Evellyn

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Ser prática naquele momento estava me dilacerando. Tudo o que eu queria era um tempo pra mim. Sentar e chorar, amaldiçoar o destino, me entregar a minha dor. Mas não dava! Eu tinha de ser prática ainda que quebrada por dentro. Por Josh e por mim. Com o acidente e o desaparecimento dele, eu sabia que haveriam muitos oportunistas que tentariam assumir o controle e isso era o que eu não podia permitir. Quando Josh voltasse, a empresa dele tinha de estar do jeito que ele deixou e eu garantiria isso. Naquela tarde depois de assistir a duas reuniões, eu me sentia exausta e quando Tom adentrou minha sala, eu só esperava receber boas notícias, mas a expressão no rosto do meu irmão não foi nada animadora.

— Encontraram os destroços da aeronave e dois corpos, Eve. — levantei apressada. — Um deles tem as características físicas do Josh. 

Senti meu coração falhar como se estivesse apertado no meu peito. 

— Ter as características dele não quer dizer que seja ele!— afirmei, tentando passar mais segurança do que eu realmente sentia.

—Temos de ir fazer o reconhecimento do corpo. Eu posso fazer isso com a Chris!  

— Não! Ele é meu marido, Thomas! Eu tenho que cuidar disso. Tom aproximou—se, beijando meus cabelos e me abraçou.

— Eve, você quer mesmo fazer isso? Eu preferia preservar você. — Eu tenho de fazer, Tom! E você vai ver, não é o meu Josh.

Tom emitiu um sorriso fraco e dentro de poucos minutos estávamos seguindo para o heliporto

Durante toda a viagem, eu me sentia fraca, e acabei adormecendo pelo estresse e o cansaço. Eu queria nunca ter de passar por aquilo! Deixamos o heliporto e seguimos para o necrotério.

Eu quase fraquejei quando adentramos o necrotério, e fomos colocados diante do corpo encoberto. Pela primeira vez eu perdi totalmente a esperança, até o lençol ser retirado de sobre o corpo e eu ver que aquele louro não era o meu.

A expressão de alívio em meu rosto não passou despercebida a Tom que me abraçou de lado.

— É errado eu me sentir aliviada por não ser o meu marido?

— Não, meu anjo! Só é triste porque é o marido de outra pessoa.

Afundei o rosto no peito de Tom e o apertei.

— Vamos achar ele vivo, Tom!

—Vamos, vamos sim!— ele beijou meus cabelos e esperou eu me recuperar

—Vem! —Tom me ofereceu a mão— Vamos pra um hotel e amanhã a gente vai pra casa.

Concordei com um abano de cabeça

Ao sair do hospital um homem moreno de fisionomia latina nós abordou, usava terno. — Sra. Grant? — Ele perguntou um pouco confuso.

—Sim, sou eu!— respondi

— Eu sou o motorista da empresa Grant aqui de São Francisco... Meu nome é David James. Eu estava a serviço no dia em que o helicóptero caiu. — Ele disse com pesar. — Será que posso levá—la para o apartamento dele aqui na cidade?

— Eu...— encarei Tom e meu irmão concordou.— Claro!

—Sabe por que o Joshua embarcou naquele helicóptero? É estranho, porque ele tinha a própria aeronave. - Tom perguntou curioso.

— Eu também não sei, senhor! Os rapazes o pararam a alguns metros e conversaram com ele. — David abriu a porta do carro. — Eu senti que ficou receoso, mas acabou embarcando.

— Quem foram esses rapazes?— perguntei

Aquela informação tinha me deixado intrigada

— Pareciam do escritório... Estavam uniformizados e com crachá. Fiquei ali esperando ele voltar e nada, até que um homem chegou falando sobre o acidente. Ninguém conhecia os homens que entraram no Helicóptero com Joshua. Não tinha registro, apenas de Joshua e o piloto. — David parecia tão perplexo quanto eu.

Tom e eu nos encaramos. Aquilo parecia realmente suspeito.

— Eu não vejo o Josh fazendo algo assim.— Tom afirmou

— Não sabemos o que foi dito a ele!— emendei

— Ele era um homem cauteloso. Eu devia ter ido com ele. — disse o homem com pesar. — sou ex— fuzileiro da marinha... a essa hora ele já estaria em casa.

— Ou você estaria na mesma situação!— Tom afirmou— Não se culpe! A equipe de busca está trabalhando com empenho. Logo vamos encontrar o Josh, vivo ou...

— Vivo!— interrompi Tom— Não me importa se esse helicóptero se partiu em pleno ar. Eu acredito que o Josh caiu no mar e a corrente o jogou em alguma praia. Vamos achar o Josh vivo!

— Todos nós gostamos muito do Sr. Grant! — ele sorriu triste e fechou a porta assim que entrei no carro.

Se acomodou no banco do motorista e nos levou para o apartamento de Joshua.

Assim que entramos no apartamento senti a energia boa do meu marido.

— Precisam de alguma coisa? — David ofereceu.

—Não! — o dispensei com um sorriso. — Obrigada por sua gentileza! Eu vou deitar um pouco

— Acho que você pode ir agora, David! Caso precisemos eu entro em contato.

— Estarei na garagem. — ele acenou com a cabeça e deixou a sala.

Eu não conhecia aquele apartamento do Josh, mas cada milímetro ali tinha a sua marca, a sua expressão. Era o apartamento de um homem solteiro e eu fiquei imaginando-o em casa pequeno espaço ali.

— Esse lugar é a cara do Josh!— Tom afirmou rindo

—Eu estava pensando exatamente isso.

FINO TRATO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora