrindo, eu me sentia mal pelas vezes em que fui maldosa em relação a ela, pelo modo como ela e Josh estavam investindo em mim.

- Nos retribua sendo a melhor !-Ele afirmou sorrindo

- Tenho certeza que será. - Josh me deu um tapinha no braço sendo gentil. - Nos vemos amanhã no hotel.

- depois de amanhã você quer dizer. - Matheus o corrigiu.

- Isso! - Os dois se abraçaram e seguiram para fora do saguão, deixando a mim e Eve para trás.

- Eu tenho certeza que você vai se sair muito bem, Lizzie! - Eve afirmou

-Estou me sentindo tão ansiosa, Eve!- afirmei- Tá batendo uma insegurança. Essa semana em Milão, vai ser um divisor de águas na minha carreira!

- Sim, vai! Mas, você vai se sair bem, eu tenho certeza!

-Eu não tenho tanta certeza assim!

-Ei o que é isso? Cadê a Eliza debochada, que não tem medo de nada?

FINO TRATO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora